24 janeiro 2025

PONTO PROS MENINOS

  

PONTO PROS MENINOS

 

Não quis falar

nem sequer pensei no que havia

pra te dizer

porque ainda não sabia como

nem o que dizer.

tenho isso comigo

é meu jeito

é meu modo de ser

de intercalar tagarelices com longos

silêncios.

 

ouvi de mim os segredos que ousara sonhar

na mais crescente confusão de sentidos

como em qualquer outro momento

mas não compartilhei as idéias

só as sedes e fomes dos amores

das irisadas ilusões mais ousadas

por isso me calei

 

e minhas idéias quedaram-se

como estradas de uma via só

como vontades sorrateiras

que preferi ocultar

como  monólogo recitado

no mais completo ermo

para não se espalhar.

 

agora aplaudo minha decisão.

porque te conheço

(muito)

melhor.

23 janeiro 2025

VIDA NUA

  

Vida Nua

O ar penetra, sem o lastro do ontem, sem a sombra do depois.

Vida nua, em cada célula sedenta, um renascimento a cada inspiração.

Os pulmões se expandem, espaço puro, inexplorado, onde só o agora reside, vibrante e pleno.

As lembranças esmaecem, como aquarelas na chuva, não pesam, não doem, apenas são ecos distantes.

A ansiedade se dissolve, névoa matinal dissipada pelo sol, o futuro não urge, não cobra, é apenas uma possibilidade distante.

Este fôlego, essência vital despojada, é a liberdade de ser, sem as correntes do tempo.

É a leveza da folha ao vento, a espontaneidade do rio que corre, a certeza silenciosa de que este instante basta.

Encher os pulmões assim, de vida desvestida de passado e futuro, é tocar a eternidade na efemeridade de cada inspirar.



22 janeiro 2025

O SOPRO DO AGORA

  

O Sopro do Agora

O ar entra, fresco, desfazendo as névoas do passado, ignorando as sombras do futuro.

Este sopro, apenas este, enche os pulmões de vida nua, sem o peso das lembranças, sem a ansiedade do que virá.

O peito se expande, um universo breve, contido neste único instante, onde o tempo se dobra e silencia.

Sinto o pulsar do sangue, a certeza silenciosa de que existo agora, plenamente.

Os ruídos ao redor se aquietam, tornam-se parte da sinfonia fugaz deste momento único, irrepetível.

O pensamento se aquieta, como folha que cai sem pressa, liberando espaço para a pura sensação de ser.

Respiro este agora, como se fosse a primeira e última vez, absorvendo cada nuance, cada micro-detalhe da existência.

E neste simples ato, encontro a liberdade, a paz que reside na aceitação plena do presente.

Este sopro é meu lar, meu refúgio seguro, o ponto de apoio firme na dança incessante do existir.



21 janeiro 2025

SILÊNCIO PRESENTE, LEVEZA AGORA

  

Silêncio Presente, Leveza Agora

A voz que em mim reside, um murmúrio por vezes estrondoso, no presente se recolhe, silêncio denso que não busca eco.

As palavras, antes lançadas ao vento, na ânsia de serem ouvidas, repousam na quietude interior, sementes de um jardim secreto.

Meu peso, a carga dos dias idos, as responsabilidades abraçadas, as expectativas alheias, dissolve-se na leveza do agora.

Os ombros, outrora curvados, sob o fardo invisível do tempo, endireitam-se, livres da pressão, sustentando apenas a leveza do ser.

Não há necessidade de gritar para existir, nem o fardo de carregar o mundo. Neste instante presente, sou a pura essência, despojada.

A voz interior encontra paz no silêncio, e o corpo experimenta a liberdade de não ser dobrado pelo peso de um passado ou futuro imaginados.

Há uma força serena nesta ausência de eco, nesta libertação do fardo. Permito-me ser leve, habitar o presente sem o ruído constante da voz que busca validação, sem o peso que aprisiona os movimentos.

Neste silêncio presente, nesta leveza agora, encontro a verdade simples de ser.



20 janeiro 2025

QUANDO EU ME CANSAR DAS PERGUNTAS

 

Quando Eu Me Cansar das Perguntas

Estou à espera do dia
em que eu me canse das perguntas.

Não por ter encontrado respostas,
mas por aceitar o vazio
sem precisar preenchê-lo.

