ouvi um choro longínquo
refletido
naquele espelho que me encarava.
era o choro de alguém
que não estava ali
e não se identicava.
olhei um longo olhar de emoção fracionada
e os segundos se atropelavam aos milésimos
chegando às suas improváveis frações
quis sentir o descompasso daquele coração
as letras que sairiam daquelas mãos
as armaduras das palavras
o desfocar dos pensamentos.
tentei decifrar aquele eu
tão refletido
e me peguei introspectivo
sem entender a matéria
que preencheria aquela imagem
distorcida.
não havia frustração nem dor
nem tristeza
nem alegria
ocupei-me novamente
com o reflexo de choro
e percebi o espaço vazio
que havia em meu peito
desde que outro espelho trincou.
na verdade eu me transbordei
de um espelho
para conhecer outros reflexos.
agora
quem me conhece?
Vicente
.
.
.
"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens? "
(Guimarães Rosa)
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