23 dezembro 2007

PRESENTE

eu te presenteei
com aquela manhã
imensa
e logo em seguida
me roubaste
uma tarde
que já me consolaria.

agora
só tenho essa noite
que teima em não amanhecer.

também
já sei
que não haverá madrugada
nenhuma.
.
.
Vicente
.
.

06 dezembro 2007

CALÇADAS



eu lhe encontrei
ao abrir-se
de calçadas
e supermercados
conforme o combinado
com os nossos destinos.

encontro.

trouxe chegança de espera
em mim
e me vejo de braços
com a saudade.

você chega e traz a lembrança.

rima fresca
e boa
para
esperança.
.
Vicente
.
.
.
"A vida se mantém um enigma, apesar das tentativas milenares de explicações, justificativas, esclarecimentos, elucidações. .."
Dora Vilela

.
publicado originalmente em 06/02/07
.

08 novembro 2007

PELAS CALÇADAS

sozinhos.
alguns poucos momentos
de olhos nos olhos.
certamente muitas perguntas
caladas
esperando.
algumas perguntas exatas
com receio de explodirem.
mas nada
nada além de encontro.
exceto o encontro.

caminhando sem cobrança de ligar.
sem intenção de escrever.
sem números.
sem endereços.
é possível que seja sábado.
mas ninguém liga para datas.
.
.
Vicente
.
.

02 novembro 2007

TAMBÉM VOU SER POETA

também queria viajar
ir e ficar
em pasárgada (sei lá)
e pelo estatuto do poeta
tenho direito a pagar meia passagem
e o pagamento será feito em gramas de sonho.

rompendo as ânsias e lá chegando
tenho direito ainda
a fixar residência
onde bem me aprouver
desde que haja cachoeiras por perto
e libélulas gritem cantos
como cotovias
e sabiás saibam seus ninhos nas palmeiras
e que explodam girassóis
desde o mais tenro início de inverno
que não poderá ser
nem muito frio
nem muito distante.

não quero que haja reis
e sim princesas
e rainhas brotem aos cachos
como pingo-de-ouro
e se deixem ser amadas
por seus cavaleiros errantes
assim como eu.

e quando eu voltar às realidades daqui
quero ser reconhecido
pela minha eloquência embandeirada
e pela alcunha de
“poeta, o audaz”.
.
.
.
Vicente
.
.
"...No incessante trabalho da escuridão
remove quantidades cósmicas
de nada
para que tudo
seja revelado."

Marlos Drumond Villalba

.
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27 outubro 2007

IDA E VOLTA

tem de tudo um pouco
de cada um
em um
em dois
em nós.

cada um de nós
de dois
de um
de sempre todos
como se sabe
sem par...
sem ímpar
sem primos
sem números.

temos um motivo único
único motivo: amar.
faço
meu próprio papel:
poetizar.

amar não é só juntar
nem mesmo separar
juntar/separar
é descrever o possível
dizendo impossível não notar.

nos olhos
olhares
nas bocas
teus
beijos.

na canção exígua
difusa
sorriso confuso
confundida
minha
mistura
tua,
não minha
amante
tirando
feliz cidade
de propósito
soltando
bastando-se
bastante bom
o que se basta.

não o bastante
bastando apenas
um presente
um passado
um futuro
tudo
misturo
embrulho
entrego o que resta da sorte
e tudo:
o restante.

e feliz se faz
de feliz-cidade
muda
mundo
mudo
sou
eu
em você
romance mudo
ausente
aqui
presente lá
presenteando cá.
passando acolá.
futurando em breve.
.
.
.
Vicente
.
.
.

30 setembro 2007

UM FLAGRANTE

porque houve a vontade de escrever
e guardar o instante
que se fazia em palavras
emoção
risos
e cuidados para que ele
não desconfiasse.

e as tantas frases
que permaneceriam ocultas
foram identificadas e traduzidas
e descobertas
as formas das imensas delicadezas
com que nos tratávamos

o descuido que tirou o escudo
dos instantes de cuidados
e quebrou as barreiras
do pecado oculto
custou-nos esses muitos
sofreres
com os quais agora nos remoemos.
.
Vicente
.
.
.
"in finita mente
(a partir de um "conceito" desgastado)
os seres
as coisas
tudo perecível
não cabe no instante
o amanhã:
é imenso.
.
Wilson Guanais
.
.
.

24 setembro 2007

ESPETÁCULO VIVO! - (Van Luchiari)

A vida que eu finjo é um circo.
E eu, palhaço de mim
dispo-me de todos os sorrisos
no calar do camarim.
No picadeiro da alma
eu domo as minhas feras
E o meu espírito despeja
todas as suas esperas.
Equilibrista de saltos
penso que existo:
Malabrista do acaso
Domador de sobressaltos.
O trapézio me leva tão alto
para cima e além das vidas rasas.
E sem pesar eu me jogo no espaço
que fica entre o chão e minhas asas.
Olhos incríveis me habitam e seguram.
Mãos secretas me equilibram e curam.
E no momento do salto
Agarro-me a mim mesma, enfim.
Cravo as unhas no meu sonho.
Reconheço o sorriso em mim.
Dispo-me da máscara.
Entrego-me ao real.
No picadeiro do meu ser
O espetáculo não tem final.
.
Van
.
.
"Hoje eu te trago um prenúncio de primavera prestes a explodir.Há um cheiro de orvalho no ar, sente? Nem a secura daqui de minha terra impede o perfume de entrar e inebriar...."
.
Van Luchiari
.