Esse dia virá —
silencioso como a última luz antes da noite,
leve como o cansaço bom
de quem parou de lutar contra o vento.

Nesse dia,
me sentarei com o tempo como quem reencontra um velho amigo,
e ele não me perguntará nada.
Apenas ficará.

Não haverá mais urgência nas palavras,
nem ansiedade no olhar.
O mundo ainda será um enigma,
mas já não exigirá solução —
só presença.

Estou à espera desse dia
como quem espera a maré baixar:
não para atravessar,
mas para entender
que já estou do outro lado.




19 janeiro 2025

POR ISSO A INSÔNIA

  

POR ISSO A INSÔNIA

 

e houve o sentir teus olhos nos meus

trazendo a insegurança

do desconhecido

do desconexo

do inesperado que se alastrava.

e houve o tempo de refletir

as tantas vidas:

um na vida do outro

com distâncias desnecessárias

com palavras sem compromissos

com a felicidade que se perde

por falta dos lençóis

por falta do toque

do sorriso

dos sons despropositais

(que coroam os desejos).

por isso a insônia

de menino

que não deve parar de sonhar.

 


 

18 janeiro 2025

O LIMITE DE UM FIO ESTICADO

 

 

 O Limite de um Fio Esticado

 

E o limite de um fio esticado,

prestes a romper, mas teimosamente intacto.

Não é fragilidade, é uma resistência exaustiva.

Cada puxão, cada tensão, aproxima do ponto final,

mas a corda ainda vibra, ainda suporta.

 

É o limite da alma,

onde a elasticidade já não existe,

e a ruptura parece a única lógica.

Mas o fio, teimoso, mantém-se,

uma metáfora da persistência imposta,

da força que se nega a ceder,

mesmo quando tudo clama por um fim.

 

 


17 janeiro 2025

VIDA SENTIDA EM CARNE VIVA

 

 

 Vida Sentida em Carne Viva

 

E a vida sentida em carne viva,

cada toque, uma pontada.

Não há escudo, não há pele grossa,

apenas a exposição crua da alma.

É como se os nervos estivessem à flor da pele,

captando cada vibração, cada sussurro do mundo.

 

O amor, quando surge, é um incêndio;

a dor, um abismo sem fim.

Não há meios-termos, não há tons pastéis,

apenas a explosão das cores mais intensas,

pintando a existência com traços fortes e violentos.

A sensação é tão real, tão presente,

que a respiração se torna um ato consciente,

uma luta para suportar o que se sente.

 

 

 

 

16 janeiro 2025

A MAIS RARA E MAIS BELA DE TODAS

 

 

A mais rara e mais bela de todas

Não era ouro,
nem glória,
nem o instante perfeito congelado em fotografia.

era outra coisa.
mais leve.
quase invisível.
feito respiração entre palavras.

talvez fosse o momento
em que duas mãos se tocam
sem saber direito por quê.

ou o silêncio
que não pesa —
só acolhe.

era o não dito
que ainda assim dizia.
a lágrima que caía
sem vergonha nenhuma.

era quando a dor se sentava
ao lado da esperança
e as duas assistiam
ao mesmo pôr do sol.

não brilhava,
mas acendia por dentro.
não doía,
mas também não fingia.

a mais rara e mais bela de todas
não se posta,
não se vende,
não se ensina.

só se vive.
por segundos.
por dentro.
e depois,
fica.



15 janeiro 2025

A INTENSIDADE DOS SENTIMENTOS

 

 

 

 A Intensidade dos Sentimentos

 

E essa intensidade, um mar sem fundo,

que não afoga, mas arrasta e comprime.

Não é uma brisa, é um furacão interno,

onde as emoções não se suavizam,

apenas ganham peso, densidade.

 

A tristeza não é tristeza, é um abismo.

A incerteza não é dúvida, é um grito preso.

Cada fibra do ser vibra com a sobrecarga,

como um fio que estica até o limite,

prestes a romper, mas que não se quebra.

 

É a vida sentida em carne viva,

onde cada toque dói, cada pensamento queima.

Não há anestesia para a alma,

apenas a plenitude esmagadora

desses sentimentos que se agigantam,

preenchendo todo o espaço, sem ar para respirar.

