29 dezembro 2006

SE TIVER... EU PREFIRO

se tiver amor que exija minha dedicação
e respeito ao próprio amor
que é pra ser respeitado
para construir parceria de amizade
e amor com carinho
e sentir gosto pelo inusitado momento
de descobrir-se
eu prefiro.

Vicente
.
.
.O imperador do futuro será um imperador de idéias."
(Wiston Churchill)
.
"

20 dezembro 2006

PARE, OLHE E VIVA - BENITO DI PAULA

Música

Composição: Benito Di Paula

Vi um caminhão tombado no meio da estrada
E a coisa ficou parada
Vi olhares tristes, quem seria
Olhar invocado, estacionado

Pra quê tanto aviso "não corra, não mate, não morra"
Pra quê?
Se quando o mal acontece
Ninguém sabe dizer por que

A carga do caminhão tombado no meio da estrada
Era como lágrimas
Da máquina quente esfriando, morrendo
Abandonada

Tente ajudar quem precisa chegar
Ligue a seta à esquerda, reduza
Esqueça essa pressa! Pode às vezes dar em nada

Olha o sinal, atenção!
Tem criança brincando, sorrindo
Seja prudente, humano
Tem alguém te esperando!
.
.
.

27 novembro 2006

A VOLTA

e havia o frio
porque era inverno.
porque o frio esbarrava na pele
e na medula
e o vento
era de cortar lábios
e pensamentos
trazendo aquela chuvinha
marota e fina
que interrompe a vontade
e balança o moral
ao penetrar em nossos sentidos
até deixar úmida e tiritante a alma.

a cidade me parecia mais escura
porque se apresentava cinza
e o cinza
no caso
era neblina
que escondia a ponte metálica.

as pessoas não acreditavam
no absurdo frio
de dez graus que
se atirara sobre o Sudeste
e no céu tão baixo no meio da cidade.

caía uma tarde
que só Deus para explicar.

tudo era cinza.

foi nesse quadro da natureza
e pesadelo
que aconteceu o impossível.
ela de volta.

volta
com todas as implicações
do substantivo
do adjetivo
do verbo voltar.

Volta mesmo.
assim
com maiúscula.

volta para ficar.
volta de chegar com malas.
volta de trazer sorrisos
e dizer que a natureza
está chorando por nós
(e que
é por isso que ela voltou).

então
milhões de vezes agradeci à natureza
por ter chorado
a ponto de ser percebida.
por ter chorado
pra me fazer sorrir.
.
Vicente
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" retratos agudos pregados no desejo gerundiam orgasmos de paixão escarlate..."
Loba

Continua aqui: http://www.corpusetanima.blogspot.com//
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15 novembro 2006

SE TIVER... EU PREFIRO

se tiver momentos de ver o sol
desaparecendo nas águas do mar
ainda que eu não more por perto
de perceber promessas
de adivinhar saudades
de evocar prazeres por sentir que isso é bom
eu prefiro.
.
Vicente
.
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.
"Maravilhas nunca faltam no mundo, o que falta é a capacidade de senti-las e admirá-las."
(J.Paul Schmitt)
.

05 outubro 2006

SE TIVER... EU PREFIRO

...Se tiver momentos de pensar
e ler
e fazer poesias inocentes
sem preocupação com as rimas
e ter momentos de ouvir melodias
de Caetano em Quarteto em Cy
e pensar na alma das melodias
a traduzirem pensamentos
e situações
e sonhos
e lembranças
e desejos
e projetos
eu prefiro.
.
Vicente
.
.
.
"Das coisas que eu mais queria, era saber por onde começar. O fio da vida se desenrola, embaraçado, cheio de nós, me envolvendo em teias rijas, muito mais fortes do que se possa imaginar à primeira vista..."
Ana Clara
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Continua aqui: ALÉM DO QUE SE VÊ
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03 outubro 2006

IDAS DA VINDA

o sol
terno
e doce como a pluma do arco-íris
banhava
sem ostentação
um corpo azul e dourado.

eu me entregava
à faina de mil
ou muito mais de mil vezes adorá-la.

por todos os cantos.
por todos os ventos.
por todos os ares.
por todas as frinchas.

tudo à volta era paz
como se vivêssemos
ou víssemos
campos de ovelhas e sons.

tico-ticos
tico-tiquetavam.
bezouros
com enormes narizes de palhaço
nos faziam rir.

ríamos.
ríamos de tudo e de nada.
nossas roupas
brilhavam espumas de sabão em pó.

sob as sombras das sequóias
(ou eram sobre
já que pisávamos nelas?)
que sequer conhecemos
dormimos sonhos desesperados de silêncio
e pétalas
despetalados.

acordamos aos pesadelos.

somos todos esses pares de lembranças
do que vivemos.

hoje os campos?
cinza.
.
.
Vicente
.
.
.
“E que minha loucura seja perdoada.Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.”
Oswaldo Montenegro
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02 outubro 2006

ENTÃO A AMIGA SE FOI

então a amiga se foi.
embarcou em seu sonho.

camarote de primeira.

seguiu viagem rumo ao paradoxo.
sorriu a vida
com a sinceridade que se esperava
dela
e se foi.

