O Depois do Depois
É quando o tempo já não tem pressa,
e o eco esquece de voltar.
O depois do depois
é como ver o espelho olhando de volta —
não teu rosto,
mas o que teu rosto calou por décadas.
É o instante em que o café esfria
e, ainda assim, aquece a memória.
É o livro fechado
que ainda respira entre as páginas.
O reflexo do reflexo
não mostra imagem.
Mostra o intervalo entre duas luzes,
onde não se sabe mais quem é a fonte
e quem é a lembrança.
Ali, tudo deixa de ser nome.
E passa a ser sensação.
Não o toque,
mas o arrepio.
Não a lágrima,
mas o peso que a precede.
O depois do depois
não responde.
Mas sussurra.
Diz com o vento o que não cabia na fala.
Diz que o fim foi só a curva
antes de se tornar caminho.
Nesse lugar —
que não se chega andando —
a vida não é mais sobre continuar.
É sobre permanecer
em tudo o que tocamos
sem saber.
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