19 setembro 2007

OLHARES SAPIENS

quem viu passar?
eu vi
e sorri sonhos desmedidos
em sonhos de se ver
com olhos abertos

porque trazia
a alma da palavra ver
a calma da vontade de ter
e sentir
que vai ali e não volta
que vai além e fica
por lá
e sabe-se que não vai voltar

quem viu passar?
só eu
porque encarei
a ida
e os calcanhares calçados
de saltos
e aconchegos
em espaços diminutos
entre a sola e o salto.
esse meu olhar é sábio.
.
Vicente
.
.
.
"...Assim, quem sabe, meu amor que não me vê, embalado na beleza desse lindo versejar, olhasse para cá e se pusesse a admiraro ritmo, o verso, a músicae entendesse, nas palavras que escreveria, o amor que nestas rimas pobres, não consegue enxergar..."
.
Saramar
.
.
.

12 setembro 2007

PEDIDO

fui o primeiro a dizer-te as palavras

que te abriram as portas

os vértices

os ângulos desnudos

que te vasculharam os íntimos momentos

do encantamento

mais desejado.

fui o primeiro a ousar-te carícias

em pêlos

que

escondidos

sonhavam ousadias

de beijos salientes e imorais.

fui o primeiro a bendizer-te o gozo

vertido no mais puro linho

enriquecido pelo aroma

da entrega

e sabor das descobertas

apaziguadas.

sou o primeiro a enlaçar-te

a alma

e pedir-te com calma aparente

e cheio de esperança:

aceita

essa aliança?

.

Vicente
.
.
.
"

"...Por vezes é melhor um sincero afago

Que um beijo ardente e amargo

Sem amor

Sem ardor

Um momento mentiroso

De prazer e calor.."

.

Rafaela Silva Santos
.

06 setembro 2007

CLAREIRA - (La Zingarah)

Sou folha e seiva,
acre e adocicada,
talho transversal que não quer ser compartilhado.
Vertigem inata, olho de cachoeira,
friagem que amola a cadência do coração.
Perturba-me a falta de tantas coisas e
o excesso cansado daquilo de que não preciso.
Vou e volto. Prefiro o silêncio às vaidades destrancadas.
E você, oculto sob si mesmo,
o que vem procurar aqui?
Tenho palavras aquáticas, tão molhadas,
que submergem sem cessar.
Se lhe apraz esta clareira de gritos nítidos,
venha sempre que precisar.
.
Zingarah
.
.
.
"Como seria estar absolutamente só na face da Terra? Um susto, uma falta de fôlego, um aperto no coração? ...
.
Zingarah - (Rouge)

05 setembro 2007

CAMINHOS

sua língua
é preliminar
das preliminares que ensejam desejos
afogueando-me os sentidos
quando roça minhas orelhas em sussurros
descuidados/estudados.

cada coisa a seu tempo
como a abrir-se em velas desfraldadas
a receber-me em aconchego
que prenuncia gargantas afoitas.

são polens a serem sorvidos
em cada gota
que pinga do mais orvalhado
deleite.

descobrindo
os vértices invertidos
a receberem os ligeiros
passageiros que se perdem
em descidas alucinantes
a formarem novas formas
de se mover
em direção ao prazer.

.

Vicente

.

.

.

"...Mas a ampulheta da vida deixou escoar as areias do tempo e seus olhos cansados não a viam mais. Distorceram suas canções e sua voz chamou-se maturidade..."
.
Claudinha

.

31 agosto 2007

CENSORED

porque meus lábios prenunciaram
a tanta batalha de ser contrário
ao cérebro
que insistia em afirmar
que não
que o momento não se fazia preparado.

quedaram-se então
lábios
(e pensamentos)
apressados em ânsias
de tanto se entregar
à procura dos arrepios
dos movimentos desconexos
dos prazeres da pele
(e do corpo mais profundo).

refeitos do susto
(causado)
pelo descobrir o momento
de encantamento
e de louvor ao prazer
quem passou a dar ordens
ao cérebro
que se fizera tímido
foi a um só tempo
lábios e mãos
que
despudorados
não se permitiam censuras.
.
Vicente
.
.
.
" "A lua fascina, mas o amor é bem mais concreto."
"Por sua concretude, é muito metido! Vai chegando e fascinando..."
(Esyath Barret)
.
“A sorte escolhe cada nome por acaso.”“Mas o que é sorte?Nossas escolhas ou nossos destinos?”
(Esyath Barret)
.
"A essência do amor, está na magia da vida".
(Esyath Barret)
.
.
,

DESPEDIDA

semblante saudoso de quem dorme pela espera
de quem espera pelo sonho
de quem sonha
pela madrugada insone
de sala e caderno.

mãos delicadas em torno da caneta
a dialogar com o papel
com o tempo
com a pouca chuva
de estrelas que azulam o céu.

corre
célere
o pulso que pulsa
em busca do encontrar-se
do enclausurar-se
em adjetivos
suspiros
devaneios.

rosadas
as faces
desfazem a impressão
de morte.

por fora é fogo que arde
por dentro
é vida que parte.


Vicente
.
.
.
"...Há corações que ainda não sabem expressar seus pensamentos, seus sentimentos na poesia! O meu é um que vive tentando, mas às vezes não consegue encontrar as palavras certas para deixar a poesia mais encantadora..."
Arethuza
.
Continua aqui: http://www.mundoliteral.weblogger.terra.com.br/
.

