09 setembro 2009

VONTADE DO RISO


Havia a vontade do riso quando a madrugada acariciava mansamente a noite. A moça. E o moço. Pulsações nos poros das estrelas que se comunicavam. Todas as conexões levavam a uma  brecha nos mistérios. Não sentiam transeuntes, não escondiam desejos. Fuçavam histórias desconexas que sobre eles se esparramavam desde longínquos idos. Muitas entrelinhas insuspeitas. Revelações de lado a lado. Imperceptíveis sinuosidades do tempo. E Ele lá.
  Coisas bonitas de se ouvir, de se lembrar, de se falar, de se desejar. Um pouco/muito sem rumo, sem programação, sem propósitos (também não havia o despropósito), sem meias-intenções, sem más-intenções.
Quase uma festa para os sentidos, quase um sonho para a pele, quase um roçar de lábios, um estreitar de línguas, um tocar de dentes, um apertar de mãos (e também tinha: pés, braços, pernas, e tudo o mais que se pode e se deve tocar). E os afagos tinham uma candura quase infantil, mas também uma vertigem alucinada que pedia o bailar fantástico de memórias que se reatam em lembranças conexas. E Ele lá.
A noite já vai pra lá de alta quando Ele resolve interferir em um ou dois destinos. Lança luz sobre a escuridão. Modifica estruturas. Abre olhos. E se faz entender. Mostra que ali, naquelas histórias, Ele tocou. Que ali tem as marcas do Seu dedo. Reclama de volta a posse sobre sua propriedade exclusiva e diz: são escolhidos meus. Foram separados para falar da glória do meu grande nome.
E assim, por tempos e tempos, falou-se de tudo. Falou-se de leite condensado. Pudim de leite. Família. Táxi. Igreja. Oração. Palavra. Bíblia. Cunhado. Sobrinho. Malhação. Suíça. E outras mil novecentos e poucas coisas que versam sobre o tudo e sobre o nada. Também tem constelação (que é motivo mais que suficiente para se conversar por horas, se preciso).
Assim seguiu o dia grávido de luz.
E aquela poesia, que para mim, muitas vezes era a única companhia, por ser colo e canção de ninar, renovou-se em carinho e afago do ego para mostrar que almas gêmeas existem. Ou, se quiser ser contrário: metsixe saemêg samla.

09 abril 2009

PONTO PRAS MENINAS




não quis falar
nem sequer pensei no que havia
pra te dizer
porque ainda não sabia como
nem o que dizer.
tenho isso comigo
é meu jeito
é meu modo de ser
de intercalar tagarelices
com longos silêncios.


ouvi de mim os segredos que ousara sonhar
na mais crescente confusão de sentidos
como em qualquer outro momento
mas não compartilhei as idéias
só as sedes e fomes dos amores
das irisadas ilusões mais ousadas
(que não ousara revelar)
por isso me calei
por isso me retirei.


e minhas idéias quedaram-se como estradas
de uma via só
de ida sem vinda
como vontades sorrateiras
que preferi ocultar
como monólogo recitado
no mais completo ermo
para não se espalhar.

agora aplaudo minha decisão
de voltar
porque te conheci
tão cálida
tão sentida a beijos e doces
igualzinha ao que eras
mas
muito
muito melhor.
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Vicente
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"Às vezes as pessoas tomam algumas atitudes e não tem noção do que isso pode gerar nas outras, as consequências podem ser desastrosas, geram dor e tristeza ..."
Andreia Vask
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14 março 2009

ACHADOS E PERDIDOS - GONZAGUINHA

MÚSICA
Artista: Gonzaguinha

Quem me dirá onde está
Aquele moço Fulano de Tal
(Filho, marido, irmão, namorado,
que não voltou mais)
Insiste o anúncio nas folhas
dos nossos jornais:
Achados, perdidos, morridos,
Saudades demais.

Mas eu pergunto e a resposta
é que ninguém sabe
ninguém nunca viu
Só sei que não sei
quão sumido ele foi
Sei é que ele sumiu

E quem souber algo
Acerca do seu paradeiro:
Beco das Liberdades
Estreita e esquecida
uma pequena marginal
dessa imensa Avenida Brasil.
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20 fevereiro 2009

CONGESTIONAMENTO

CONGESTIONAMENTO
CONGESTIONAMENTO

cá dentro

intenso
um trânsito de intenções
QUE TEIMA
em desmascarar
a calma aparente
do ambiente.
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Vicente
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29 janeiro 2009

O CIRCO CHEGOU

seguro tuas mãos
em silêncio
arredio
perto das luzes
refletidas
do tablado
e do picadeiro
acima do brilho
incandescente
refletido em mim
quando e
como
rio
se ris
às gargalhadas.
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Vicente
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" ...As coisas não deviam ser assim. Por ele eu lutei, por ele eu amei. Mas tudo se acabou na roda gasta do dia-a-dia, que fez virar tudo pura rotina, e me deixara cansada daquela vida, daquele amor..."
Arethuza
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11 janeiro 2009

APENAS PARTE

...mas os cômodos aos quais
nos remetemos
transformaram os (mais) improváveis sonhos
em doces realidades
de afagos e espelhos

ao alcance do olhar
para que
perpetuassem em nós
a satisfação dos
(insuspeitos)
desejos.
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Vicente
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"Amo: música cantar alto meia com chinelo dormir de meia pintar esmaltes costura cinema jogar conversa fora filmes românticos artesanato"
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