 

 

 

14 janeiro 2025

DE FORA

 

De Fora

Mesmo com vontade de comemorar o teu sucesso

e de te abraçar no final,

como quem torceu em silêncio desde o começo,
eu fico quieto.
parado no canto da plateia,
boca cheia de aplauso contido,
coração meio descompassado.

não é inveja,
nem amargura.
é só que
eu não me sinto parte.

não da festa,
nem da conquista,
nem do caminho até aqui.
parece que criei um enredo onde
minha cena foi cortada na edição final.

e tudo bem.
às vezes a gente ama de fora mesmo.
de longe.
com os olhos.
com uma prece baixa.

porque estar feliz por você
não apaga a ausência que ficou em mim.
mas acalma.

e talvez isso seja o que restou
— e talvez
seja o suficiente por hoje.



13 janeiro 2025

O SILÊNCIO COMO ECO

 

  O Silêncio Como Eco

 

E o silêncio aqui dentro,

não é paz, é um eco.

O som das palavras não ditas,

dos "talvez" que nunca se concretizaram.

É a ressonância do arrependimento,

um sussurro constante do que poderia ter sido.

 

Cada oportunidade perdida,

um golpe que reverbera nas paredes da alma.

Não há música, não há voz,

apenas o vazio que responde a si mesmo,

um eco de "e se" que se repete infinitamente,

preenchendo o espaço onde a esperança morava.

 

 

 

12 janeiro 2025

A AUTO-PRISÃO

 

A Auto-Prisão

 

E a auto-prisão, essa estranha liberdade

de me acorrentar sem grilhões visíveis.

Não há força externa, não há opressor,

apenas a mão invisível que me prende.

É um labirinto interno,

cujas paredes se erguem da minha própria dúvida.

 

Cada recusa, um tijolo;

cada medo, uma argamassa que endurece.

A saída, um ponto no horizonte

que se afasta à medida que me aproximo.

Sou o construtor da minha própria jaula,

o carcereiro que veste a pele do prisioneiro.

11 janeiro 2025

A PORTA TRANCADA POR DENTRO

 

 

 A Porta Trancada Por Dentro

 

E a porta trancada por dentro,

não é parede, é barreira.

Não há chave, não há fresta,

apenas a mão que a segura,

a minha própria,

que não cede, não liberta.

 

É um ato de auto-prisão,

uma escolha sem nome,

que prende o passo, cala a voz.

O lado de fora, um sussurro distante,

o que poderia ser, um sonho.

 

E o silêncio aqui dentro,

não é paz, é eco.

O eco das chances perdidas,

dos caminhos não tomados.

A porta, um espelho turvo,

refletindo a mim mesmo,

o carcereiro, o prisioneiro.

 

 

 

10 janeiro 2025

A AUSÊNCIA E A PRISÃO

 

 

 A Ausência e a Prisão

 

E a luz, um mero boato,

uma lenda distante.

Aqui, só a escuridão se estende,

pesada e sem promessas.

Não é sombra, é ausência,

um vazio que engole cores e esperanças.

 

E nesse escuro, a prisão.

Não há grades, não há muros visíveis,

mas as paredes apertam,

o ar rarefeito sufoca.

É uma celas invisível,

tecida de incertezas e de "nãos".

 

Cada passo é um tropeço no breu,

cada respiração, um grito abafado.

E a saída, um eco que não chega,

uma porta trancada por dentro,

sem chave, sem maçaneta,

apenas o silêncio opressor.

 

 

09 janeiro 2025

O PESO DA INCERTEZA

  

O Peso da Incerteza

 

E a incerteza, essa névoa densa

que cega os olhos e amarra os pés.

Não é leve, não é passageira,

é um fardo invisível,

uma âncora que arrasta.

 

Pesa no ar que respiro,

cada inspiração, um esforço.

Pesa nos ombros, curvos,

como se levassem o mundo

e todas as suas perguntas sem resposta.

 

É o silêncio das possibilidades,

o sussurro do "e se",

que se torna um grito no vazio.

É o tempo que se arrasta,

uma ampulheta de areia movediça,

onde o futuro não se desenha,

apenas se dissolve.

 

 

 

 

 

08 janeiro 2025

O FIO TÊNUE

  

 

O Fio Tênue

 

E no fio tênue, a dança.

Não é leve, não é livre,

é a dança da hesitação.

Cada passo, um cálculo,

um sopro de ar, uma ameaça.

