01 novembro 2017

MISTO

 

Misto

 

Permaneço mistério e presença.

Não sou decifrável,

nem me desfaço ao toque.

Há um véu invisível

que me veste,

mesmo quando estou nu.

 

Minha face se revela em sombras,

minha voz, em sussurros.

Sou o enigma que pulsa,

o rastro que ninguém segue

até o fim.

 

E nessa dualidade,

onde o conhecido se funde ao indizível,

eu habito.

Sou o que você vê e o que não vê,

o que você sente

sem nunca compreender totalmente.

Um segredo vivo,

sempre aqui,

sempre além.

04 outubro 2017

SOMBRAS QUE ABRAÇAM

 

Sombras que Abraçam

Quando a luz se esconde
as sombras despertam
não para assustar
mas para envolver

elas são braços longos
que acolhem o cansaço
e embalam o silêncio
com ternura escura

não há medo aqui
só o toque suave
de quem sabe esperar
e abraçar sem julgar

as sombras que abraçam
são refúgios secretos
onde o peito encontra
descanso e abrigo

e na penumbra gentil
renasce a esperança
de um novo dia

21 junho 2017

O PESO DO AMANHÃ

 O Peso do Amanhã

 

O amanhã, invisível e vasto,

Um fardo que a mente carrega,

Antes mesmo que o dia se faça,

A ansiedade tece sua teia.

 

É a lista que não termina,

As contas que precisam ser pagas,

O "e se" que a mente destina,

Feridas que ainda nem são chagas.

 

Prende os pés no presente,

Embarga o riso que quer sair.

Faz do hoje um tempo ausente,

Um futuro que insiste em vir.

 

Mas o amanhã é um campo aberto,

Um papel em branco à espera.

A cor que eu pinto, o caminho incerto,

A chance de ser, na nova era.

 

E se o fardo virar leveza?

Se o passo for livre, e o olhar,

Buscar no agora a certeza,

Do que a vida pode me ofertar?

27 maio 2017

PROMESSAS RECONSTRUÍDAS

 

Promessas Reconstruídas

 

Eu reinvento promessas quebradas.

Não as esqueço,

nem as jogo fora.

Pego os cacos, as pontas soltas,

e com a argila do agora,

modelos novos começos.

 

Não é negação do que se foi,

mas um teimar do que pode ser.

No lugar da rachadura,

uma nova costura,

um desenho que antes não havia.

 

Há quem diga que é ilusão,

que promessa morta não ressuscita.

Mas em mim,

onde a fé é teimosa,

transformo o "nunca mais"

numa chance que ainda habita.

 

E assim, cada estilhaço vira semente,

cada falha, um novo caminho.

Porque em meu jardim particular,

o que murchou pode sempre

florescer, de outro jeito,

mas com a mesma essência

de um amanhã que ainda pulsa.

PROMESSAS RECONSTRUÍDAS

 Promessas Reconstruídas

 

Eu reinvento promessas quebradas.

Não as esqueço,

nem as jogo fora.

Pego os cacos, as pontas soltas,

e com a argila do agora,

modelo novos começos.

 

Não é negação do que se foi,

mas um teimar do que pode ser.

No lugar da rachadura,

uma nova costura,

um desenho que antes não havia.

 

Há quem diga que é ilusão,

que promessa morta não ressuscita.

Mas em mim,

onde a fé é teimosa,

transformo o "nunca mais"

numa chance que ainda habita.

 

E assim, cada estilhaço vira semente,

cada falha, um novo caminho.

Porque em meu jardim particular,

o que murchou pode sempre

florescer, de outro jeito,

mas com a mesma essência

de um amanhã que ainda pulsa.



