THYSSEN, COMO EU VI
São tantas as fábricas.
Da mesma maneira que a primeira,
Por ser talvez a única e com certeza também a última.
Tudo novo, como novas eram as esperanças.
Pessoas. Visual. Ruídos. Odores. Calores.
Ah... Os calores.
Subindo grandes escadas de ferro em direção aos fornos.
Impressão de quadro surrealista.
O vai-vem das pontes rolantes, rolando. Guindastes.
Guindasteiros. De um lado para outro.
Burburinho de cadinhos
de análises, de gusa, de sucata, de cromo,
cheiros de enxofre, fumaça de zinco, pó de areia,
pipocar de marretas, respingos de ferro.
Líquido que é ferro.
Como ferro é líquido e sua cor é laranja.
Precioso em vazamento alaranjado.
Abundantes panelas.
Visão de sonho.
Sonho acordado.
Sonho de quem quer ter visões sonhadoras e práticas.
Sonho de se sonhar com gosto e sem sono.
Todo o quadro é parte. As partes se juntam.
Juntas são imenso organismo, são vivas as partes
E pulsam e se organizam em mínimos detalhes.
E as partes são órgãos.
Homens são partes. Homens são órgãos.
Cada homem, cada roupa, cada proteção, bizarras máscaras.
E são gerentes, diretores, soldadores, motoristas,
Tudo é como célula e trocam com o meio, e recebem e dão experiências.
Varredores, carregadores, eletricistas,
Levanta-se a marreta, quebra-se canais.
E são mecânicos, bombeiros, programadores, desenhistas,
Vazamento dos pingos de líquido quente no cadinho para análise.
São compradores, vendedores, borracheiros,estoquistas,
Tudo troca, tudo como uma procissão
que levasse o manto sagrado de uma religião.
São vigias, engenheiros, seguranças, economistas,
Como uma visão de Salvador Dali,
assim quando o mestre surrealista vislumbrasse
Todas as suas irrealidades dentro do quadro real da fundição dos metais.
Surrealismo em contato direto com os sentidos do real.
Presidente, forneiros, pedreiros, dentistas.
Se é indústria de ferro e aço é como uma qualquer outra religião.
Rebarbadores, químicos, tradutores, telefonistas
Tem prosélitos ardorosos, tem opositores ferozes.
Mais além divisei pessoas varrendo a via.
Vi pessoas subindo escadas para pintar imensos cilindros,
que me pareciam tonéis.
Vi homens de macacão cinza, uniformes azuis, roupas comuns.
Tinha homens de capacetes brancos, capacetes vermelhos,
Capacetes amarelos, verdes, mas não tinha cor-de-rosa.
Também tinha homens sem capacete, homens de blusa,
E homens de colete.
Homens de preto. Homens de branco.
Tinha homens de jaleco.
Homens quebrando.
Homens soldando.
Tinha homens pintando. Homens varrendo.
Tinha gente limpando, gente engraxando,
gente ao telefone, gente nas pranchetas,
gente atrás de grandes mesas, gente à frente de grandes destinos.
Todos os destinos todos de toda essa gente.
Tinha gente cavando, gente aterrando,
gente serrando, gente emendando.
Vi homens com martelo, homens com bicos de solda,
homens com bicos de bunsen.
Vi homens brancos sujos de pó preto. Vi homens pretos cobertos de pó branco.
Vi mulheres.
Vi mulheres que mandam. Vi mulheres que executam.
Vi mulheres que obedecem. Vi mulheres que riem. Vi mulheres que choram.
Vi mulheres felizes, vi mulheres que sofrem.
Vi pássaros, vi grama, vi árvores, vi fumaça, vi poeira.
Vi água, vi gases.
Vi homens dirigindo caminhões, guiando tratores;
Conduzindo empilhadeiras, comandando destinos, brandindo aço,
Temperando ferro, alimentando fogo.
Vi fornos e corridas. Vi formas e fôrmas.
Vi machos e machos.
Vi cilindros prateados, escadas azuis, tubos vermelhos,
mangueiras amarelas, tetos cinza, sonhos dourados.
Eu vi trabalho.
Eu vi muito trabalho.
Este foi meu sonho dourado quando estava bem acordado.
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