13 dezembro 2008

CHAMA(RISCO)

...
ardia-me
do alto
das mais altas chamas
esse Amor
que se pronunciava
em línguas
que se atritavam
sem nada pronunciarem
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Vicente
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24 novembro 2008

A FUGA

(O Outro Lado da Poesia)

Ela fugiu do quarto-e-sala sentindo-se vazia
Pisando nos cacos que cortavam seu sentimento.
Sua casa fria sempre lhe parecera doentia.
Estava descalça e a rua era de chuva e vento.

Logo ali, depois do meio-fio, havia a floresta:
De casas, e asfalto, e pontes, e viadutos, pensava
Que naquele lugar seus sentidos estariam em festa
Porque ali moravam todas as feras, imaginava.

Rezou, de joelhos, aos seus anjos, e quase chora.
Rezou aos santos guerreiros e às santas benditas,
Para que se fizessem presentes naquela hora,
Perdulários com milagres diante da sua desdita.

Que entrassem rápidos e sem entraves
Em suas grades interiores, e pisando leve
Libertassem-na de seus padecimentos graves
E que a deixassem sorrindo em breve.

Quando ela fugiu, sentiu-se aliviada e liberta,
Livre e ligeira, ligeiramente liberada.
Acabara de fazer sua última descoberta:
Vivera sempre em lágrimas e fora por nada.

Foi então que finalmente encontrou seu eu
E se imaginou em toques que alguém lhe dera
E trocou o tempo e pensou que alguém lhe deu
(os toques) nos cabelos e era apenas uma quimera.

Os toques pela pele, pela cor e pelos pêlos,
Pelos tantos despropósitos que viveu em vão,
Pelos nervos de ferro, pedra e cubos de gelo
Que jamais deixaram de atingir seu coração.

Quando fugiu, correu na fuga e não olhou pra trás,
Correu, sentindo-se completamente nua
E se sentou em frente ao seu próprio cadafalso,
E nem percebeu que sentara ali na rua.

Na fuga ainda a esperança de sentir em si um olhar
Um carinho, um beijo, ou dois, ou três e até mais,
Até se sentir olhada, acariciada, beijada de enfastiar,
Até encontrar dentro de si um recanto de paz.


E veio um choro que saiu em lágrimas, aos borbotões
Até seus olhos se sentirem vazios das piedades,
Dos ressentimentos, dos cosméticos, dos bordões,
Até se livrar de todas as suas iniquidades.

As lágrimas, como chuva, encharcavam o corpo doído
Queimavam a alma, ardiam em ânsias de se encontrar,
Quebravam o silêncio com um choro espremido.
Gritou como ostra para que se fizesse notar.

De pé sobre o piso frio a decisão estava tomada:
Queria ouvir seus passos atravessando a avenida
Seu olhar encontrou o vazio do pulo, transtornada.
Calçada, amurada, pulo, vontade vencida.

E o salto, ressalte-se, não era assim tão alto,
Tanto que o baque surdo de corpo no asfalto
Não foi ouvido nem mesmo pelas redondezas,
Somente ali, além do seu mundo de incertezas.

Havia sangue, mas a mancha estava disfarçada.
Envolta em seus silêncios foi encontrada
Afogada em sonhos a poucos metros do nada,
Que era o destino da sua fuga desesperada.

Vicente
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"Desconfia da tristeza de certos poetas. É uma tristeza profissional e tão suspeita como a exuberante alegria das coristas."
(Mario Quintana)
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01 novembro 2008

ENCHENTES


derramei um pouco de mim
em você.
um pouco que não é um copo
nem taça
nem cálice
algumas gotas do mais puro eu
para não esquecer o que sou

foi o momento do adorno
do refestelar desejos vazios
preenchidos de presença e ventre
em meio aos cheiros e suores
e troca de essências
cujo codinome é DNA.

foram as gotas que me trouxeram
à memória abandonada
um riso de vento doce
que encurta distâncias
e faz nascer esperanças
de se voltar ao mesmo lugar
e novamente derramar
até que vire enchente.
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Vicente
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17 outubro 2008

OLHARES ERECTUS

passou por mim
e era como nuvem enfeitada de risos
leve e solta em tons de pele
dourados.

o “toc-toc” na calçada
era o encanto triunfante da evolução
do “homo erectus”.

