05 setembro 2006

NUNCA TEVE

ela já estava desanimada
de sentir falta de algo que
nunca teve
mas sempre acreditara
que seria
ou poderia
ser agora
que estava perto de ter
para crer.
ocorre que o agora sempre ficava para depois.
e quando chegava (se chegasse)
o agora já era tarde.

quando saía de casa (se saísse)
perdia-se em devaneios
porque a cada esquina tinha pensamentos
sobre tempos que nem existiram
porque nunca existiriam mesmo.

pensamentos a esmo
de braços e abraços com a esperança
de encontrar logo ali uma voz.
e quando dava de cara com a realidade
perdia-se naquela dor aflita
ardida e atroz
de saber que aquilo que não tivera
mas houvera de querer
nunca havia tido
também
talvez
nunca haveria de ter.

Vicente
.
.
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"Venham até a borda, ele disse. Eles disseram: Nós temos medo. Venham até a borda, ele insistiu. Eles foram, Ele os empurrou... e eles voaram."
(Guillaume Apollinaire)

Um comentário:

Wilson Guanais disse...

é porisso que eu não saio daqui.
daqui eu levo doces.

abraço.