30 junho 2024

NOVO DE NOVO

  

NOVO DE NOVO

 

Eu já não me sentia assim tão verde

tão adolescente.

senti que era a primeira vez

porque foi

a primeira vez

que fui convidado

para ver a lua

e de contrapeso,

para dançar.

gesto automático, olhei o céu

e parecia fazer sentido o convite

que era um pedido.

deixei a casa mais fechada onde eu estava e

encarei de frente a cidade, a cidadela,

a cidade minha e dela

pela vidraça fechada da janela.

aproveitei para experimentar cada gota

daquelas palavras

que me vinham pelo telefone.

desligo tudo e me desligo em busca

das procuras interiores:

um banho, um uísque, um perfume

um toque final no traje bem passado

de rami e linho.

inauguro em mim algumas peças mal trocadas,

quebradas, estilhaçadas.

inauguro sonhos, esperanças, idéias, trapalhadas.

eu na rua após alguns degraus que descem para o agora.

se é para se arriscar

que me entregue primeiro

que me derrame por inteiro.

a lua é testemunha de tudo que é verdadeiro:

a dança, a fé, a pouca lembrança

do muito que corre em nossas veias

e ocorre, enredando-nos

nas teias das coisas que nos chegam

apenas por intenções

leves intenções

 

15 junho 2024

LUZ SOBRE NÓS

 

Luz sobre Nós

 

A neblina que antes velava as vidraças

Desfez-se com o primeiro raio de sol,

Pintando o quarto com tons de um novo dia.

Não há mais cinzento, apenas a clareza

Que brota da tua presença ao meu lado,

Um despertar que é mais do que a manhã.

 

O silêncio da insônia deu lugar

Ao suave murmurar da cidade que acorda lá fora,

E ao ritmo tranquilo da tua respiração,

Um balé de paz em meio ao mundo.

O cheiro do café que sobe da cozinha,

Não é mais o aroma da solidão,

Mas a promessa de um desjejum partilhado,

O calor da xícara em minhas mãos,

Espelho do calor que agora sinto por dentro.

 

Nenhuma palavra precisou ser dita.

No olhar que se encontrou sob a luz matinal,

A certeza de que as horas perdidas

Eram apenas um prelúdio para este agora.

E em cada novo amanhecer que vier,

Saberemos que a luz que nos inunda

É a mesma que nos guiou de volta,

Juntos, para recomeçar.

 

 

 

ECO DO BREU

  Eco do Breu

 A noite se aprofunda,

Cinco, talvez seis.

A lua se esconde.

A luz não se avizinha.

Procuro meu vulto na janela embaçada.

Me perco no espelho que me ignora.

Há um véu de névoa fria em meu redor.

De novo sou eu a não ver o amanhã.

Seja por um cansaço profundo

Ou por me querer demais,

Decido me abraçar e sussurrar segredos só meus.

 

Arrastando passos lentos nas vielas.

Errante observador, entre sombras e sussurros.

Eu me calo com a minha própria voz

Por não achar a melodia perfeita.

Mas insisto em me ouvir.

Agora sou eu o público e o palco.

Um palco onde a alma se desnuda.

E a plateia, no caso, sou eu.

 

Não cantei nada porque não há melodia.

Desapareço do palco sem me aplaudir.

Lanço a mim um olhar de resignação,

Mas não tem jeito,

Eu aceito.

Hoje a estrela não vai brilhar.