A Visita do Rei Invisível - Capítulo VI
Na dobra da noite, quando o tempo se desfazia em névoa,
as estrelas silenciaram, e até os anjos pararam o voo.
Na porta que nunca havia sido notada,
alguém bateu — com o som do próprio coração do mundo.
A madeira não gemeu.
O vento não se mexeu.
Mas a alma que habitava ali
soube: Ele chegou.
Então, sem forma que os olhos pudessem conter,
Cristo se revelou —
vestido de luz trêmula e ternura antiga.
E sua voz não era som,
era revelação.
**“Eis que estou à porta e bato.
Não à de tua casa, mas à de teu ser.
Se me ouvires — não com os ouvidos do corpo,
mas com a sede da alma —
abrirei os céus dentro de ti.
Entrarei, não como hóspede,
mas como o Dono que esperou tua permissão.
E cearemos —
com o pão da eternidade,
com o vinho que não envelhece,
à mesa que nenhuma sombra alcança.
Pois aquele que me recebe,
se torna templo do invisível,
espelho do Reino.”**
E ao dizer isso, a presença se fez vento,
e o vento se fez fogo,
e o fogo, descanso.
O lugar estava vazio —
mas tudo dentro dela estava cheio
O Trono das Alturas - Capítulo VII
Ainda havia brasas no chão
onde os pés de Cristo haviam passado.
E no ar pairava uma melodia antiga,
como se os céus entoassem uma nota
que a Terra havia esquecido.
Então a voz retornou —
não de fora,
mas de dentro,
ecoando no templo secreto do espírito:
**“Ao que vencer…
darei não um prêmio de ouro,
mas um lugar ao meu lado.
Assentar-se comigo —
não como servo,
mas como filho que voltou.
Assim como venci as trevas do mundo
e me assentei com meu Pai
acima dos véus do tempo,
também tu vencerás,
e te darei assento no trono das alturas.”**
Aos pés da colina suspensa no ar,
uma escada feita de promessas surgiu,
e cada degrau era uma lembrança vencida,
cada passo, um pedaço do ego que se rendia.
No alto, não havia trono de ouro,
mas um assento de luz viva —
onde os que vencem não dominam,
mas servem com glória.
Cristo estendeu a mão,
e aquele que ouvira a voz
sentiu o peso leve da eternidade.
O Sopro do Espírito - Capítulo VIII
Quando Cristo cessou sua fala,
o silêncio era tão denso
que o tempo parou para escutar.
Então veio o Espírito —
não como figura visível,
mas como brisa que atravessa dimensões,
como som que só o coração reconhece.
As folhas das árvores de cristal tilintaram.
Os rios falaram em suas correntezas.
E toda criatura sensível estremeceu.
**“Quem tem ouvidos… ouça.
Ouça além do som,
além da letra,
além da mente.
O que digo não é sussurro humano,
mas sopro do Eterno.
As igrejas são candeias,
e eu ando entre elas.
As almas são taças,
e eu as encho com vinho novo.
Desperta, ó terra adormecida!
Pois os céus estão falando,
e os que ouvem viverão.”**
Um clarão cruzou o firmamento,
e cada estrela respondeu ao chamado com luz mais viva.
Naquele instante,
toda a Criação parecia aguardar —
não com medo,
mas com esperança contida.
Pois a Palavra havia sido liberada,
e quem tivesse ouvidos…
jamais seria o mesmo.
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