foi fácil chegar ao seu destino
que raras vezes imaginara.
partiu sem dizer adeus
de cara limpa
e nem havia férias.

passagem só de ida
para lugares
que nunca existiram.
sonhos do amigo mais amigo
não foram considerados.

amargas palavras
como flechas
tingiram em cheio o alvo.

vá amiga
seja feliz.
feliz
no que existe de mais nobre na palavra
no que existe de mais íntimo no significado.

amontoa informações
e emoções
com olhos ávidos do inédito.
seja bem ida nos sonhos que sonhou
e se cansar da estrada sonhada
seja bem vinda.

venha para o braço do abraço
que o amigo lhe reserva
volte
venha
que o amigo lhe espera
.
Vicente
.
.
.
"...Escolheu a palavra como defesa pessoal. Aprendeu a dar os primeiros golpes ainda na infância, usando seus cadernos-sacos-de-pancada, guardados no ringue secreto do quarto. .."
Fernando Palma.
.
Continua aqui: MEUS RASCUNHOS
.

01 outubro 2006

TRIÂNGULO

o não saber o que fazer
agir
pensar.

sentado
imóvel
estátua.

chegada em chegança repentina.
segundos seguindo-se.
tempo parado
no instante familiar da lembrança.
visões.

constrangidos.
todos.
mãos dadas.
namorado/namorada.
pregado à cadeira sem forças para levantar.
espera de reações que não vêm
por dentro
reações que se vêem na pele
nos nervos
no tímido esboçar do sorriso.

o amigo poeta.
a amiga poeta.
ajuda
socorro
levantar
abraço.

corações em desalinho
bocas secas
lábios em risco de denunciarem-se.
beijos no rosto
em cada face de carinho
com cheiros exatos de todos os cabelos
de todas as peles
pelas narinas oprimidas
a pesquisar odores
pelas pernas bambas
de sentir a emoção
dos reencontros em três
em trio
em triângulo
nem tão triângulo assim.
.
Vicente.
.
.
.
"...Levanta com os dedos frágeis uma de suas abas prateadas e com os olhos úmidos rastreia as pegadas que ele deixou na última nuvem de algodão por onde passou antes de sussurrar que ia para não mais voltar..."
Patrícia.
.
.
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.Continue aqui: MEU MUNDO FICARIA COMPLETO
.

29 setembro 2006

AQUELA AGRESSÃO

aquela agressão haveria de ser a última.
não há amor
nem amizade
nem carícias
nem lembranças
que deixem para trás o medo.

por isso
esse andar seguro e norteado
em direção ao centro
para que fique tudo às claras
na ocorrência.

registrado.

aquela agressão
haveria de ser a gota d’agua
que engorda a água
que recria a vida
que transborda o copo do amargo líquido
que sempre escorrera
que se esparramara
que desaguara desde sempre
em sua alma
em sua força de vontade
em sua fé
e até
em sua garganta.

aquela agressão
calou no fundo do seu peito
todos os efeitos do equívoco
de se sentir amada ou usada
de procurar objetivo
e encontrar derrota
nessas tantas rajadas
de chuvas e de ventos
em tempestades na sua vida

aquela agressão
seria definitivamente bem vinda
porque tivera o dom de despertá-la
para a reação da denúncia
e da coragem da fala

aquela reação
na hora lhe mostrara
que o amor não suporta a agressão
por isso ao sair da delegacia
estava convicta
de ter-se libertado da prisão.
.
Vicente
.
.
.
"O coração que trago no peito às vezes canta feito um pássaro cheio de amor e esperança canta do jeito de uma criança..."
Nilza
.
.
Continue aqui: PEDACINHOS DE MIM
.

26 setembro 2006

SE FOSSE POESIA...

encontrei você tão poesia
enredada talvez em absurdas rimas
por isso me fiz poeta
e me tornei criador
e me fiz palavras e frases
enredos e tramas
verbos e memória
linhas e veios de poesias.

pPor ser poeta não aceito preconceitos
ao contrário
acolho possíveis sonhos místicos.
bsco em você tudo da concretude da nossa realidade
ou nem busco
sei lá.

desmistifico conceitos
de tempo e espaço.
recito versos desse credo
que você me ensina.

não temos sonhos nem sonos
risos ou enredos
fugas ou voltas
mas percebemos luzes
e nossos amores são breves
ou não são
mesmo quando não os fazemos
porque somos poeta/poesia.

nosso repasto
é rico em letras
e palavras.
e assim nos fizemos íntimos
e nos movemos em nossas rimas frias.
.
Vicente
.
.
.
"Não abandone suas ilusões! Quando elas partem, você pode até continuar existindo, porém deixou de viver. "
(Mark Twain)
.

24 setembro 2006

IMPULSO

senti em mim o impulso
e a trava mais travada
a travar-me o desejo.

por muitas vezes senti vontades
de parar
de discutir
de te arrancar um beijo
só pra ver como é que a minha boca se comportaria
na tua.

e a trava que trava?
a pedra
o “mas”
o “talvez”
o sim e o não?
tudo e nada
a congelar-me a intenção.
.
Vicente
.
.
.