 

Respirar dói,

como se o ar fosse agulhas finas

costurando a incerteza na pele.

E o vazio, ali embaixo,

não é um convite,

é uma verdade que espera.

 

O equilíbrio é precário,

uma miragem.

E a cada balanço, a sensação

de que o fio se desfaz,

pedaço por pedaço,

dissolvendo-se no nada.

 

 


07 janeiro 2025

FINALMENTE O VAZIO

  

Finalmente o Vazio

 

Enredado,

o nó emaranha o peito,

um silêncio que grita sem voz.

Não sei o que está acontecendo,

apenas sinto o chão sumir.

 

Sou um experimento, talvez.

Um fio tênue, quase invisível,

suspenso sobre o abismo,

onde o ar se torna denso

e irrespirável,

sufocante.

 

A incerteza é a única paisagem,

e a saída, um eco distante.

Não há luz no fim do túnel,

porque não há túnel,

não há espaço,

não há esperança,

apenas a densidade do escuro

que me abraça

e me consome.

 

 

 


FÉ NO VERMELHO

 

FÉ no vermelho

E se a fé oscilar no vermelho,
igual tanque de carro velho
na subida?

e se não tiver reserva
nem ombro nem luz de advertência,
só um silêncio miúdo
dizendo: “não sei mais”?

fé também falha.
às vezes escapa
pelos cantos da dúvida,
às vezes cansa
de carregar esperança sozinha.

e se eu não acreditar hoje?
se eu não enxergar saída
nem sentido
nem ciclo?

será que a fé aceita
ser deixada em repouso?
aceita ser ferida,
despida das frases prontas?

porque tem dias em que tudo
parece sem Deus,
sem beleza,
sem começo.

mas no escuro mais escuro,
quando nem meu nome me responde,
se acende uma faísca:
pequena, torta,
mas minha.

talvez fé seja isso —
não certeza,
mas teimosia.
uma coragem de seguir
mesmo com o tanque no fim
.



06 janeiro 2025

VERTIGEM

  

Vertigem

 

O chão se desfaz sob os pés,

não em queda, mas em giro,

um turbilhão de pensamentos

sem centro, sem Norte.

 

Ideias flutuam como poeira cósmica,

partículas de um universo íntimo

que se expande e se contrai,

sem lógica aparente.

 

Há perguntas gravadas no ar rarefeito,

ecoando sem resposta,

sobre o ser, o tempo,

o fio invisível que nos prende ao nada.

 

É a dança incessante da mente,

onde o eu se dissolve e renasce

a cada milésimo de dúvida,

a cada pulso de incerteza.

 

E no olho desse ciclone particular,

silenciosamente,

eu me pergunto:

qual abismo me chama?

Ou sou eu o abismo

que se abre em mim?

 

 

 

 

 


05 janeiro 2025

O PESO SILENCIOSO

  

O Peso Silencioso

 

Há uma sala dentro do peito,

onde o ar é denso,

e cada móvel tem a forma

de um sentimento não dito.

 

As palavras, pesadas demais,

repousam em veludo,

esperando um sopro,

um gesto que as liberte.

 

Mas a quietude, essa teia invisível,

envolve tudo,

protegendo a fragilidade

do que pulsa por baixo.

 

É um mar calmo na superfície,

enquanto nas profundezas

correntes incontroláveis

movem universos inteiros.

 

 



04 janeiro 2025

QUANDO ESCAPA DAS MÃOS

 

 Quando Escapa das Mãos

Acontece que tem horas
que não dá mais pra controlar tudo.
o copo escorrega,
o pranto também.

as palavras não obedecem,
os ponteiros não respeitam,
e o coração —
ah, o coração —
lateja no ritmo que quiser.

tudo que era plano vira poeira,
agenda vira rabisco,
promessa vira vácuo.

a gente tenta manter a pose,
sorriso de mercado,
resposta automática,
mas o corpo entrega:
o suspiro mais fundo,
o olhar que demora
na janela.

há um limite secreto
entre o “tá tudo bem”
e o “não tô conseguindo”.
quando se cruza,
não tem senha,
não tem manha,
só o vazio
que se espalha.

e então,
ou a gente desaba,
ou começa, enfim,
a respirar de verdade.
.


