A Dança Incompleta do Verão
O ar se move estranho,
um hálito fresco de verão carioca,
e um trovão distante
estremece a madrugada.
Da porta do bar, vejo a rua.
Jovens em grupos,
vozes emaranhadas, risos brancos
de juventude e fumaça.
Os olhos brilham, famintos por algo
sem nome, mas que pulsa.
É bom não saber, a busca é o próprio caminho,
e eu, ainda corro atrás.
Inevitável, um rosto conhecido.
O aceno, o abraço apertado,
a pergunta que se dilui:
"Por onde andas? Me liga, me manda um
sinal."
Que loucura.
Se o agora nos traz juntos,
que o momento nos preencha.
Não haverá a ligação, a mensagem,
se a presença calar a ausência –
se é que existe.
Um beijo breve,
um perfume familiar,
o cheiro de um tempo que foi,
e a memória, botão traidor,
manipula o que passou.
Olho de volta para o bar.
Meu lugar no balcão, ocupado.
O show prestes a começar,
e eu, sem meu canto,
sem o ritual da fumaça,
perdido
na pausa entre os ecos.
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