"...O segundo veio de um amor sorrateiro, que se apresenta sem pressa, num dia de mesmice, na coincidência de um sorriso. E então, sem explicações, ele cresce na quentura da madrugada e amanhece colado..."
Marcela Bertoletti
.
Continua aqui: Catavento e Cotovia

17 setembro 2006

AMAR-SE

deixe transitar a regência do verbo amar.
porque é vida na ida
é linda na vinda.

...ame
sem se preocupar
com a correta conjugação
do verbo procriar.

mostre-se em concordância nominal
em dissonância verbal
em pontuação sentimental
sem pensar
sem questionar.

apenas sentir.

sinta-se amada.
sinta a plenitude do toque
perceba-se tocada
até sentir
a ilicitude
do gesto.
.
Vicente
.
.
.
"...quando passo a língua no lábio sorvendo resto de beijo..."
Márcia (Clarinha)
.
Continua aqui: http://www.brincandocomclarinha.blogspot.com//
.

16 setembro 2006

E NEM HAVIA ESPELHO

ela perguntou se tudo estava bem.
perguntou por perguntar
porque estava só.
perguntou de si para si.
não se tratava de diálogo
mas
ao contrário
temia o desconforto
de estar falando sozinha
e até se perguntando.
e nem havia um espelho,
ora
bolas.

o sentimento de perceber
que as pessoas estavam indo embora
sobressaltou-a
incomodou-a
e questionou-se
ela própria
se não estava andando muito rápido.
voando alto demais.

no fundo da sua mente
lembranças hipócritas
movimentaram engrenagens
encarquilhadas
enferrujadas
e deparou-se com a
inexplicável colisão.

não podia se esquecer desses dias.
ali
metida no pijama
de flanelinha de bolinha
debaixo do edredon
preparando-se para assistir ao faustão.
e ninguém
ninguém mesmo
ao lado
que lhe desse a mão.
.
.
Vicente
.
.
"A razão insiste em me mostrar provas de que nada dará certo, mas a emoção é mais forte e me convence de que a paixão não tem uma forma pré-definida..."
FerNanda.
.
Continua aqui: http://www.onmymind.blogger.com.br//
.

11 setembro 2006

O ENCONTRO

e o silêncio se prolongou
por quase um minuto.
e o sorriso saiu como um arremedo
uma imitação
desleixada e mal acabada
de um imenso nada.

melhor seria
se não houvera o encontro
.
.
Vicente
.
.
.
"A distância mais longa é entre a cabeça e o coração. .."
(Thomas Merton

09 setembro 2006

NA ALCATÉIA

gosto das tuas ausências
como prenúncio de dias
de glórias
que se levantarão
em uivos de se ouvirem
de longes ausências.

da parte que me toca
eu gosto do sobressalto
de te procurar
em posts e delírios
de te encontrar
em saltos e cerejas e vidas
de damas e musas
que devoram
sem louvar a deuses
em clãs matriarcais
e em enigmas
de se encontrarem em dias
de prosas e poesias.

e quando calas por estar ausente
não se faz distante
porque te ouço em vozes
que não ressoam
e te vejo em olhares
que não enxergam
e te percebo em odores
que não te exalam.

e quando é noite de monitores
ainda mais te percebo
como se houvesses saltado
de sonhos
que compreendem sons
em polens
que distribuis em flores
e flores.
.
.
Vicente
,
,
,

08 setembro 2006

UMA DEFINIÇÃO

não adianta nem tentar fingir
porque eu percebi.

existe
sim
algo que me fascina em você:
são os efeitos do que realiza em mim.
das coisas mais óbvias
como a mudança
(no estilo das roupas)
às mais complexas
como o direcionar de pensamentos
gestos
dar-se
em
atitudes e sentimentos.

seu sangue brinca em minha veia
seus olhos me emprestam
minha visão e meu equilíbrio.

você circula
em mim
na minha corrente sanguínea
por isso ando me sentindo mais solto.
parece pobre essa definição
mas não tentarei outra melhor.
melhor não.
.
Vicente
.
.
.
"...Sou de pedra e palavras mais pesado que o ar..."
Wilson Guanais
.
Continua aqui: http://www.cemiteriodenavios.blogspot.com//
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05 setembro 2006

NUNCA TEVE

ela já estava desanimada
de sentir falta de algo que
nunca teve
mas sempre acreditara
que seria
ou poderia
ser agora
que estava perto de ter
para crer.
ocorre que o agora sempre ficava para depois.
e quando chegava (se chegasse)
o agora já era tarde.

quando saía de casa (se saísse)
perdia-se em devaneios
porque a cada esquina tinha pensamentos
sobre tempos que nem existiram
porque nunca existiriam mesmo.

pensamentos a esmo
de braços e abraços com a esperança
de encontrar logo ali uma voz.
e quando dava de cara com a realidade
perdia-se naquela dor aflita
ardida e atroz
de saber que aquilo que não tivera
mas houvera de querer
nunca havia tido
também
talvez
nunca haveria de ter.

