19 agosto 2016

EM ESTADO DE CHAMA

 

EM ESTADO DE CHAMA

desejar é verbo que transborda
não se conjuga com calma
nem com censura

o corpo pede
mas é a alma que responde

e o que sinto
não cabe em pele
nem em perfume
nem em moldura de noites a dois

é algo entre o milagre
e o susto

como se teu riso
fosse a centelha
que acende um universo
em combustão controlada

e eu,
devoto dessa alquimia,
só sei arder

porque desejar-te
é estar vivo demais.

23 julho 2016

CORTE III



Corte III

sei.
sem chances.
sem culpas?
sem cura no curto prazo
sem barulho.

no quebrar dos vidros interiores.


.
.
.
Vicente
.
.

24 junho 2016

CORTE II

 


Corte II

soube desde já o que vinha de lá
sem entender nunca
esses mesmos dizeres
esses saberes que procurava
na noite mais escura
no silêncio mais redundante.
mesmo.

14 junho 2016

ORVALHO NA PELE

 

Orvalho na Pele

 

Sou herbáceo de nascença,

feito de terra e umidade.

Sinto o orvalho na pele e me resfrio,

não de temor, mas de verdade.

 

É a natureza em mim,

o que me liga ao chão e ao céu.

Cada gota que me toca,

um beijo gélido, um véu

de amanhecer que me abraça.

 

A pele arrepiada,

mas a raiz, firme.

É o ciclo que se completa,

a vida que se afirma.

No frescor da manhã,

sou folha que respira,

e em cada fibra, sinto

a promessa que a terra inspira.

23 maio 2016

PEGADAS NA AREIA DO TEMPO

 

Pegadas na Areia do Tempo

 

Eu caminho pela praia deserta da minha memória,

os pés afundando levemente

na areia fina e macia.

As ondas do esquecimento vêm e vão,

apagando e revelando as pegadas que deixei.

Algumas são profundas, marcadas a ferro e fogo,

outras, apenas leves depressões,

quase imperceptíveis.

 

Eu me inclino para ver melhor.

Aqui, a pegada de um riso alto,

um dia de sol que nunca mais volta,

mas que ainda me aquece o peito.

Mais à frente, a marca de uma lágrima solitária,

um momento de dor que me ensinou a força,

a resiliência que eu não sabia que tinha.

 

Há rastros de mãos dadas,

de companhias que me acompanharam por um trecho,

e depois seguiram outros caminhos.

E há as minhas próprias pegadas,

solitárias em alguns trechos,

firmes em outros,

revelando a jornada que é só minha.

 

Eu olho para trás,

para a vastidão do percorrido.

O vento da vida, às vezes,

traz o cheiro de maresia do passado,

e eu sinto a nostalgia suave que me invade.

Mas sei que não posso voltar,

apenas observar, reconhecer.

 

E então, eu olho para a frente.

A areia virgem se estende, infinita,

esperando por novas marcas.

Não sei que ventos soprarão,

que marés virão para apagar ou aprofundar.

Mas eu sigo em frente,

deixando minhas novas pegadas,

caminho a caminho,

sabendo que cada passo é um verso

escrito na areia do tempo,

único e irrepetível.

11 maio 2016

O VENTO NOTURNO NA JANELA VELHA

 

O Vento Noturno na Janela Velha

A cortina fina dança sem rumo (no ar frio que entra). 

Lá fora, a cidade dorme, 

mas o vento conta segredos antigos 

nas folhas das árvores. 


Há um cheiro de terra molhada 

e memórias distantes pairando no ar. 

As estrelas piscam, 

indiferentes ao murmúrio invisível 

que percorre a noite. 

Dentro do quarto, 

a penumbra guarda 

silêncios e esperanças.

09 maio 2016

PARÁGRAFOS

 

PARÁGRAFOS 

tenho umas mãos fartas de desejos,
que se encaixam em todas
as tuas reentrâncias,
teus ângulos,
tuas medidas
mais exatas.
percorrem todos os poros,
todos os pelos,
todos os sonhos,
até o interior das
tuas ranhuras.

com essas ferramentas me preparo,
abestalhado pela descoberta
das tuas belezas,
para invadir-te
os parágrafos que me guiarão
pelo interior
de novas palavras,
que formam frases
e denunciam dicionários.

07 abril 2016

O ECO DO AGORA

 

O eco do agora

 

Ontem não se vai,

mas se aninha

na pele do hoje.

 

Um sussurro do vento

traz a memória

de um riso esquecido.

 

Um toque, leve,

quase imperceptível,

desperta a ausência

de mãos que já foram.

 

E um olhar,

mesmo sem face,

projeta a imagem

do que ainda habita,

profundo,

no presente.

 

O passado

não é uma porta fechada,

mas um rio que flui

por entre as margens

do que somos.

11 fevereiro 2016

A CALMA QUE ACOLHE

 

A Calma que Acolhe

 

A voz embarga, o passo lento,

O olhar distante, o pensamento

Voa pra longe, sem chegar.

Não é defeito, é só cansar.

 

A pilha baixa, o fio quebra,

A mente pede uma trégua.

A força some, o riso some,

Não é fraqueza, tem um nome:

 

É só cansaço, a alma pede,

Um tempo, um colo, uma parede

Pra encostar, pra respirar,

Pra o corpo e a mente alinhar.

 

O mundo cobra, a vida corre,

Mas a exaustão, ela não morre

Com força bruta, com lutar.

É preciso se escutar.

 

Permita-se o silêncio, o nulo,

O abraço morno, o acalanto.

A pausa cura, reconstrói,

E o que hoje dói, amanhã já foi.

 

Não se culpe por sentir,

Por precisar de um canto pra existir.

Não é defeito, é só cansaço,

E a vida te oferece um novo espaço.

09 fevereiro 2016

CORTE I


 
Corte I

a navalha corta
quando você me pergunta
eu titubeio
mas respondo
que sim
a vida valeu a pena
porque toda mentira
tem um pouco de verdade.