O AGORA ESCORRE

 

 O Agora Escorre

Escrevi sobre o agora.
foi tudo de supetão,
como se o texto me atravessasse
mais do que eu o escrevesse.

assim que a última palavra caiu,
alguém me chamou.
e eu fui.
deixei as palavras ali, soltas,
sem carinho nem backup.
não houve adeus,
só pressa.

quando voltei,
o computador dormia —
e com ele,
meu agora.

não chorei.
não culpei a máquina.
fui eu quem virei as costas.
fui eu quem largou
o instante quente
ainda pulsando.

e agora —
tento refazer o que era vivo.
mas o agora
não aceita reencenação.
o agora de antes
já é memória.
o agora de agora
é outro bicho,
outra respiração.

digito, apago.
uma frase tenta voltar,
mas veio manca.
a ideia que resgato
não tem mais casa.

claro.
era sobre o agora.
e o agora…
já foi.



03 janeiro 2025

CANSAÇO II

 

CANSAÇO II

Textos empilhados

em minha memória.

Aguardando, esperando o momento.

Não tenho em mim,

ainda,

a sensibilidade madura a ponto de me expor.

Isso me deixa cansado.



02 janeiro 2025

O LABIRINTO E O ABRAÇO

  

O Labirinto e o Abraço

 

É uma busca profunda,

um mergulho sem fim

nas águas turvas do próprio ser.

Eu, o homem que tateia,

sinto as paredes do labirinto,

cada curva uma nova questão,

cada eco uma voz que se cala.

 

Não há um mapa pronto,

nem um fio de Ariadne

para me guiar à saída.

São camadas e mais camadas,

de medos que dançavam nas sombras,

de rotas que não chegam a lugar nenhum,

de manhãs que vi nascer

e que ainda me compõem.

 

Mas nessa jornada,

nessa incessante procura

pelo sentido que me habita

e que jamais capturei,

surge a leveza de um talvez.

Talvez uma aceitação.

A complexidade do eu,

não como um fardo,

mas como a própria tela

onde a vida pinta suas cores mais ricas.

 

É o abraço ao paradoxo,

ao inexplicável que sou,

ao mapa incompleto que me define.

E nesse acolher,

nessa rendição à vastidão do que não se sabe,

encontro a mais pura liberdade:

a de ser, simplesmente,

o homem em sua infinita e bela complexidade.

 

 



01 janeiro 2025

ABISMO PRESENTE

 

Abismo Presente

O corpo se lança, abandono total da margem, onde as correntes do tempo já não exercem seu domínio.

A água fria acolhe, um abraço incondicional, e o passado se esvai como bolhas na superfície.

O futuro? Uma miragem distante, dissolvida na intensidade deste instante líquido.

O agora se expande, elástico, infinito, engolindo cada respiração, cada pulsar do sangue.

Não há ontem a lamentar, nem amanhã a temer. Apenas a textura da água na pele, o silêncio denso que ecoa internamente.

Os sentidos se aguçam, cores mais vibrantes sob a superfície, sons abafados de um mundo distante.

Neste mergulho sem amarras, a mente se aquieta, livre do diálogo incessante das lembranças e expectativas.

Existe apenas o ser, flutuando na vastidão do presente, um ponto de consciência pura, onde o tempo cessa e a eternidade se revela na efemeridade de cada segundo.


 


VESTÍGIOS SILENCIOSOS

 Vestígios Silenciosos

 

As palavras, pesadas ou leves,

moldam o ar que respiramos.

Ferem com a mesma agudeza

com que curam, se ditas a tempo.

Cada fonema, um vestígio,

de um pensamento que se fez ponte,

ou um abismo, entre o eu e o mundo.

No emaranhado de sentidos,

a verdade se dobra, se esconde,

um jogo de espelhos e ecos.

 

E a memória, um tecido frágil,

bordada com os fios da linguagem.

O que se diz, o que se cala,

redefine o ontem, refaz o presente.

Cenas embaçadas, vozes distantes,

reanimadas por um termo, um gesto.

Um léxico particular,

gravado nas entranhas do ser,

onde cada palavra é um relicário.

 

O tempo, implacável artesão,

esculpe as frases no vazio.

Apaga algumas, ressalta outras,

dando-lhes novos contornos.

O que foi dito, para sempre flutua,

no espaço entre o antes e o agora.

E o peso das palavras,

revelado na ausência,

no silêncio que se estende,

muito além de qualquer som.