30 abril 2024

ÂNSIAS







DESAFIO

Meu grito
Que doía na garganta
Ainda engasgava
A traquéia entalada.

Meu grito me doía
Na saída.
Meu corpo me aliviava
A revolta insensata.

Recomeçar sem perceber
Que se perdeu
Olhar nos próprios olhos
Sem se arrepender.

Esmiuçar a bagagem
E retirar somente
O necessário para recomeçar.
Esse é o desafio.


15 abril 2024

O VAZIO DA JANELA

  

 

 O Vazio da Janela

 

A madrugada avança,

Seis, quase sete.

Nenhum vestígio de cor.

A aurora ainda não rompe.

Imagino-me à beira da calçada fria.

Procuro-me no fumo que se esvai.

Há um peso de tempo parado sobre minha alma.

De novo sou eu a não encontrar o início.

Talvez por ser um tanto inconstante

Ou por me amar demais,

Resolvo me sentar e me contar segredos mudos.

 

Desenhando formas no chão com a ponta do pé.

Um poeta sem voz, entre o caos e o silêncio.

Eu me explico com a minha própria sombra

Por não achar uma rima que me caiba.

Mas tento me fazer presente.

Agora sou só eu em um palco escuro.

Um palco onde a verdade deve surgir.

E a plateia, no caso, sou eu.

 

Não escrevi nada porque não há mais linhas.

Me afasto da cena sem nem me entender.

Lanço a mim um olhar de aceitação,

Mas não tem jeito,

Eu sinto.

Hoje a inspiração não vai florescer.