31 julho 2024

SE TIVER... EU PREFIRO

 

 

SE TIVER... EU PREFIRO

 

I

Se tiver poentes alaranjados

mostrando os namoros enlaçados

do vermelho com o amarelo,

raios de sol colorindo o fim do dia ,

viagem nos segredos das noites logo após o entardecer,

eu prefiro.

 

II

Se tiver momentos de ver o sol

desaparecendo nas águas do mar,

ainda que eu não more por perto,

de perceber promessas, e adivinhar saudades,

e evocar prazeres por sentir que isso é bom,

também.

 

III

Se tiver macarronada com sabor de domingo,

com pedaços de queijo parmesão e molho,

e puder ser família

e recolher todos os cacos de sonhos em mim,

desses que sempre quis ter, tive, mas não retive,

por quebradiços que foram,

eu prefiro.

 

IV

Se tiver condições de espalhar pelas estantes

os DVDs de shows que quisera assistir ao vivo,

e assisti-los ao lado do meu filho,

e batucar  ao som de Maria Rita,

e isso me encher de orgulho desmedido,

também.

 

V

Se tiver amor que exija minha dedicação

e respeito ao próprio amor,

que é pra ser respeitado

para construir parceria de amizade

e amor com carinho

e sentir gosto pelo inusitado momento de descobrir-se,

eu prefiro.

 

VI

Se tiver silêncios que permitam ouvir Paul Mauriat

em vinil na antiga vitrola,

e correr o risco de tornar-me saudoso despretensioso,

e até cair na pieguice das manias de depressão,

também.

 

VII

Se tiver momentos de pensar e ler

e fazer poesias inocentes sem preocupação com as rimas,

momentos de ouvir melodias de Caetano em Quarteto em Cy,

e pensar na alma das melodias a traduzirem pensamentos

e situações, e sonhos, e lembranças, e desejos e projetos,

eu prefiro.

 

VIII

Se tiver olhares de promessas

e bocas de se calarem para se fazerem ouvir,

e perceber nos olhos os sorrisos,

os segredos, os mistérios,

e confiar nos convites,

nos arrepios e nas carícias que se fizerem acompanhar do afeto,

também.

 

IX

Se tiver amigo de hoje com jeito dos amigos de ontem,

por serem sinceros,

e tê-los ao meu lado,

sabendo-os, todos, poetas  apaixonados de longa data

a dividirem comigo as alegrias de sermos todos sonhadores,

eu prefiro.

 

X

Se tiver amor que forme trincheiras e ocupe meus territórios

que imploram serem conquistados,

e percebê-los apaziguados

na guerra do descobrir-se sem paixões extremistas,

transformando explosões do querer

em loucuras invasoras de felicidade,

também.

 

XI

Se tiver culto à serotonina por sentir prazer

em todo o ser

espalhando-se por todo o corpo de ânsias,

adrenalina percebida nos sentidos

que são lidos em minhas entrelinhas

e nas estrofes declaradas

desses versos eloqüentes de amor,

eu prefiro.

 

XII

Se tiver pequena floresta

onde se possam colecionar

pequenas folhas e verem pequenos insetos pastando,

e perceber águas rolando em som de pequenas cachoeiras,

ainda que apenas em pequenos filetes

também.

 

XIII

Se puder ouvir canários, curiós à solta

e beija-flores em rendas

ao se mostrarem em beijos molhados

nas corolas amarelas das flores;

apaziguar os sentidos da visão,

da audição e do tato

por perceber a natureza à roda,

eu prefiro.

 

XIV

Se tiver palavras de duplo sentido

que denotem sedução e paixão que se fizerem sinceras,

e conversas pra se chegar ao acordo do extasiar-se

acampando perto do prazer

com barracas levantadas

no quintal do entendimento mútuo

que não se fizer prematuro, mas maduro,

também.

 

XV

Se tiver longas tardes de verão e o sol molhar o meu rosto,

em prenúncio de riso largo e preciso;

sorrisos abertos ao vento que é brisa fresca e silenciosa

a silenciar as chuvas que formarão torrentes amareladas

em marrons de terra sobre a Terra

que nos brinde com todos os outonos de frutas,

eu prefiro.

 

XVI

Se tiver sons de Leila Pinheiro

em decibéis agradáveis aos ouvidos,

e muitas outras coisas que se vive

aos companheirismos das amizades e amores;

e proteção por presença que é presente no presente

para ganhar a maturidade de não tropeçar em decadentes

mutismos e timidez,

também.

 

XVII

Se tiver chance de recomeçar

como houvera de ter começado

por ser direito que não se aliena;

de fazer a história retroceder e,

qual ampulheta que recomeça do zero,

recomeçar do zero a história da vida que vivo

e que precisa ser repartida,

eu prefiro.

 

XIX

Se tiver dia de rever sonhos e partilhar olhos e olhares

E falares e calares

 

Se tiver, eu prefiro.

 

 


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