Vicente
.
.
.
"Venham até a borda, ele disse. Eles disseram: Nós temos medo. Venham até a borda, ele insistiu. Eles foram, Ele os empurrou... e eles voaram."
(Guillaume Apollinaire)

04 setembro 2006

FICA PRA DEPOIS

ela deixou que seus cabelos procurassem
minhas mãos
e se deixassem flutuar
em meus sonhos
por entre pontos das nuvens
que cobriam o céu da cidade

mas também havia o asfalto
que faz a volta
logo ali
onde terminam as beiradas da areia.

Vicente
.
.
.

03 setembro 2006

NO MUNDO DO FAZ-DE-CONTA

então
faz de conta que você gosta de ler
o que eu escrevo.
vou então entregar-lhe o momento
todas as palavras
e até
a emoção
de perceber que me lê.

vou olhar com delicadeza
para notar que a palavra
tocará os seus ouvidos
seus diversos coraçõe
suas vontades ambíguas.

ouça-me com as mãos
porque é importante
para o instante
que eu lhe fale
e você me pegue
porque assim pode tocar o que falo.

escuta-me
porque sem isso
eu não me abriria o coração
para as escutas
que você precisa.

Vicente
.
.
.

"Já não sou peso incrustado no vazio núcleo do Grande Vôo, que infinito não tem começo."

Wilson Guanais - Renovação

Continua aqui:
http://www.cemiteriodenavios.blogspot.com/
.
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"Minha alma é feita de luz e trevas; nada de brumas. Ou faz bom tempo ou há temporal; as temperaturas variáveis são de pouca duração. "
(Victoria Ocampo)

02 setembro 2006

ALGUÉM QUE NUNCA FOI VOCÊ

e você percebeu que eu encontrei alguém.
alguém
que nunca foi você
e que eu levava em mim
na marra
a toda hora
na raça
no peito
sem que você soubesse.

assim: desse jeito.

alguém
que me fazia pensar
e que me mostrava o meu maior mundo
sem maiores contratempos
bate-papos
besteiras
asneiras ou rasteiras.

neguei sempre
essa presença em mim.
neguei ouvir os gritos
que soavam na mais louca
e desenfreada gritaria
que você quase já ouvia
e nem ligava.

a esses gritos eu digo sim.
e esse sim
simplesmente sempre
esteve em mim
e eu nem desconfiava.
.
Vicente
.
.
.

01 setembro 2006

QUERO

quero a vontade de extirpar o medo
de gritar
se necessário
de experimentar a vida
de perceber que a hora urge
e que por isso é bem desejada.

quero esquecer corações
e ânsias de vez
e acordar dos sonos (infinitos)
que limitam as ações.

quero descansar de mim
calar-me a boca
que de qualquer maneira
nunca fala
mesmo.
quero morrer
para me reconstruir
ouvir e rebelar
mesmo sem descobrir
a verdade
a vontade.

quero não precisar sofrer
até encontrar
a felicidade.

Vicente
.
.
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"Eu planto sonhos, colho vida. Mostro a alma cigana, faço amigos e quero conhecer suas estradas..."
Claudinha

Continua aqui: http://www.transmimentos.blogspot.com//
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31 agosto 2006

PARTIDA

um corte no peito
um deserto de sonhos
um grito nos ares
um poema à hora do almoço
um vazio na beira das palavras
um vendaval de angústias
um não-sei-o-quê de abismo
um ônibus que vai
um tédio de saudade que vem.

Vicente
.
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"Só essa fome que não sacia é que alimenta poeta e poesia."
Clauky Saba
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Continua aqui: http://www.arteemtodaparte.blogspot.com//
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30 agosto 2006

SONHAR NÃO É PROIBIDO - FÊ NOTÁVEL

Sonhar não é proibido,
Proibido é ficar acomodado...
Querer não é proibido,
Proibido é querer sem lutar...
Lutar não é proibido,
Proibido é passar por cima dos outros...
Amar não é proibido,
Proibido é ser possessivo...
Viver não é proibido,
Já que se pode amar!
(Fê_Notável)

Continua aqui: http://escritoshumanos.zip.net//index.html
.
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.
"

FLASH BACK II

( O Retorno)

parei
(completamente) a cidade.

por um instante apenas.

parei
para que eu pudesse nela descer
do meu mundo
(da minha melhor jaula)
fincar pé na lama doce do chão
e
lá de baixo
ouvir meu coração
(pensar estrelas)
músicas abafadas
risos histéricos
trilhas sonoras de histórias mal acabadas.


Vicente
.
.
.
"Debruço-me na sua ausência como se o vazio dotado fosse de ombros largos, cor, calor e pudesse me ouvir ao relento roçar o ponto mais sensível da imensa falta que você faz."
(Antonio Carlos Mattos)
.

29 agosto 2006

ÂNSIAS

a ânsia era de descobrir-se
acordara assim
sem ter ao certo um motivo
sem perceber significados
mas queria crescer.

sentia-se em despropósito
sentia sua própria existência
entalada na garganta
sufocando-a
espremendo-a
contra a mais infundada
das amarguras.

seu eu incoerente
spressava-se em desmascarar
o momento
a sede
a criança
que ainda resistia em seu peito.

uma coragem contraditória
mostrou-lhe a desvantagem
de seguir em frente
por isso continuou pequena.
por dentro.