caminhar
surgir do nada
sentir-se torpedo
com ares de gratidão por estar sozinha
enquanto passa
e é admirada.

quem viu?
quem ouviu?
quem sentiu?
tem perfume no ar
porque seu corpo tem um quê
que reproduz essências
de encantamento
e remodelação.
seu corpo revela
que o espaço que nos separa
aprisiona mais
que qualquer grade
de qualquer prisão.
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Vicente
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"Peito é peito, Coração é coração! Quando digo com respeito, num penso em peito não. Quando lhe puxo com força comigo, não lhe aperto o coração. Quando você me arranha, arranha o peito. Quando deita no meu peito, junta peito e coração. Só vocÊ pra unir com doçura; a carne e a emoção."
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Pedro Monteiro
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02 outubro 2008

SE TIVER... EU PREFIRO

se tiver macarronada com sabor de domingo
com pedaços de queijo parmesão e molho
e puder ser família
e recolher todos os cacos de sonhos em mim
desses que sempre quis ter
tive
mas não retive
por quebradiços que foram
eu prefiro.

Vicente
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"No meio do barulho e da agitação, caminhe tranqüilo, pensando na paz, que você pode encontra no silêncio..."
Desiderato - de autor de desconhecido

28 setembro 2008

CAVALEIRO ADIANTE

sou um ser solitário
e sem utilidade aparente
mergulhado
(armadura
escudo
espada)
no caos nosso
da modernidade.

minha lança ajaezada
flutua em busca
das minhas mãos
encharcadas de derrotas.
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Vicente
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02 setembro 2008

NAQUELE ESPELHO

ouvi um choro longínquo
refletido
naquele espelho que me encarava.

era o choro de alguém
que não estava ali
e não se identicava.
olhei um longo olhar de emoção fracionada
e os segundos se atropelavam aos milésimos
chegando às suas improváveis frações

quis sentir o descompasso daquele coração
as letras que sairiam daquelas mãos
as armaduras das palavras
o desfocar dos pensamentos.

tentei decifrar aquele eu
tão refletido
e me peguei introspectivo
sem entender a matéria
que preencheria aquela imagem
distorcida.

não havia frustração nem dor
nem tristeza
nem alegria

ocupei-me novamente
com o reflexo de choro
e percebi o espaço vazio
que havia em meu peito
desde que outro espelho trincou.
na verdade eu me transbordei
de um espelho
para conhecer outros reflexos.

agora
quem me conhece?

Vicente
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"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens? "
(Guimarães Rosa)

08 agosto 2008

CARAMIGA

e foi assim mesmo
como tudo que eu disse
e queria.
refiz as pausas em mim
esperando seus passos
seus descompassos
e você nem apareceu.

tive inevitáveis medos
e mais de
mil vontades de ligar.

tudo longe das inefáveis realidades.
fora/dentro das incontáveis possibilidades.

mas ainda me lembro daqueles dias
motivos da alegria
agora tão escassa

que grande faz-de-conta
nós desempenhávamos.

isso.

nós.

refletimos?
olhar/ouvir/sentir/largar?
foi essa a performance da mesquinhez.
e até hoje
nenhuma revelação plausível.
você entende.
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Vicente
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17 julho 2008

VOCÊ PRECISAVA SABER

você precisava saber
que eu permaneci intacto
humor inalterado
e que a raiva inicial
deu lugar a uma paz que perdura
até hoje.

você precisava saber
que quando você partiu e me deixou
em pé naquela plataforma de trem
prostrado
sentindo-me um jiló
e com pretensões de suicídio
a noite tinha apenas começado.

você precisava saber
que aquele buquê de flores
que você não aceitou
e que eu
como um idiota
insistia em segurar mesmo depois
de você ter me abandonado
foi meu melhor passaporte
para o amor tranqüilo que tenho agora.

você precisava me ver
saindo daquela plataforma
sorridente
mãos dadas
e feliz
cheio de esperança
com essa que aceitou de mim
a aliança.

você precisava me ver
quando abri seu e-mail
e não senti nada quando li
seu recadinho piegas
e cheio de erros de concordância
pedindo perdão
pela sua ignorância.
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Vicente
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"Às vezes as pessoas tomam algumas atitudes e não tem noção do que isso pode gerar nas outras, as consequências podem ser desastrosas, geram dor e tristeza ..."
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Deia
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15 junho 2008