03 julho 2007

FLAGRADOS

não podia estar lá
quando queria estar aqui
nesse jogo de abraços
que anseia pernas tocadas
no risco de sermos descobertos.

não ousara dizer não ao momento
ao encantamento
ao toque de Midas
que transforma
o cinza da frente fria
em dourado
de calor generoso.

são bocas sabendo a graça
de se esconderem
uma na outra
uma pra outra
na exploração
que não conhece fadiga
e não suporta a tirania
dos ponteiros
dos relógios.

por isso o escorregão
no atraso
que denunciou os cheiros
e as perguntas
sem respostas
sem explicações.
.
Vicente
.
.
.
"... Todo poeta é aprendiz de si mesmo, em busca de uma pegada íntima, e escreve para oxigenar a alma. Afinal, são todos sementes, e sabem que precisam ser flores e frutos, para recriarem, para sempre, a eterna primavera cósmica..."
.
Silas Corrêa Leite -
Excerto do seu poema "Estatuto do Poeta", que você pode ler na íntegra na página da Casa da Cultura. (Esse trecho faz parte do Artigo Décimo-Sexto).
.

15 junho 2007

REMARIA (PEDRO MONTEIRO)

Conforme combinado com o poeta e amigo Pedro Monteiro, vou reiniciar a fase de publicar poemas, poesias e textos dos amigos aqui em meu blog.
Quem me acompanha desde 2005 sabe que já passei pela desagradável experiência de refazer meu blog devido a alguns contratempos provocados por alguns anônimos invejosos.
Com mais cautela pretendo inaugurar um novo tempo e para isso desejo a colaboração de vocês.
Quem for contrário à publicação de seus trabalhos (juntos com os meus) em meu blog, com todos os créditos, etc... etc..., manifeste-se, por favor.
O início vai ser esse excelente "Remaria" do Pedro, que eu considero um dos melhores.
Na caixinha de comentários, manifestem-se quanto ao conteúdo da poesia do Pedro e, por favor, se são contra, afirmem que não querem ver seus trabalhos publicados aqui, e que o atual esquema de apenas pequenas citações, como tenho feito, já é suficiente, ou digam se são contrários também a esse esquema.
OK? Conto com vocês.
Doces.
.
Vicente
.


Remaria


Remaria no mar é o passar do dia

Remaria é re-ser a mãe da poesia

Ver por cima das ondas o sol nascer

Uma onda atrás da outra, uma manhã atrás da outra

Remaria noite e dia.



Ver no fundo após as ondas, onde o mar é calmaria

É ser o mar dentro e a areia fora

Onde a vida partiria



E às vezes ver a praia como partida

Na maré salgada e tarde ardida



É ter de chão a areia

E ter de lar a maresia

Remaria, remaria.
.

Pedro Monteiro
.

COMEÇAR CHORARE

do que vivemos
sobraram o que começamos:
o carinho
o cuidado
a pouca vontade de deixar
tudo de lado.
sobraram atos e fatos
consumados
conversas esquecidas e
não retomadas
devidamente não esclarecidas.
sobraram a censura
a falta do bom senso
a falta de enredo
de opiniões
de desapego ao antigo.
faltaram
a coragem para recomeçar
o carinho que devia continuar
e sobretudo
a vergonha por deixar
tudo acabar.
.
Vicente
.
.
.
"El Baile
Meus olhos se desencontram na paisagem interrompida. Não há continuidade, em nada, em lugar nenhum, senão no perfume que o ar transporta. Na íris que se desdobra sobre o dia. Estremeço, torpor e prazer impelindo-me a dançar entre os instantes fragmentados. E danço, porque isso faz levantar a poeira dourada das horas, e descobre movimento onde reinava a quietude inteira..."
.
.

13 junho 2007

DESCULPE, FOI ENGANO

o tempo rompido e cicatrizado
imprime louca cadência
em minha vida

e quando menos espero
já é tempo

de outro dia

já é aquele lugar
de desassossego
e lençóis amassados.

dalgum lugar repentino
a campainha rouca
abre espaços em meu sobressalto

de acordado sonambúlico
que tateia

em busca de um telefone mal instalado
à cabeceira.

após o “alô” de praxe
teimando em entender o que está acontecendo
do outro lado a voz

sobressaltada: “quem fala?”
após irresoluta indecisão afirmo
meio sem convicção:
“é o vicente...”

“desculpe
foi engano”

tumtumtum...

.

Vicente

.
Hoje não quero um texto bonito.Nem quero me preocupar com rimas ou concordâncias, só quero dizer que estou sentindo a sua falta.Horas já não são suficientes e a despedida se tornou insuportável.

.

Rosângela.

11 junho 2007

LENCINHO

era um lencinho branco
de algodãozinho vagabundo

irrisoriamente vagabundo
e barato
acrescentaria eu.

pois foi com ele que acenei
esfuziantemente
e ela me percebeu
no meio da multidão

retribuindo o aceno.

daí a importância
emprestada ao meu rico lencinho
que guardo qual tesouro
numa caixa
com naftalina.
.
.
Vicente
.
.

10 junho 2007

TARJA PRETA

minha trajetória
(acidentalmente)
acidentada
não me deixa esquecer
da falta que a sua (grave) voz
faz
aos meus ouvidos
já entediados
de tanta ausência
a pedir em mim
um remédio
controlado:
você.
.
.
Vicente
.
.
.
"E como em um passe de mágica suas palavras tomaram o lugar dos beijos e das carícias dele..."
.
Nanda
.