Vicente
.
.
.
"Jogada
...Na obrigação de viver
preparo devaneios azuis
com paisagens de muitas asas,
atravesso a selva da linguagem
esmagando termos amargos
como se colhesse morangos
na boca dos dicionários...

Dora Vilela

Continua aqui: http://pretensoscoloquios.zip.net/index.html

Gente. Vocês repararam no "devaneios azuis"?
E aparecem uns "críticos" que dizem que não existe poesia no mundo blogueiro. Fala sério.
.

POESIA É PEDRA OU PÁSSARO - LAU SIQUEIRA

DEPENDE DO CHEIRO DO AR
Já estão demasiadamente gastas as atitudes ácidas dos paladinos(sauros) ditos (em seus grupitos) defensores da boa Poesia. Já não cola a defesa de um rigor "funcionário público qualificado" em contraponto a um esplendor bandeira, capaz de ir muito além da cloaca de uma erudição taliban. Poesia, não precisa de defensores! Muito menos de literatos capitães-do-mato. Poesia não precisa dos puns conceituais de fundamentalistas do verso livre ou métrico... Algumas almas penadas e alguns veículos (como o repugnante jornal Rascunho) extrapolam na estupidez, arrogância e vaidade. São cultuadores da própria patologia ética. Na verdade, a única coisa que preocupa os ¿valentes¿ defensores da nave vate, é a ascensão midiática de qualquer atitude libertária em contraponto a um lirismo-fardão, decadente e amargo.
.
Lau Siqueira
.
.
.
.
"...E a sensação que tenho quando escrevo é a mesma de quando estou nas cadeiras do Banco de Sangue...
Lau Siqueira

24 agosto 2006

UM POEMA PRA MIM

estou esperando um poema seu
você sempre soube
que sim
porque sempre ouviu meu grito
a lhe pedir isso.

meu grito não é doce
nem amargo
não está ao desamparo
da falta de ternura
mas se esforça para se fazer notar.

meu grito não atravessa
a garganta
minha.

seu poema talvez
acabasse
(de vez)
om esse pêndulo desnecessário
que me remete ao balanço do peito.

talvez alguma coisa que falasse
de esperança
viesse bem a calhar.

vê se escreve um poema
pra mim.
.
Vicente
.
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"...Sou uma pessoa que acima de tudo ama, ama alguém, ama a vida, ama a liberdade, ama saber amar..."
Márcia (Clarinha)

Continua aqui: http://www.brincandocomclarinha.blogspot.com//
.

23 agosto 2006

POEXISTO - CLAUKY SABA

existo porque insisto
e me desinvento
ao cair da tarde
sustento minha tese
em desventania...
descanso sincronia
se entre cronos e caos
existe um acordo
já não era sem tempo
filha da noite
me visto de céu
e me cubro de estrelas
...
Eu poexisto.
Cláudia - Clauky Saba
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.
.
.
"Quero morrer sendo cada poema em mim
pedaços de dor e ternura
enlaces de som e sutura..."
Clauky Saba
.

SOB A MARQUISE

triste espetáculo ao fechar do frio julho:
a família residente sob a marquise
de rua e calçada
da velha loja de tecido.
pai
mãe
filha
e o bebê aparentando meses.

o cotidiano trágico
dimensionado pela força do costume
nos leva a passar impassíveis
movidos pelo egoísmo de movimentos distantes
e neutros.
alguma moeda podemos atirar
mas é apenas o desejo
de nos sentir cumpridores dos nossos deveres de "irmãos".
principalmente quando tem platéia.
.
Vicente
.
.
.
"A resignação é um suicídio cotidiano."
(Balzac)
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22 agosto 2006

DANÇA IMPROVISADA

improvisada contra a luminosidade do teto:
uma silhueta de corpo.
corpo de nuvem
brisas do vento
cheiros da chuva
ruídos do silêncio.

dançam sons de acalanto
e eu nem me espanto em te ver assim
acima dos medos
acima dos credos
além das mentiras
aquém das verdades.

eu te improvisei em fantasias
quando te percebi o cheiro de hortelã
a cor da corola rosa
o balanço fresco das cadeiras ágeis.
afinal
sua silhueta recortada
reacende em mim motivos de poesias.
e assim termino
para não te deixar em maus lençóis.
.
.
Vicente
.
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"Poderão arrancar todas as flores, mas não conseguirão acabar com a primavera. "
( Lino J. Somavilla)

21 agosto 2006

EXPRESSE - PATY

Expresse a vida que há dentro de você
Expresse o brilho do seu olhar
Os seus sentimentos
As suas virtudes
A sua alegria
A sua raiva
A sua tristeza
A sua vontade de ficar só
A sua vontade de se aventurar
O seu medo
A sua segurança
A sua inteligência
A sua ignorância
O seu charme
A sua bagunça
O seu glamour
Sua obsessão
Sua ansiedade
Sua originalidade

Expresse o seu infinito jeito de ser...
...e assim você será Feliz!!!!!
By Paty.

