02 março 2025

PELE EM ARREPIOS

 


Pele em Arrepios

 

Porque a minha pele, aos arrepios,

insistia em diluir a solidão que agora era realidade.

Não era o frio que me envolvia,

mas o gume afiado do vazio,

o contorno gelado de um espaço ausente.

Eu, o homem, sentia cada pelo se eriçar,

como antenas buscando um sinal,

um toque, uma presença.

 

Era a carne que reagia,

na sua sabedoria antiga,

à vastidão do que me cercava.

Cada célula gritava por calor,

por um abraço que não vinha,

por um braço que não se estendia.

A solidão, antes um sussurro,

agora era um grito rouco,

e a pele, em sua sensibilidade,

tornava-se o campo de batalha.

 

Nesses calafrios sem causa aparente,

nesse tremor que vinha de dentro,

eu via a luta do corpo por conexão.

Era a tentativa desesperada

de um eu fragmentado,

de um sentido ainda sem nome,

de encontrar no próprio tato

a ponte para outro.

E, em cada arrepio,

uma verdade: a solidão

é pesada demais

para a pele suportar sozinha.

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