06 junho 2007

CADÊ ALESSANDRO?!?

(BARILOCHE II)

não tem
horário de verão
por essas latitudes temperadas
a nos acusar
que daqui a pouco desaba a noite
(pelas cachoeiras do tempo.

parado à beira do nada
que antecede
a semi-escuridão vulgar
já me precavia dos efeitos do etílico
que (com certeza) viriam
quando
à queima-roupa me perguntam
em belíssimo espanhol se:
“usted es Alejandro?”.

ainda assustado
pela aparição de beleza
tão esguia
arrisco
meu envergonhado portunhol
e digo que “no”
e
tantas besteiras “más”.

...só quando rompia a manhã
estrangulando a madrugada decadente
demo-nos conta da incoerência do encontro
que nos levou a esquecer diferenças
de idiomas
para conferirmos
nossas línguas
simplesmente...
.
Vicente
.
.
.
"Sintonia
o poeta às vezes deixa o Poema escrever-se. o Poema às vezes deixa o poeta escreve-lo."
.
Wilson Guanais
.

04 junho 2007

SONHO DA PELE

minha pele

sonha

seus toques morenos

repletos da imaginação

de

chuva

em dia de sol

de verão.

.

.

Vicente

.

.

" O futuro depende de muitas coisas, mas de apenas uma pessoa: você.

Não importa que se esconda, ou renegue sua face, em algum momento, a capa cairá.
A verdade, sempre surgirá!"

.

Esyath Barret

.

03 junho 2007

DEMORAS

demoro para entender palavras

intenções

eloqüências

que prenunciam conquistas

viagens para descobrir mundos

que estão em minhas mãos

... Cheias.

demoro para perceber olhares

e trocas

de gente que chega

e quer ficar

e espalha poesia

e que se sair

tem vontade de voltar

e se realmente vai

não demoro

a chorar.

.

.

.

Vicente

.

.


02 junho 2007

EFEITO ESTUFA



que poente alaranjado
é esse
?
que se mostra em namoro
de enlaçar
vermelho com amarelo
?

são raios de sol

colorindo o fim do dia
?

são viagem
nos segredos
da prenhez
das noites de verão
?
ou

são reflexos de histórias
e desperdício
da poluição
?
.
.
Vicente
.
.
.

Divido esse espectro
Em pigmentos
Do prisma o arco-íris
Preso num pedaço de velcro.
Vestígios
Que refletem na terceira margem
Minhas cores em harmonia
Extraindo no fundo os cristais
Que compoem a minha vida."
.
Rafaela Silva Santos
.

31 maio 2007

FIZ UM POEMA

fiz um poema

sobre a emoção

que se perdeu sabe-se lá onde

em que folha branca

em que sarjeta esburacada

em que lufada de qual vento.

falava de você

da sua delicadeza

da sua beleza arrebatadora

dos seus traços

que a palma da minha mão

ousara tocar

(com essas mãos tão minhas)

falava da maciez do seu carinho

dos reflexos dos seus cabelos nos meus

dos abismos que se abriam entre nós

toda vez que pensávamos bem.

aquele poema

não existe mais

não resistiu sequer

às primeiras linhas.

sucumbiu

ao primeiro passar da borracha.

.

Vicente

.

.

.

"...Quebrei a ampulheta da vida
joguei fora as areias do tempo..."
.
Claudinha
.


28 maio 2007

NÃO É BEM ASSIM

calei-me o peito

por conta da loucura do faz-de-conta

rebelei’me os sonhos

que insistiam em seguir vida própria.

eu falo de sonhos dentro de um ser

que não sonha mais

aqueles sonhos de menino

DE HOMEM ADULTO QUE DESEJA

eu falo de desejos.

de todos os desejos

que se confundem com todos os sonhos.

todos:

dos Minúsculos aos estratosféricos

daqueles que te remetem às vontades

de ter alguém para amar

de ser amado

de fazer planos

e

de trocar carinhos.

falo de sair

no meio da tarde

e juntos

na livraria

escolher o próximo livro

que se vai ler

a dois.

.

.

.

Vicente

.

.

"...

...depois de muitos anos me sentia como uma borboleta, leve, brilhante, bonita, havia finalmente saído do casulo....

...Agora sinto as borboletas em meu estômago, que estranha sensação..."


Deia
.


19 fevereiro 2007

LÁBIOS

não
vou exigir
muito.

vou aprofundar
sempre que necessário
essa vontade
de colocar lábios
sobre lábios
para que eles mesmos
reflitam
sobre o toque.
.
Vicente
.
"...não me encanto facilmente por qualquer batuque ou ruído que aos olhos de um mundaréu se passa por música..."
Jefferson P.

18 fevereiro 2007

SOLENE DESPEDIDA

houve o espanto e a compreensão
dos fatos inusitados
presentes
coisas
vividas noutros tempos
desconfortáveis
bailando entre o patético e o covarde.

coisas
alimentando ilusões descabidas
e espetáculos deprimentes
que sabem a ecos de solidões
que se tocam
que sabem a imagens de traições
que se criam.

fantasmas reais de um querer
que não se confirmou.

um “a gente se vê”
é suficiente para se despedir.
e partir.
.
Vicente
.
.
"Não quero ferir nossas cicatrizes deixo-as encerradas sem a pele morta sem o ar do passado..."
Mary
.