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Continua aqui: http://tres-pontinhos.zip.net

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"Quando descobrimos a arte de fazer amigos, esta arte dá um novo e espetacular sentido a vida de seu descobridor..."

Paty

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08 agosto 2006

FELICIDADE - MÁRCIA DO VALLE

" Felicidade é acreditar na eternidade do que é efêmero. Como se fosse possível existir um beijo que dure para sempre e um amor que não acabe. Só que a vida não cabe num capítulo de novela. A duração é maior e sempre sobra tempo para o que é bom chegar ao fim. Sempre chega a hora de dormir, de dar o beijo de despedida, de descer do avião ou de acordar..."

Márcia do Valle.

Continua aqui: http://www.soltanomundo.blogger.com.br//
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"Quando, na vida, uma porta se fecha para nós, há sempre outra que nos abre. Em geral, porém, olhamos com tanto pesar e ressentimento para a porta fechada, que não nos apercebemos da outra que se abriu. "
(O S Marden)
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04 agosto 2006

ENIGMA?

serei saudades nas ausências que vierem
que atestarem que sou oculto
que ocultarem meus planos
que planejarem meus encantos

serei enigma nas saudades que chegarem
que desencantarem minhas esperanças
que desesperarem meus sonhos
que sonharem meus escritos

serei chegança nos enigmas decifrados
que decifrarem meus rabiscos
que rabiscarem minhas garatujas
que deixarem à deriva meus sonhos

uma saudade inoportuna de mim mesmo
eis o que serei
.
.
.
Vicente
.
.
"Somos donos de nossos atos, mas não somos donos de nossos sentimentos..."
Mário Quintana.

15 julho 2006

FIM DE FESTA

chegou em casa no meio da noite.
chegou e aproveitou a solidão
sem tentar entender
fatos
casos
coisas
cacos.

desmanchou maquiagens
descalçou sandálias
amassou lingeries
reviu sonhos.

visitou conceitos
(vividos)vívidos
e nem percebeu que a noite
era
a madrugada.
(já tão alta)
de não se ouvir música
tão baixa.

aproximou dela mesma
e foi pega pelo inesperado:
encontrou-se chorando
em plena festa pós-sentidos.

Vicente
.
.
.
"A poesia é a arte de materializar sombras e de dar existência ao nada. "
(Edmund Burke)

25 junho 2006

BUTTERFLIES - KARIN KUHLMANN




















Essa tem copyright.

Title: Butterflies’ bridal bed - Karin Kuhlmann 1996 - Photopainting Digital Photo Collage
Technique: Digital Photo Collage worked out with Kai’s Powertools and Corel Photopaint.
Awarded with Winner of the Month in the 7th Corel World Design Contest.

Continue aqui: http://www.karinkuhlmann.de/DigitalWorlds/Flowers/Butterflies/butterflies.html
.
.
.
"
"Mudanças

Não me diga que somos os mesmos de ontem. Posso acreditar que somos uma mutação constante. Não aceitaria a idéia de ser a mesma. Não poderia deixar de ser a evolução de um ser humano que busca sempre o melhor de si. A mesma nunca mais."
Cláudia (Oxigênio).

Continua aqui: http://leve1.zip.net//index.html
.

19 junho 2006

DE CIMA DOS SALTOS

todos os sentidos são sentidos
na loucura
são sementes de loucura.
a pele é trêmula
as pupilas se alargam
(em grandes olhos)
de prazer e de espanto.

os ouvidos procuram os sons.
boca pequena com sabor de fruto sazonado.
cheiros inebriantes.
todos os aromas da pele.
cabeça altiva.
elegante como pequena amazona
rebelde
cavalgando e cavalgada.
cavalgando encontros.
encontrando-se na cavalgada.
movimentos simétricos
nada domesticados
tudo clandestino
na sala espaçosa.

por aqui e por ali
alguns ruídos insólitos
a desmascarar a aparente calma
do aconchegante ambiente.

ritmo natural e seguro.
segura de si.
de cima dos saltos.
.
Vicente
.
.
.
" Vamos buscar perpetuação dos contatos corporais, pela antiguidade calorosa, pelos galanteios corajosos, pela poesia manuscrita em papel...
Continua aqui:
http://letrasecrystais.zip.net//

15 junho 2006

DELICADAMENTE TE PERCEBO

delicadamente te percebo
são minhas as tuas
são tuas as minhas mãos.
tenho o sono leve
e a conversa pesada.
aos poucos
durante a conversa
abres o verbo
desfias o lenço
esvoaças em rendas
de redes de algodão.

ajudas a prender-me
e nem percebes
minhas extremidades
meus braços sujos
que se abrem
em abraços para prender-te.

e eu te ajudo.
para que venhas
e me tenhas.
em tuas
mãos.
.
Vicente
.
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.
"Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo...
(Mário Quintana)
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10 junho 2006

DORMINDO COM O INIMIGO

esse ser mitológico que pernoita em Ti
atinge as raias do imaginário
quando
de janelas abertas
apareces nos meus sonhos mais medrosos .

extrair de imagens:

nebulosas centopéias
que escorrem
lisas
qual coristas
por entre os dentes do pente
em cabelos cegos
de não serem tocados.

camaleões de espumas
esferas de ovos
pássaros mal contidos
em suas sínteses
de assombramentos e sorrisos.

