"Porque são doces poesias encontradas aqui por poetas, poetisas e simpatizantes. Venha, faça dessa doceria a sua casa preferida. Lugar de sonhos e belezas da alma.
10 março 2010
RECOMEÇA A SEMANA
(Tributo a Marilu)
era tudo muito jovem e ainda éramos todos muito jovens.
eu me admirava com a serenidade que emanava da beleza dela
era começo de abril
se bem me lembro
quando se fizera o conhecimento das verdades
que a vida me mostraria.
não sei se havia flores-de-maio.
naqueles tempos
eu ainda aguardava a chegada dos doze anos.
uma dúzia de aniversários
e meia dúzia de sonhos.
e tinha na professorinha recém-chegada aos dezenove
o meu melhor presente.
não se cogitava em futuro.
as coisas aconteciam no agora
a vida urgia no presente
naquele presente
a vida na roça tem a vantagem das escondidas
por entre os emaranhados
do canavial
do milho verde
do laranjal.
o açude não era propriamente perto
e em seu caminho sempre se encontra uma curva a mais
uma moita a mais
uma vontade a mais...
eu me embriagava com a sua vontade
de me mostrar os caminhos.
seis ou sete anos mais velha
mas ainda assim jovem.
a terra vibrava por sob nossos corpos
e não havia meios de nos fazer parar
não se percebe
ainda
a presença da virilidade
e a infância ainda se arrisca nos estilingues
e bolinhas de gude
mas o pensamento é de homem feito
de quem já tem cabelo no peito
calor no beijo
e amor com jeito.
começa a semana e sente-se a vontade
de verter-lhe nos lábios o olhar
um olhar na boca entreaberta perfeita
nas pernas lisas e claras de menina rica
e a perfeita sincronia das virilhas e do umbigo.
sincronia
também
entre dentes e língua
e bocas que se procuram
em toques esbaforidos
braços
com medo das amplidões
e dos descampados
começo dos vôos
em territórios inexplorados
beijos e pescoços
e seios
e nucas.
cabelos de ouro
escorrendo pela aura
pelos ombros
pela grama.
e a vontade
de adivinhar-lhe a alfazema
rescendida debaixo do diáfano vestido de algodãozinho?
sem maiores detalhes
a não ser seu próprio corpo
tão detalhado.
aí as cores enfeitavam os céus
o açude era mais refrescante
e os frutos sazonados
mais abundantes.
e quando a semana
já se sentia tão catastroficamente confusa
a ponto de perceber-se
que todo sábado ela precisava voltar para
a casa dos pais
na cidade?
todos os eixos
saíam de seus encaixes
e era como se de repente
se morresse por dois ou três dias.
morria-se.
milhares de mortes.
sem que ninguém à volta entendesse.
até que outra semana começasse.
e as estações se sucediam.
novos ventos
e posições
pelos medos
e pelas imposições da situação que chega
com a chegança da puberdade.
ainda segredo
como sempre.
nada de mistério
mas segredo
guardado
a ferro e cadeado.
aos dezesseis a mudança
a ida
a partida
a alma ferida
até o ponto do choro
e lágrimas mais sentidas
por dias
e dias
a cabeça completamente perdida.
centenas de vezes
imortalizada na carne
e no pensamento
no coração
e no fogo das paixões mais desejadas.
alguma incursão esporádica
com a chegada do quartel e da farda
mas nada que pudesse desmanchar
seu matrimônio
que viria perfeito
feito de inteligência
repressões
e conveniência.
estou me despedindo de você
“Maria”.
onde quer que você chegue
Deus há de lhe fazer companhia.
vá
chegue primeiro
novamente
busque mais além
(nas estrelas)
o lânguido bafejar da satisfação
por ter-nos feito
interpretados e entendidos
e creia:
onde quer que você chegar
a semana haverá de recomeçar.
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Vicente
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3 comentários:
Olá Vicente!
Que linda a história do menino que virou homem... Que bom ter no passado alguém com o poder de recomeçar a semana... Sua poesia é doce!
Um beijo!
Olá Vicente!
Que linda a história do menino que virou homem... Que bom ter no passado alguém com o poder de recomeçar a semana... Sua poesia é doce!
Um beijo!
Ah quem nunca passou por isso não sabe a tremenda sensação que perdeu. Não sabem. abraços
http://poesiafotocritica.blogspot.com/
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