16 fevereiro 2007

SE BEBER NÃO DIRIJA

eu te adianto
que se ficarmos os dois
embriagados
(de amor)
entro no primeiro sonho
e te carrego

depois a gente resgata
a realidade.
.
Vicente
.
.
.
"...Escrever é produzir epílogos do não iniciado. Sumarizar o diáfano. Documentar o não-acontecido. Testemunhar em falso. Dar (in)versões do impalpável..."
Cecília Cassal
.

15 fevereiro 2007

OUVINDO ESTRELAS

porque é tarde.
brota daqui
e de lá
uma escuridão
(que já pleiteia uma vaga no céu).

estrelas gritam seus luares
e as ouço aos cânticos
pelas implicações do verbo:
ouvir estrelas

e a Lua
notívaga
...vaga
com cara de boas vindas
com luz calma e simples
convidando-as
para o passeio
vespertino/noturno
que ressurgirá
como sempre
até o dia despertar.

por aqui passamos na faina diária
sem perceber
o maravilhoso espetáculo que a natureza faz.
que a natureza fez.

agora já é noite outra vez.

pausa para ouvir
estrelas.
.
Vicente

.
.
.
"Tudo acaba, eu sei. Até as luzes celestiais se vão, apagando-se. E a luz o céu vai cobrindo.
E a morte vai cantando seu hino..."
Rafaela Silva Santos
.

14 fevereiro 2007

AMIGO/AMIGA

vesti a fantasia do real
e me desloquei
da rota do onírico.

transformei o não imaginado
em alguém de carne e osso
e de lábios vermelhos
e beijo quente
e coisa suave.

alardeei sem alarde
que a vida se fazia urgente
e que o agora era o instante

das mãos nas mãos
do toque no toque
do delicado poder da delícia

que marca o encontro
que explode em afinidade
que é mais que amor
que é mais que paixão
que é mais que amizade.
.
Vicente
.
.
.
"...Hematitas e magnetitas, nos altos fornos, e meu sangue correndo nas veias qual o gusa incandescente, lembram-me a força da vida, onde estão minhas raízes..."
Claudinha
.

13 fevereiro 2007

PAREDE DE REBOCO

meu poema
refeito da dura realidade
(de não ter mais você como musa)
esbarra em outras dermes
outras epidermes
outros arrepios

outras companias

que inspiram o arremedo da poesia.

mas na parede de reboco
que é a
minha mente
que é a
minha memória
você é um quadro pendurado
no prego da minha história.
.
Vicente
.
.
.
"...Toda pessoa tem um alguém que se foi
Um alguém que foi pego em flagrante
Um alguém que prometeu um brilhante
Um alguém que saiu pra jogar
Toda pessoa tem um alguém
Que esqueceu de voltar..."
Giovanni Lucato
.

10 fevereiro 2007

MEIO AND MEIO

porque se chamava ficção
e se mostrava
realidade

meio tímida e baixinha
meio histórias que teimam em não acontecer
meio enredos batizados
meio tramas variadas.

banalizava a personagem
que desenhava
e redesenhava seus papéis
requeridos pelo diretor
onipresente
que insistia em dirigir a sua vida.

meio companheira de uma viagem
sem fim
pelo interior de uma idéia.
meio minha.
meio de outro.
.
Vicente
.
.
.
"

09 fevereiro 2007

BARILOCHE

amanhecia
um sol frio e melancólico
por entre as
persi
anas
in
sones
(e douradas)
de

Bari
Loche

que perscrutavam
pela janela
sonolenta.
.
Vicente
.
.
.
"Decreto que esse ano todas as agremiações se calarão por um minuto, pois descobri o amor e que nenhum samba, por mais boi com abóbora que seja, falará de amor, sem citar minha morena e o que o fizer, será punido, com pontos em enredo e fantasia..."
Pedro Monteiro
.

08 fevereiro 2007

POETISAS & POETAS



POETISAS




(para mim)
nas poetisas
algo de música
de luar
de liberdade
e de vinhos de boa estirpe.

em sua maioria
cheiram a amêndoas raras
e transpiram linguagens
que ressoam significados
poliglotas.

sua congenitude proposital
só é
(às vezes)
superada
pelas próprias essências
circulares que exalam
de seus momentos
Íntimos

quando se abrem
para eternizar a
criação

e

nos mostrar
que
mesmo nos momentos
esquecidos
"Há uma bruma pálida
Que alcança todos
Os sonhos adormecidos..."
.
Vicente.
.
.
.

07 fevereiro 2007

PROGENITURA DESNATURADA

sou progenitor de uma coisa descabida
chamada Eu.
sou aquele que abandonou a criatura
quando se encontrava perdida
e que por isso jamais se ergueu.

sou o pai desnaturado da figura
tímida e arredia
que a todo momento pedia
(apenas) uma chance de viver
e de se encontrar

ms acabou por se perder
e na mágoa se enterrar.

a criatura sou eu
também sou o criador
que morreu.
.
Vicente
.
.
.
"Não temer as palavras não é fácil. palavras doces são ótimas; palavras menos doce são difíceis...mas palavras são palavras e os poemas precisam de todas elas..."
Lívia
.