és tuas formas labirínticas
tuas várias possibilidades
de aprisionar-me.
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.
Vicente
.
.
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"O poeta é um mentiroso que sempre diz a verdade."
(Jean Cocteau)

07 junho 2006

GLOSSÁRIO

abandonado: “Não te quero mais...”
abismo: nada. ou nós dois.
plural: eu e você.
amores: assaltantes.
restante: “Não tenho coragem...”
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Vicente
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"O Poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)

19 maio 2006

SURVIVE 3D - KARIN KUHLMMAN


Clique na imagem para ampliá-la












Essa tem copyright:

Title: Survive - Karin Kuhlmann 1998 - Digital 3D picture, 3D-Computer Graphic
Technique: 3D-scenery, created with Poser and Bryce, digitally edited and worked out with Adobe Photoshop.

Continue aqui: http://www.karinkuhlmann.de/DigitalWorlds/3D-Images/Survive2/survive2.html
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13 maio 2006

SE TIVER... EU PREFIRO

e tiver macarronada
com sabor de domingo
com pedaços de queijo
parmesão
e molho
e puder ser família
e recolher todos os cacos de sonhos em mim
desses que sempre quis ter
tive
mas não retive
por quebradiços que foram
eu prefiro.
.
.
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Vicente
.
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12 maio 2006

ELA E A CIDADE

e o peito estava aberto
a se fazer ouvidos para ouvir
como em qualquer audição.
atento aos sons
(do todo e do fragmento).
foi assim que começou.

sei que estava confuso
mas havia um doce equilíbrio
entre olhos e paisagem
e rosto
e mapa da cidade.

compreendi seus cabelos molhados
seus acessos
suas esquinas
suas ruas
um pouco nuas
outro pouco iluminadas.

percebi seus excessos de menina
seus troncos e entroncamentos
suas escadas rolantes
seus montes
seus olhares intensos
seus castelos
seus congestionamentos.

não tive como evitar:
suas curvas prediletas
seus policiais sempre atentos
que me afastavam dela
e da cidade dos sonhos que era dela
que saía e que voltava para ela.

Vicente
.
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"O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler.
(Mark Twain)