24 maio 2017

BELEZA E ATITUDE




porque era maio
tempo de andar às voltas
com as flores azuis da quaresmeira
apreciar os primeiros dias dos nevoeiros
do pleno outono do sudeste.

afloravam amores vividos
amores sentidos
amores percebidos
eram e são tantas as afeições jovens
as agonias das desesperanças
das faltas que se sentem
das vontades e das pressas.

e ela estava lá
a tarde clara
de estranhos calores
no burburinho do centro da cidade
são tantas as expectativas de chegadas
de promessas
de encontros.

são novas
efervescências novas
novas 
ebulições
das novas belezas
e atitudes 
tão nova.

no tempo
algumas reentrâncias.
são ruas
avenidas
praças
e becos
bem além da surpresa
das promessas
além do querer bem
além
muito além.

e essas cores?
(porque te vi)
esses sabores?
(porque te sorvi)
essas texturas?
(porque te toquei)
essas quenturas?
(porque te senti).

são medos
arremedos de carícias
de carinhos
nas vontades aceleradas
(dos joelhos dobrados)
ditadas pelo tempo
pelo horário
tão contrário às expectativas
de vida
vividas.

sobrou o gosto do gozo
do encontro
do reencontro
sobrou a vontade
do hoje
do amanhã
do depois.

sobrou a vontade do ver-te
vertendo em carinhos
pedindo
sentindo
gostando
pois estou indo
pois estou voltando.

e te achando.

linda
tão linda. 

                             ---------     xxxx     ---------

 

15 maio 2017

SÓLIDA SOLIDÃO

 

SÓLIDA SOLIDÃO

Meu quarto inerte me deixa só,
e o frio (estúpido) se desprende da
vidraça fechada atrás das cortinas
de cetim amarelo-doentio.

Em meu peito, meus braços me dizem
que já não suportam o vazio
que deixas quando não vejo nem toco
teus lábios.

Quisera poder sugá-los
por todos os ângulos,
em todos os lugares:
em minha cama,
no cinema,
no drive-in,
em qualquer parque onde brotam
as vincas,
na rua,
na dura realidade do dia a dia.
Até sentir que não
morrerei
na (não nessa) solidão.

11 maio 2017

TÍTULO SEM NOME


Título Sem Nome

Amigo, sinto o vento dos fins se aproximando, como um sussurro na folhagem densa da tarde. O livro antigo, com suas páginas amareladas pelo tempo, ecoa uma promessa: Jesus virá. Não em um futuro distante, envolto em névoas de eras, mas agora, neste instante efêmero que nos veste. O tempo urge, amigo, pulsa em nossas veias como a melodia insistente de um chamado. É hoje o dia de desabrochar a flor mais íntima, aquela que reside no jardim secreto do peito. É hoje o momento de ofertar, sem reservas, o relicário frágil e precioso do teu coração a Ele, que na quietude da eternidade, espera. A espera não é ansiosa, mas compassiva, como a do jardineiro que aguarda o tempo certo para a colheita. Entrega, amigo, essa morada de sentimentos, com suas alegrias e sombras, suas canções e silêncios. Ele acolherá, com a ternura do sol que beija a terra, a singularidade da tua essência.


Amigo, o fim se achega. Não como um trovão distante, mas um passo na areia.

E a velha palavra insiste: Jesus, ele vem. Não amanhã, nem depois da curva do tempo.

Agora. Este rasgar de presente. O tempo sangra urgência.

É hoje, amigo. A mão aberta, o gesto puro. Dar.

A Ele, silencioso na vastidão, a pupila da espera.

Teu coração. Essa matéria bruta, esse tremor de vida. A entrega. Sem laços, sem nós. Só o ser exposto.


Haverá um dia, prenhe de um silêncio carregado, em que aqueles que percorrem os caminhos da existência alheios à presença divina sentirão o peso da ausência como um manto de chumbo. As lágrimas, antes represadas pela ilusão da autossuficiência, jorrarão como fontes amargas, inundando a alma com a percepção tardia de um vazio insondável. A luz se extinguirá para eles, e a escuridão, outrora ignorada, se fará morada constante, fria e opressora.

Naquele tempo sombrio, a melodia da vida se transformará em um coro de gemidos lancinantes. O riso emudecerá, substituído pelo eco doloroso da constatação. O ódio, cultivado nos recantos sombrios do espírito, e a dor, sua fiel companheira, romperão as barreiras do silêncio, propagando-se em ondas de aflição. A escuridão não será apenas a ausência de luz, mas a própria manifestação do sofrimento, um lugar onde a alma se debate em vão, prisioneira das consequências de um caminho percorrido sem a bússola da fé. 

Sob o sol negro de um éon olvidado, onde a grama espectral sussurra lamentos antigos, os Desprovidos, almas errantes sem o farol celeste, irão provar o fel da noite eterna.