05 fevereiro 2007

CORAGEM

meus textos
insistiam em conter
teus cabelos
e gestos
que me falavam
com voz dos amores
que não comportam erros.

nunca percebi
que tinhas
nas mãos
as palavras
(e a coragem)
apropriadas
para jogar por terra
todas
as minhas mais infundadas
esperanças.
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Vicente
.
.
.
"POETA
Não tema o dia que se apresenta, hoje, inútil...
Aos olhos do poeta ele se transforma sempre, mesmo que em utilidade frágil..."
Lívia
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04 fevereiro 2007

INFINITIVO TAMBÉM É VERBO

porque medo transpirou
coisas
que eu nem ousara sonhar.

por seres
(infinitivamente pessoal)
quem eu não supus encontrar.

e me vires agora
redobrar-me as vertigens
que insistem em
percorrer todas as cavidades
das minhas veias?

que tal saíres?
.
Vicente
.
.
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"que pena, que são só promessas a promessa do novo, do recomeço, do sério, do alvo, da busca.
Só mesmo sendo mortal para acreditar que podem se cumprir as promessas feitas , em tempo de nostalgia..."
Cláudia - Oxigênio
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02 fevereiro 2007

DESCOBRINDO

rio do seu largo sorriso
ao notar
as verdes folhas que rebentam
aqui e ali em meu quintal.

perguntas
achados
surpresas:

alecrim
alfazema
manjerona

outros risos:
manjericão
rosas
dálias...

brotam alegrias por cada
descoberta.
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Vicente
.
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"...Quem faz as regras morais absurdas - ou quem cuida para que elas sejam obedecidas com rigor - é certamente uma pessoa insensível às coisas do coração maravilhado. Não pode ser um poeta; geralmente é um ditador..."
Edson Marques
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31 janeiro 2007

DNA

a carne me falou à razão
tatuou-me
a epiderme
dos sentidos
por isso exagerei
quando descobri
o formato
que havias
desenhado
em meus
cromossomos.
.
Vicente
.
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"... Não se pode não ser intensa quando dos verbos vazam versos de magia que causam inundação nos olhos com lembranças de um dia...".
Clarinha
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30 janeiro 2007

INEXATIDÕES

a luz dos teus olhos
(com alto teor
de aurora)
iluminou-me

e só agora
percebo
a porcentagem
do ocaso
mortiço

muito após
a possibilidade exata
da última gota
(que eu sorvia)
da noite
que se aproximava.
.
Vicente
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"...Em brilhantes giros e rodopiantes grangetes e pliés, ela se contorcia em balé sincronizado com a água...."
Marcela Bertoletti
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29 janeiro 2007

THESE EYES

teu olhar
tem um brilho aceso
que faz do momento
presente
aquela íntima
indiscutível
intransferível festa
QUE NÃO SE CONCRETIZA
entre nós
qual extravagante
brincadeira de verdade
que a gente arrisca
no meio de todo o barulho
de todo o caos
em busca da
PAZ
comum
da
VONTADE
incomum.
.
Vicente
.
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"entre o muito e o muito pouco existe um meio caminho oco, um caminho vazio no meio do nada, um instante vácuo no cio pronto para ser concebido. no meio do caminho havia...um caminho do meio."
Clauky Saba
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28 janeiro 2007

EXPLORADOR

dançam mãos
em corpos de acalantos
enigmas palpáveis
cabelos e pêlos
que se escoam
em depilações
e músculos exatos
de abraços sinceros.

assim
muito mais agradecerei
à ávida
vida
por ter feito de você
a minha melhor
descoberta.
.
Vicente
.
.
.
"E me redescobri gostando da blogueira que sempre fui. Resolvi voltar a ser o que era e ir um pouco além - beirar a imagem que ele tem de mim. Sem literatura, mas com muita paixão pelas letras, pela vida, por vocês!..."
Loba
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MOCINHA

ela me chamava de moço
e a todos dispensava este tratamento honroso.

chamavam-na de “Mocinha”.
às vezes aparecia com seu jeitinho de bugra
pouco menos que esfarrapada
aspecto pedinte
a conseguir qualquer alimento ou moeda.

conta-se que se entregava com facilidade
a troco de qualquer troca
de qualquer docilidade.

por isso ninguém entendeu
quando seu corpo foi encontrado
nu
de todos os pertences
vestido
de todas as violências
(ponto final)
.
Vicente
.
.
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"...Para que tudo não perca as cores ou a melodia, é importante deixar recadinhos, bilhetes e e-mails com palavras que nascem dos prazeres diários..."
Alequites

27 janeiro 2007

LEMBRA?

lembra que eu pedi
que acendesse o incenso
para me ler
e o corpo para me reter?

que preparasse o café
e o espírito
para falar de você?

lembra que seus compromissos
foram adiados
porque eu havia chegado?

eu lhe quis por perto
com a vontade
da primeira
caipirinha
e da última
emoção.

o que foi que aconteceu então???
lembra não?
.
Vicente
.
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.
"E no fim do poema me pareço
(como já diria o Neruda)
com a palavra melancolia.
Fê Notável
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26 janeiro 2007

PLEXUS

existe algo de vazio entre nós.
algo de solitário sabendo-se
a madrugada
solitária.
já não apreciamos os tons roucos
de Cássia Eller
as melodias de Milton
nem as de Chico
que ambos são nossos ídolos
(ainda são os mesmos!)
em idolatria tão segura e tão frágil.
esse vazio que nos envolve é como o fio
da adaga que se percorre
como sobre a corda bamba.
falta-nos o nexo
porque não quero empregar todas
as letras
para formar corretamente
a minha sentença.
.
Vicente
.
.
.
"Eu estou só e tenho que matar baratas!..."
Deia
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25 janeiro 2007