SÃO HOMENS

são homens.
são palestinos de Nablus
Cisjordânia.
são homens.
ignoram o toque de recolher do exército israelense.
são homens.
saem ás ruas para comemorarem o atentado suicida
em Jerusalém.
Israel.

são homens.
o homem-bomba
um palestino de 16 anos
morreu.

são homens
cinco homens israelenses ficaram feridos.
são homens
sete homens israelenses morreram
são homens
dois deles tinham 5 anos de idade.
são homens
os outros cinco tinham apenas 2 anos.
são homens
a creche ficou destruída.
são homens?
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Vicente
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18 maio 2008

SEM TEMPO

sem tempo para escrever,
no entanto, o beijo eu trouxe...
beija-me, beija-me, beija.

sem tempo para cantar,
no entanto, a esperança está comigo...
cante-me, cante-me, cante.

sem tempo para divagar,
no entanto, o amor está por aqui...
ama-me, ama-me, ama.

sem tempo para perdoar,
no entanto, o grito se desfaz na garganta...
grita-me, grita-me, grita.

sem tempo para ter tempo,
no entanto vejo a luz no fim do túnel.
então vê.
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Vicente
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10 maio 2008

FLASH BACK

tanto eu tinha pra dizer
e ouvir
que acabei me calando
e tapando os ouvidos.

deu-se aquele silêncio
ousado
que me fez andar
pelas minhas ruas

descalças

descalço
e passei a entender
a nobreza do barulho
a necessidade do burburinho.

eu ando com fome de carinho
mas não me fiz de rogado.

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Vicente
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"decididamente não acredito em destino. A gente pode sim se desviar dele, mudar o curso. O problema é que nem sempre a gente quer, e fica arrumando um monte de problemas. Não precisava. Destino. É só dizer não. E seguir o caminho."
Cláudia - http://leve1.zip.net/
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"Não há poema em si, mas em mim ou em ti."
(Octavio Paz)

18 abril 2008

INÍCIO

ainda nada sabes sobre mim
por isso conto
em canto)
um tanto a ti
o que me reflita
e tu sorris
risos
fartos
doces
com cheiro de alecrim.

rodeiam-me as suas vontades
envoltas em farto querer
de que não se abram
(em mim}
as flores da timidez
e o encanto se faça perceber.
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Vicente
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31 março 2008

DESAFIO

meu grito
que doía na garganta
ainda engasgava
a traquéia entalada.

meu grito me doía
na saída.
meu corpo me aliviava
a revolta insensata.

recomeçar sem perceber
que se perdeu
olhar nos próprios olhos
sem se arrepender.

esmiuçar a bagagem
e retirar somente
o necessário para recomeçar.
esse é o desafio.

Vicente
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"Meus amigos, eu peguei o buquê, heheheheheheheh. No meio de tantas que se amontoaram pra pegá-lo, ele veio assim como se flutuasse ao meu encontro, ele fez uma curva pra chegar até minhas mãos, rsss...
Deia

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Continua aqui: http://www.muitomaisdemim.blogspot.com///

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09 fevereiro 2008

EU TE PERCEBO

eu te percebo
na colorida natureza
sem as necessidades monocromáticas
dos monitores que não te captam.
e nos altares erguidos
ao amor
que se faz insensato
pelo ciúme desmedido.

eu te concebo
sonho
de olhos que se fecham
no beijo longo
longínquo e demorado.
e nas poucas palavras
que trocamos
por segundos em células
de trânsito confuso
de toda manhã
pela cidade.
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Vicente
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09 janeiro 2008

PASSAGEM

quando o sonho das crianças
no sono mais puro
se refez
ele já estava de saída.

abafou trânsitos
de olhos mal dormidos
porque não havia o mútuo calor
que inspira poemas
que justifica a poesia.

quando recolheu o nexo da vinda
que a liberdade
outrora sufocada
promovia
já não havia a necessidade da metamorfose
de um para outro estado
(e ela também sabia)
nem daquele torpor
nem daquela letargia
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Vicente
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"É melhor ser leão por um só dia, do que um carneiro toda a vida. .."
(Sister Elizabeth Kenny).