09 julho 2021

SE TIVER... EU PREFIRO

 



SE TIVER... EU PREFIRO

Se tiver poentes alaranjados
mostrando os namoros enlaçados
do vermelho com o amarelo,
raios de sol colorindo o fim do dia ,
viagem nos segredos das noites logo após o entardecer,
eu prefiro.

Se tiver momentos de ver o sol
desaparecendo nas águas do mar,
ainda que eu não more por perto,
de perceber promessas, e adivinhar saudades,
e evocar prazeres por sentir que isso é bom,
também.

Se tiver macarronada com sabor de domingo,
com pedaços de queijo parmesão e molho,
e puder ser família
e recolher todos os cacos de sonhos em mim,
desses que sempre quis ter, tive, mas não retive,
por quebradiços que foram,
eu prefiro.

Se tiver condições de espalhar pelas estantes
os DVDs de shows que quisera assistir ao vivo,
e assisti-los ao lado do meu filho,
e batucar ao som de Maria Rita,
e isso me encher de orgulho desmedido,
também.

Se tiver amor que exija minha dedicação
e respeito ao próprio amor,
que é pra ser respeitado
para construir parceria de amizade
e amor com carinho
e sentir gosto pelo inusitado momento de descobrir-se,
eu prefiro.

Se tiver silêncios que permitam ouvir Paul Mauriat
em vinil na antiga vitrola,
e correr o risco de tornar-me saudoso despretensioso,
e até cair na pieguice das manias de depressão,
também.

Se tiver momentos de pensar e ler
e fazer poesias inocentes sem preocupação com as rimas,
momentos de ouvir melodias de Caetano em Quarteto em Cy,
e pensar na alma das melodias a traduzirem pensamentos
e situações, e sonhos, e lembranças, e desejos e projetos,
eu prefiro.

Se tiver olhares de promessas
e bocas de se calarem para se fazerem ouvir,
e perceber nos olhos os sorrisos,
os segredos, os mistérios,
e confiar nos convites,
nos arrepios e nas carícias que se fizerem acompanhar do afeto,
também.

Se tiver amigo de hoje com jeito dos amigos de ontem,
por serem sinceros,
e tê-los ao meu lado,
sabendo-os, todos, poetas apaixonados de longa data
a dividirem comigo as alegrias de sermos todos sonhadores,
eu prefiro.

Se tiver amor que forme trincheiras e ocupe meus territórios
que imploram serem conquistados,
e percebê-los apaziguados
na guerra do descobrir-se sem paixões extremistas,
transformando explosões do querer
em loucuras invasoras de felicidade,
também.

Se tiver culto à serotonina por sentir prazer
em todo o ser
espalhando-se por todo o corpo de ânsias,
adrenalina percebida nos sentidos
que são lidos em minhas entrelinhas
e nas estrofes declaradas
desses versos eloqüentes de amor,
eu prefiro.

Se tiver pequena floresta
onde se possam colecionar
pequenas folhas e verem pequenos insetos pastando,
e perceber águas rolando em som de pequenas cachoeiras,
ainda que apenas em pequenos filetes
também.

Se puder ouvir canários, curiós à solta
e beija-flores em rendas
ao se mostrarem em beijos molhados
nas corolas amarelas das flores;
apaziguar os sentidos da visão,
da audição e do tato
por perceber a natureza à roda,
eu prefiro.

Se tiver palavras de duplo sentido
que denotem sedução e paixão que se fizerem sinceras,
e conversas pra se chegar ao acordo do extasiar-se
acampando perto do prazer
com barracas levantadas
no quintal do entendimento mútuo
que não se fizer prematuro, mas maduro,
também.


Se tiver longas tardes de verão e o sol molhar o meu rosto,
em prenúncio de riso largo e preciso;
sorrisos abertos ao vento que é brisa fresca e silenciosa
a silenciar as chuvas que formarão torrentes amareladas
em marrons de terra sobre a Terra
que nos brinde com todos os outonos de frutas,
eu prefiro.

Se tiver sons de Leila Pinheiro
em decibéis agradáveis aos ouvidos,
e muitas outras coisas que se vive
aos companheirismos das amizades e amores;
e proteção por presença que é presente no presente
para ganhar a maturidade de não tropeçar em decadentes
mutismos e timidez,
também.

Se tiver chance de recomeçar
como houvera de ter começado
por ser direito que não se aliena;
de fazer a história retroceder e,
qual ampulheta que recomeça do zero,
recomeçar do zero a história da vida que vivo
e que precisa ser repartida,
eu prefiro.

Se tiver, eu prefiro.