HIPÉRBOLE

meu verso
e eu
podemos
parecer hiperbólicos
mas não há hipérbole
ao afirmar que você
(feita de
poesia e sorrisos)

explende

além do brilho das estrelas.

não há hipérbole
apenas juntamos pedacinhos.
.
Vicente
.
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"Em algum canto do mundo encontrarei você. Passem noites e dias, em claro ou no escuro, tentarei encontrar você..."
Nilza
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24 janeiro 2007

SER

ela é o ser
que designa
por antonomásia
a existência real e absoluta.

a que
exprime a realidade
em contraposição
à mera aparência
ou simples mostra.
uma coisa
é o que ela é
outra
é o que ela pode ser.

existem
e estão nela
as características
e qualidades indicadas
pelos adjetivos
que acompanham
e determinam o verbo
surpreender

para que eu me ache
ou me encontre
em um dado momento
em um dado lugar.
.
Vicente
.
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"Perco-me recolhendo tuas palavras, alinhavando os retalhos do teu riso dissonante..."
Zingarah
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23 janeiro 2007

RIDÍCULO

ainda não percebi a lógica
daquele aceno
com o qual
teu braço
me saudava.

menos ainda
a pronta resposta
do meu sorriso
e do meu braço
que todo bobo acenava.
.
Vicente
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"Acho que quando morremos a terra-útero nos concebe em outros (in)finitos fundos nunca findos-vindos."
Diovvani Mendonca
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22 janeiro 2007

OUTRA VIAGEM

desça do sonho
que
daqui a pouco
passam outros
e a gente pode escolher
se embarca
(com estilo)
no próximo grito
ou
na próxima ilusão.

acenda em mim a fogueira
que ilumina
ventres
para que os reflexos de
umbigo
se perpetuem
de tanto prazer
de tanta paixão.
.
Vicente
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"Neurose
Separou o joio do trigo e separou o trigo do trigo, por fim separou-se do trigo.
Wilson Guanais
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21 janeiro 2007

EX-PERANÇA

e era
um vento
forte e vigoroso
que soprava confundindo
anemômetros.

só agora
extinto
após tornar-se
débil sopro
sabe-se que seu nome
era
esperança.

era.
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Vicente
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"...Ela vestiu a "Velha Roupa Colorida" para um "Retrato Em Preto E Branco..."
Claudinha
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19 janeiro 2007

ENQUANTO VOCÊ ME LIA

(Enquanto você me lia
eu ouvia MPB
na sua vitrolinha.)

- escolhe uma voz feminina.
!! ??? !!!
- tá bem, pode ser masculina.

esse seu coração
sempre falou mais alto
na hora das escolhas.
besteira a minha
não ter compreendido
por todo aquele tempo
depois de tanto tempo
que havia espaços entre nós.
estreitados em seguida
tempos e espaços
brotaram afinidades
que subjugaram a amizade
que não sobreviveria
que não sobreviveu.

irrecuperável.

perdeu-se em intimidade
e sensibilidade.

perdemos.
perdi.
perdeu.
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Vicente
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"...Que se debrua de sóis enclausurados, entre os hiatos de seus olhares de contemplação..."
Zingara

17 janeiro 2007

AGORA É NOITE

hoje
mais que nunca
queria seu ombro amigo
e silencioso
(nessa noite enorme)
para chorar em mim
todas as águas
que me encharcam.
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Vicente
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"...Só que você ainda não percebeu que viver é essa grande prova de múltipla escolha onde só é possível escolher uma resposta para cada questão..."
Márcia do Valle
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09 janeiro 2007

DOCE POEMA

Meu doce
tem formigas
abelhas
vivas na flor

Poesias
e mais poesias
no cadernode receitas

Meu doce
tem formigas
escalando
o açucareiro.
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Wilson Guanais
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Continua aqui: http://www.cemiteriodenavios.blogspot.com//
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Esse foi o Wilson que fez pro Vicente.... Show....
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Postado originalmente em 09/09/06
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08 janeiro 2007

DORA VILELA E SEU FILHO MARCELO

"...Você redescobre para nós o ar primaveril perdido na manhã esmaecida da nossa infância.
Sei que você pode sofrer e se machucar com a maldade humana, porém seu coração não abrigará nunca a marca indelével e triste do remorso..."
Dora Vilela

no tocante poema-depoimento
"Ao Meu Filho Marcelo."
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Continue aqui: http://pretensoscoloquios.zip.net/...
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"O sofrido atrapalha o vindouro, ofusca o olhar e o que chega agora não deve ser nem alegre, nem triste, deve ser o novo apenas, para se escolher livremente sem as consultas às sombras..."
Dora Vilela.
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07 janeiro 2007

UIVOS

(Feito pra Loba)
maravilhosa
festa dos sentidos.
estou para ouvir
uivos do presente.

meu passado me critica
angustiado
os silêncios que criei
as falas que perdi.
grito
entretanto.

lá fora faz silêncios
mas aqui dentro eu grito.
o vão da janela do Windows
se ilumina
porque agora te vejo e leio.
hei de abrir
escancarar ainda
as portas
as venezianas emperradas.

via-me pelos meus olhos.
beijava-me pelos meus lábios.
turvavam-se em mim
as vistas
com o embaralhar
de tantas palavras
que roubei de mim mesmo.
nas agora
não.
agora quero outras palavras
outros sons.
agora quero só os seus uivos.
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Vicente
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"...Adoro cometer pecados capitais! Especialmente aqueles tatuados nos desejos, divinos,pelo cio..."
Loba..