05 maio 2006

03 maio 2006

A FUGA

O dia pode ter sido qualquer um, mas parecia que se parecia com uma sexta-feira. Tratava-se de uma sexta. Pegajosa e renitente. Embolorada e cheia de ranhuras na superfície. Foi nesse dia que ela fugiu do quarto-e-sala. Sentia-se vazia como uma esteira de praia em inverno com frente fria. Sua casa sempre lhe parecera fria, calculista, arredia, doentia. Deitara-se com as dores que a cabeça lhe emprestara desde que chegara da rua. Talvez tivesse adormecido profundamente. Talvez apenas ressonara.
Acordou e levantou a contragosto. Da janela escancarada divisou a cidade de cinza e frio.
Saiu descalça, pisando em cacos partidos dentro de si mesma. Saiu por aí a esmo, sentindo-se lerda de pensamentos paridos com esmero por uns sentimentos inexplicáveis. Quando se deu conta já encarava a boléia da rua descalçada. E havia vento, chuva, pedra e trovoada. Pilotava a contragosto seus passos descompassados.
Logo ali, depois do meio-fio, havia a avenida, havia a floresta feita de casas e asfalto e pontes, e viadutos, e farmácias, e vidraças, pensava que naquele lugar seus sentidos estariam à prova, à mostra, à vontade. Porque ali moravam todas as feras, imaginava.
Bateu os pés e não era de pirraça, ajoelhou-se no tombo doído de ferir joelhos e alma, e moral e percebeu-se tão sem-graça. Rezou, de joelhos sangrando, aos seus anjos e quase não se abriu em choro, mas não agüentou e chorou: todas as suas lágrimas, todas as suas mágoas, todas as suas pragas. Rezou aos santos guerreiros que estavam à sua volta, que se ocultavam nas dobras das suas roupas ou nas contas dos seus terços e colares. Rezou de mãos postas às suas santas benditas e esclarecidas que lhe esclareceriam se quisessem, mas não quiseram. Rezou que se fizessem presentes em fios de luz e calor naquela hora e se mostrassem perdulários com milagres diante da sua desdita.
Rezou para que se mostrassem rápidos e não a deixassem sobrecarregada com seus medos, seus temores, suas crenças sem entraves, que a libertassem de seus padecimentos mais graves, de suas grades interiores, que chegassem leves e a deixassem sorrindo em breve.
Por ter deixado tudo pra trás sentiu-se aliviada e liberta, livre e ligeira, ligeiramente liberada. Sorriu de si mesma e nem estava angustiada ao fazer sua última descoberta: vivera sempre presa numa cachoeira impensável de lágrimas e isso não a levara a nada.
Essas coisas chegando amiúde em sua mente, forçavam-na a adivinhar o que não ousava acreditar, porque não tinha coragem do gesto. Foi então que finalmente encontrou seu “eu”. Fortaleceu-se na falta de apoio que lhe ferira, mas tentara se fortalecer e se imaginou em toques que alguém lhe dera. E trocou o tempo verbal e pensou que alguém lhe deu (os toques) nos cabelos e era apenas uma quimera, um sonho, um ganho, uma perda, uma falha na mente incoerente.
Sonhara sonhos abstratos de toques concretos pela pele, pelo corte e pelos pêlos, pelos tantos despropósitos que passou, que viveu em vão, pelos nervos de ferro e pedra, pelos cubos de gelo que jamais deixaram de atingir seu coração.
Ousara pensar na fuga. Fugiu. Correu. Olhou. Parou. Pensou. Quando fugiu, correu de si mesma e não se encarou, não olhou pra trás. Correu, sentindo-se nua quando estava agasalhada, de saia e blusa e cachecol. E tinha luvas. E tinha botas. Mas estava descalça a se encarar em seu espelho quebrado.
Seu melhor utensílio estava a lhe esperar na praça e haveria de ser um cadafalso, também uma corda, um laço, uma trave, um espaço em branco embaixo da trave, um baque, um estalo, um abafo insosso no pescoço.
Ela ficara a imaginar porque se sentou em frente ao seu próprio cadafalso, sem perceber que estava ali na rua.
Se é fuga, perguntava-se, porque estava correndo de si mesma? Talvez para encontrar e desfrutar do seu próprio olhar. Olhar de esperança e de carinho, de se imitar um beijo, ou dois, ou três e até mais. Até se sentir olhada, acariciada, beijada de se enfastiar. Até descobrir sentidos para todas as suas reclamações. Até encontrar dentro de si um pouquinho de paz.
Suas vontades não eram de choro, porém de resistência. Mas deixou que ele chegasse sem resistir. E veio um choro que saiu em lágrimas, aos borbotões. Seus olhos, por vontade própria, se sentiram vazios das piedades, dos ressentimentos, dos cosméticos, dos bordões. Não havia, ali, qualquer sombra de iniqüidades.
As lágrimas corriam céleres e, como chuva, encharcavam o corpo doído, queimavam a alma, ardiam em ânsias de se encontrar. Quebravam o silêncio com um gemido espremido. E não se conteve: gritou como ostra para que se fizesse notar.
De pé sobre o piso frio já não havia dúvida quanto à decisão que deveria tomar. Balançava entre a renúncia e a astúcia, entre o querer e o desistir. Havia uma decisão e nem ela mesma sabia. Havia uma decisão desde sempre, desde que atravessara a soleira da porta, descendo escadas, alcançando a rua, correndo descalça, sentando na praça.
Queria ouvir seus passos atravessando a avenida, isso é certo. Queria perder-se em avenidas e poças e pregar peças na vida.
Seu olhar encontrou o vazio do pulo. Até o corrimão sentiu-se penalizado. Transtornada fez seu rumo inalcançável: calçada, amurada, pulo, vontade vencida. Não haveria volta. Não haveria mais nada. Estava afastada. Estava perdida.
E o salto, ressalte-se, não era assim tão alto, pouco mais que poucos metros acima das cabeças que passavam despercebidas, despreocupadas. Tanto que o baque surdo de corpo no asfalto, de corpo leve caindo, despencado, não foi ouvido nem mesmo pelas redondezas de camelôs, mendigos e que-tais. Somente ali poderia ser notada. Além e aquém do seu mundo de incertezas, com toda certeza.
Seu pulo só foi acompanhado por dois ou três garis que estavam a poucos metros dali, esperando a condução para os trabalhos forçados do dia-a-dia.
Havia sangue, mas a mancha, se fosse bem trabalhada, dava pra ser disfarçada. Foi encontrada envolta em denso silêncio sem flores, e tudo à volta estava molhado daquela garoa fina que estuprava a cidade. Havia se afogado em sonhos a poucos metros do nada, que era o destino da sua fuga desesperada.
Em sua homenagem talvez, por se chamar Maria, ou até mesmo por ser o horário mais propício, os sinos da catedral iniciaram o badalar das seis horas, enquanto o serviço de alto-falantes iniciava a melodia suave que encheria a avenida, a ponte, a calçada, a alma, a calma, a varanda, a zanga.
Sua cabeça ainda lhe doía quando, ao som do primeiro ou do segundo toque, acordara, meio satisfeita, meio contrariada. Seu corpo estava suado. Que pesadelo horrível, pensava. Vou tomar um banho e me esconder do frio.
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Vicente
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"Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior, com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos."
(Saint-Exupèry)

15 janeiro 2006

COADJUVANTE

porque quis ser o coadjuvante
o melhor amigo
e fui aquele
que foi preparado
para ouvir
tudo
e calar
e engolir
o sentimento
e não me engasgar.

fui eu o que abri
os braços
para o abraço
da chegada
e o que me transformei em
cúmplice
dos momentos
da situação mais sofrida
e fui
o que mais chorei
na hora
da despedida.
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Vicente
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