01 janeiro 2023

A DANÇA INCOMPLETA DO VERÃO

 

 

A Dança Incompleta do Verão

 

O ar se move estranho,

um hálito fresco de verão carioca,

e um trovão distante

estremece a madrugada.

 

Da porta do bar, vejo a rua.

Jovens em grupos,

vozes emaranhadas, risos brancos

de juventude e fumaça.

Os olhos brilham, famintos por algo

sem nome, mas que pulsa.

É bom não saber, a busca é o próprio caminho,

e eu, ainda corro atrás.

 

Inevitável, um rosto conhecido.

O aceno, o abraço apertado,

a pergunta que se dilui:

"Por onde andas? Me liga, me manda um sinal."

Que loucura.

Se o agora nos traz juntos,

que o momento nos preencha.

Não haverá a ligação, a mensagem,

se a presença calar a ausência –

se é que existe.

 

Um beijo breve,

um perfume familiar,

o cheiro de um tempo que foi,

e a memória, botão traidor,

manipula o que passou.

 

Olho de volta para o bar.

Meu lugar no balcão, ocupado.

O show prestes a começar,

e eu, sem meu canto,

sem o ritual da fumaça,

perdido

na pausa entre os ecos.

 


 

 

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