Continua aqui: http://corpusetanima.blogspot.com/Ou aqui: http://blog-miolo-de-pote.blogspot.com/.
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06 janeiro 2007

ADOLESCER

também queria contigo adolescer.
rever sonhos de todos os rostos jovens que te vi.
queria reter na íris a emoção de te ver
crescendo em mim
comigo crescendo em ti.

queria ver-te vertendo em abundante juventude
rever vivências de risos tão adolescentes
perder-me aos gritos do tempo em quietude
de brancos dentes que riem impacientes.

queria sentir-te no centro do meu anseio
de perceber-te hipótese e teoria
de reclamar-te sonho onde permeio
esperança
vida
luz e alegria.

queria o eriçar dos fios que revelasse
e demonstrasse
sim
as minhas emoções
maduras
ao tocar-te a pele que desencadeasse
o abstrato desejo mais concreto que passasse
deslizante
por teus ombros e costas e nuca e cabelos
para agradar-te ao te agarrar com o gosto que gostasse
de adolescer-te em todos os teus pêlos.
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Vicente
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"Dedicatória
Ao leitor a carne do poema, ao não-leitor os ossos do ofício. "
Wilson Guanais

Continua aqui: http://www.cemiteriodenavios.blogspot.com//
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05 janeiro 2007

EU TE DEVORO

eu te devoro

não porque queres
mas para florescer em mim
tua semente-poesia

e fartar minhas abelhas
de doce do teu pólen

Loba

Continua aqui: http://www.corpusetanima.blogspot.com/
.
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04 janeiro 2007

MISTERY

havia uma vontade
de estar perto pra se fazer ouvir.

uma intenção
de carinho e afeto
um trocar de números
e uma ânsia
de se falar
de se tocar.

mas podiam ser duas as vontades.
não deveria haver a confusão
mas haveria de acontecer os falares
os encontrares

antes que os cabelos se tocassem
e se molhassem
e cheirassem a xampu
e mistérios.

Vicente
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" O que mais desespera não é o impossível, mas o possível não alcançado. "
(Robert Mallet)
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03 janeiro 2007

CEMITÉRIO DE NAVIOS?

(Para o Wilson Guanais)

De tudo que se avista daqui é o que se lê.
Quase como descrição, de título e de intenção.
Mas não se enganem, não é isso.
Se é cemitério, onde estão os sinos?
Os Alvarengas destroçados?
Não se avista Batelão desmantelado,
Barca, Barcaça ou Bergantim.
Prestes a afundar.
Improviso, sim,
"De asas abertas, como se fosse decolar".

De onde se observa, não se vê quilhas enferrujadas,
Âncoras desancoradas, timões desajeitados,
Correntes sem elos. Só elas.
As poesias.
Essas sim, têm de sobra. Luxuosas,
Como Transatlânticos,
Até no subsolo, como se no cemitério
“Estivéssemos acolhidos entre dois infinitos”.
Não há briga, nem Brigue, mas Fruto
E suave brisa que impulsiona Caravelas,
Naus e Patachos, ainda que não tenham velas.

Se há Cargueiros ancorados
Esperam, harmônicos, os sonhos de partirem
Para mares tantas vezes navegados.
Aí se pensa em como se cruzam Chatas com Clíper
Corveta com Cúter, e Draga com Iate.
Mas não se esbarram, não afundam.

Talvez se encontre Sagrado, mas Encouraçado?
Reluz de proa e popa próximo da Escuna,
E da Fragata, Simples e Confortável Mente.
Quem viu o Galeão a Galera, a Lancha, o Lúgar?
Nenhuma Nau a vista e não tem Navio de Desembarque.
Encalhado, virado, abalroado.

Bote, Palhabote, paquete, patacho,
Pesqueiro, Saveiro, Sumaca ou Pontão
Rebocador, Submarino, Vapor,
Vapor de Rodas, e Veleiro
, nada disso.
Mas existe Trama, Renovação,
E muita Construção
Parece fábrica de emoção.
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Vicente
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" Coisa de quem sabe o lado de dentro da dor..."
Wilson Guanais

Continue aqui: http://www.cemiteriodenavios.blogspot.com/
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"O orgulho dos poetas não passa de defesa; a dúvida atormenta até mesmo os melhores; eles necessitam de nosso testemunho para não se desesperarem. "
(François Mauriac)
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02 janeiro 2007

01 janeiro 2007

OS MAIAS

(para a Márcia Maia)
Se tudo eu entendesse de criação,
eu te criaria a partir do seu código fonte.
Não seria por ti a leitura
da poesia ou prosa poética mais pura,
mas ao contrário
te veria aberta
em meu próprio horizonte.
E não me faria a mim criador
nem a ti criatura.
Serias parceira
de recostar-se em cadeiras
espreguiçadeiras,
a esmiuçar os pôres-de-sóis,
a perceber os pardais,
a nem se lembrar que era fim do dia.
Haverias, certamente,
de ser somente
a semente
que nascesse
Márcia
e germinasse poesia.

Vicente
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"...dizer que nublaram-se olhar e tarde além de beirar o lugar-comum não traduz o nó que (onde no corpo a alma se insere) germina..."
Márcia Maia.

Continue aqui: www.tabuademares.blogger.com.br ou aqui: www.mudancadeventos.blogger.com.br..
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Postado originalmente em 15/07/06