Lágrimas de obsidiana, não de contrição, mas de angústia cósmica, verterão dos seus olhos vazios, poças de sombra na terra desolada.

O ar rarefeito vibrará com um único som: o gemido gutural da perda primordial, ressoando pelas ruínas de mundos extintos.

Ódio, serpente de escamas fuliginosas, erguerá a cabeça hedionda, e sua voz, um raspar de pedras tumulares, será a única canção na vastidão sombria.

Dor, espectro de mil pontas geladas, dançará em torno dos Desprovidos, tecendo um sudário de agonia infinita na escuridão que os engolirá por completo.

Não haverá aurora, nem sussurro de perdão, apenas o reino espectral da Noite sem Deuses, onde o sofrimento é a moeda corrente e o eco dos gemidos, a única litania.

09 maio 2017

FLAGRADOS

 Flagrados

não podia estar lá
quando queria estar aqui,
nesse jogo de abraços
que anseia pernas tocadas,
no risco de sermos descobertos.

não ousara dizer não ao momento,
ao encantamento,
ao toque de Midas
que transforma
o cinza da frente fria
em dourado
de calor generoso.

são bocas sabendo a graça
de se esconderem
uma na outra,
uma pra outra,
na exploração
que não conhece fadiga
e não suporta a tirania
dos ponteiros
dos relógios.

por isso, o escorregão
no atraso
denunciou os cheiros
e as perguntas
sem respostas,
sem explicações.

06 maio 2017

PENSAMENTOS ATROPELADOS

 

Pensamentos Atropelados

Corri sem rumo,
e as palavras tropeçaram nos meus pés.

Pensei em te dizer tudo,
mas os pensamentos se atropelaram,
uns batendo nos outros,
desabando em silêncio.

Era amor,
era medo,
era urgência,
era não saber ser.

No meio da confusão,
eu te olhei —
e bastou.

O que não cabia na fala,
se ajeitou no brilho dos olhos.


PENSAMENTOS ATROPELADOS (Versão Livre)

 

Pensamentos Atropelados (versão livre)

atropelo —
esbarro nas palavras
corto esquinas do que sinto
não encaixo frases,
não domino o caos.

te penso — te fujo — te busco
tudo junto,
sem linha reta,
sem ponto final.

uma ideia atravessa a outra,
feito carros numa rua sem semáforo,
e eu no meio,
tentando lembrar
por que mesmo eu queria falar?

(aí você sorri)

e a cidade inteira silencia.

PENSAMENTOS ATROPELADOS (Versão Minimalista)

 

Pensamentos Atropelados (versão minimalista)

penso — tropeço — calo.

te vejo
e o mundo desaba
num piscar.

sem mapa,
sem aviso,
sem defesa.

só você,
e eu
esquecendo
tudo.


08 abril 2017

OS QUE OUVIRAM, OS QUE FUGIRAM

 

Os Que Ouviram, Os Que Fugiram - Capítulo IV

A voz havia sido lançada
como raio que não toca a pele,
mas arde por dentro da essência.

E a Terra estremeceu —
não por terremoto,
mas porque corações se dividiram
como mares diante do vento antigo.

Os que ouviram…
pararam no meio de seus caminhos.
Sentiram a espinha gelar com ternura,
e os olhos se encheram de memória
sem saber do quê.

Um lavrador largou sua enxada,
e ajoelhou sem saber por que.

Uma criança, sem entender o que era fé,
sorriu para o céu e disse “eu lembro”.

Um velho cego, num banco de praça,
chorou, porque viu.

Mas nem todos quiseram escutar.

Alguns taparam os ouvidos com promessas vazias.
Outros riram —
como se a Eternidade fosse brincadeira
inventada por homens cansados de viver.

“É só vento”, diziam.
“É só emoção.”

E voltaram a dormir
em camas que não os sonhavam mais.

Mas para os que ouviram,
mesmo sem entender,
algo mudou.

As árvores pareciam dizer seus nomes.
O tempo caminhava ao lado deles.
E onde antes havia ruína,
brotavam janelas para o alto.

Na Cidade Suspensa,
os sinos tocaram sozinhos.

No Trono Vivo,
Cristo sorriu —
pois a Palavra não volta vazia.