31 janeiro 2023

O PESO DA INCERTEZA

 

 O Peso da Incerteza

 

E a incerteza, essa névoa densa

que cega os olhos e amarra os pés.

Não é leve, não é passageira,

é um fardo invisível,

uma âncora que arrasta.

 

Pesa no ar que respiro,

cada inspiração, um esforço.

Pesa nos ombros, curvos,

como se levassem o mundo

e todas as suas perguntas sem resposta.

 

É o silêncio das possibilidades,

o sussurro do "e se",

que se torna um grito no vazio.

É o tempo que se arrasta,

uma ampulheta de areia movediça,

onde o futuro não se desenha,

apenas se dissolve.

 

 

 

 

15 janeiro 2023

O FIO TÊNUE

  

O Fio Tênue

 

E no fio tênue, a dança.

Não é leve, não é livre,

é a dança da hesitação.

Cada passo, um cálculo,

um sopro de ar, uma ameaça.

 

Respirar dói,

como se o ar fosse agulhas finas

costurando a incerteza na pele.

E o vazio, ali embaixo,

não é um convite,

é uma verdade que espera.

 

O equilíbrio é precário,

uma miragem.

E a cada balanço, a sensação

de que o fio se desfaz,

pedaço por pedaço,

dissolvendo-se no nada.

 

 

01 janeiro 2023

A DANÇA INCOMPLETA DO VERÃO

 

 

A Dança Incompleta do Verão

 

O ar se move estranho,

um hálito fresco de verão carioca,

e um trovão distante

estremece a madrugada.

 

Da porta do bar, vejo a rua.

Jovens em grupos,

vozes emaranhadas, risos brancos

de juventude e fumaça.

Os olhos brilham, famintos por algo

sem nome, mas que pulsa.

É bom não saber, a busca é o próprio caminho,

e eu, ainda corro atrás.

 

Inevitável, um rosto conhecido.

O aceno, o abraço apertado,

a pergunta que se dilui:

"Por onde andas? Me liga, me manda um sinal."

Que loucura.

Se o agora nos traz juntos,

que o momento nos preencha.

Não haverá a ligação, a mensagem,

se a presença calar a ausência –

se é que existe.

 

Um beijo breve,

um perfume familiar,

o cheiro de um tempo que foi,

e a memória, botão traidor,

manipula o que passou.

 

Olho de volta para o bar.

Meu lugar no balcão, ocupado.

O show prestes a começar,

e eu, sem meu canto,

sem o ritual da fumaça,

perdido

na pausa entre os ecos.

 


 

 

A AUSÊNCIA DA PRISÃO

 

  A Ausência e a Prisão

 

E a luz, um mero boato,

uma lenda distante.

Aqui, só a escuridão se estende,

pesada e sem promessas.

Não é sombra, é ausência,

um vazio que engole cores e esperanças.

 

E nesse escuro, a prisão.

Não há grades, não há muros visíveis,

mas as paredes apertam,

o ar rarefeito sufoca.

É uma celas invisível,

tecida de incertezas e de "nãos".

 

Cada passo é um tropeço no breu,

cada respiração, um grito abafado.

E a saída, um eco que não chega,

uma porta trancada por dentro,

sem chave, sem maçaneta,

apenas o silêncio opressor.

 

 

 

 

FINALMENTE O VAZIO

 Finalmente o Vazio

 

Enredado,

o nó emaranha o peito,

um silêncio que grita sem voz.

Não sei o que está acontecendo,

apenas sinto o chão sumir.

 

Sou um experimento, talvez.

Um fio tênue, quase invisível,

suspenso sobre o abismo,

onde o ar se torna denso

e irrespirável,

sufocante.

 

A incerteza é a única paisagem,

e a saída, um eco distante.

Não há luz no fim do túnel,

porque não há túnel,

não há espaço,

não há esperança,

apenas a densidade do escuro

que me abraça

e me consome.