03 dezembro 2025

A VISITA DO REI INVISÍVEL

 

A Visita do Rei Invisível - Capítulo VI

Na dobra da noite, quando o tempo se desfazia em névoa,
as estrelas silenciaram, e até os anjos pararam o voo.
Na porta que nunca havia sido notada,
alguém bateu — com o som do próprio coração do mundo.

A madeira não gemeu.
O vento não se mexeu.
Mas a alma que habitava ali
soube: Ele chegou.

Então, sem forma que os olhos pudessem conter,
Cristo se revelou —
vestido de luz trêmula e ternura antiga.
E sua voz não era som,
era revelação.

**“Eis que estou à porta e bato.
Não à de tua casa, mas à de teu ser.

Se me ouvires — não com os ouvidos do corpo,
mas com a sede da alma —
abrirei os céus dentro de ti.

Entrarei, não como hóspede,
mas como o Dono que esperou tua permissão.

E cearemos —
com o pão da eternidade,
com o vinho que não envelhece,
à mesa que nenhuma sombra alcança.

Pois aquele que me recebe,
se torna templo do invisível,
espelho do Reino.”**

E ao dizer isso, a presença se fez vento,
e o vento se fez fogo,
e o fogo, descanso.

A aurora surgiu com um perfume novo.
O lugar estava vazio —
mas tudo dentro dela estava cheio




O Trono das Alturas - Capítulo VII

Ainda havia brasas no chão
onde os pés de Cristo haviam passado.
E no ar pairava uma melodia antiga,
como se os céus entoassem uma nota
que a Terra havia esquecido.

Então a voz retornou —
não de fora,
mas de dentro,
ecoando no templo secreto do espírito:

**“Ao que vencer…
darei não um prêmio de ouro,
mas um lugar ao meu lado.

Assentar-se comigo —
não como servo,
mas como filho que voltou.

Assim como venci as trevas do mundo
e me assentei com meu Pai
acima dos véus do tempo,
também tu vencerás,
e te darei assento no trono das alturas.”**

Aos pés da colina suspensa no ar,
uma escada feita de promessas surgiu,
e cada degrau era uma lembrança vencida,
cada passo, um pedaço do ego que se rendia.

No alto, não havia trono de ouro,
mas um assento de luz viva —
onde os que vencem não dominam,
mas servem com glória.

Cristo estendeu a mão,
e aquele que ouvira a voz
sentiu o peso leve da eternidade.



 O Sopro do Espírito - Capítulo VIII

Quando Cristo cessou sua fala,
o silêncio era tão denso
que o tempo parou para escutar.

Então veio o Espírito —
não como figura visível,
mas como brisa que atravessa dimensões,
como som que só o coração reconhece.

As folhas das árvores de cristal tilintaram.
Os rios falaram em suas correntezas.
E toda criatura sensível estremeceu.

**“Quem tem ouvidos… ouça.
Ouça além do som,
além da letra,
além da mente.

O que digo não é sussurro humano,
mas sopro do Eterno.

As igrejas são candeias,
e eu ando entre elas.
As almas são taças,
e eu as encho com vinho novo.

Desperta, ó terra adormecida!
Pois os céus estão falando,
e os que ouvem viverão.”**

Um clarão cruzou o firmamento,
e cada estrela respondeu ao chamado com luz mais viva.

Naquele instante,
toda a Criação parecia aguardar —
não com medo,
mas com esperança contida.

Pois a Palavra havia sido liberada,
e quem tivesse ouvidos…
jamais seria o mesmo.




 

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