Deserto em Mim
Antes de você,
o tecido da minha pele
era um mapa de ausências,
dobras de um tempo que não chegava.
A cada poro, um suspiro preso,
o eco mudo de um horizonte sem cor.
Eu era a estação à beira do trilho,
vendo trens passarem,
sem nunca embarcar.
Um deserto onde a sede
era a própria paisagem,
e a espera, o único oásis.
Naquele solo, nenhuma semente brotava,
apenas a promessa vazia
de uma chuva distante.
Era eu,
a tela em branco à espera da cor,
a canção sem melodia,
o livro aberto em página nenhuma.
Só espera.
Um mar calmo demais,
sem ondas para quebrar o silêncio,
sem a correnteza que arrasta e transforma.
Eu era o antes,
a quietude árida,
a paisagem sem nome,
aguardando o verbo que me faria ser.