01 junho 2025

QUANDO TUDO AFASTA

 

Quando Tudo afasta

não é a ausência que leva embora,
é a clareza que chega com o tempo quieto.

quando os dias se alongam
e ninguém chama,
quando a agenda se esvazia
e ninguém aparece,
algo se ajeita por dentro.

não some,
só muda de tom.
e aquilo que parecia distante
cresce em nitidez,
feito estrela que só se nota
quando a cidade dorme.

não é o sumiço que apaga,
é o silêncio que traduz.

e aí percebo:
algumas ligações não quebram,
só se reinventam no eco.
ficam em mim
feito mapa que só se lê
quando o mundo desacelera.

talvez eu tenha sido parte de algo maior
do que imaginei,
e só percebi
agora —
com tudo em pausa,
e o coração
acordado.


 Quando tudo afasta - (Narrativa Poética) 

No começo achei que estava perdendo.
As mensagens rarearam,
os convites cessaram,
as rotinas se fecharam sem mim.
Senti o chão recuar
como se alguém tivesse puxado o tapete
enquanto eu ainda falava.

Mas aos poucos,
os dias esticaram sem ruído.
O telefone permaneceu mudo,
as horas se tornaram vastas
e eu me vi no centro de um espaço
antes coberto de vozes.

E então veio a clareza.
Não do tipo que grita ou ilumina.
Veio sutil, como um lençol de bruma
levantando aos poucos da paisagem.
De repente, vi nitidamente
o que antes era confusão.

Não era o afastamento que doía,
era o que ele revelava.
Porque a distância não leva embora.
Ela mostra.
Ela tira o excesso,
e o que fica… é verdade.

O que parecia longe ganhou contorno.
Como uma estrela que só brilha
quando a cidade apaga os barulhos,
quando a gente enfim olha pro alto.

Com o silêncio,
vieram outras compreensões.
Laços não quebram — não os reais.
Eles apenas mudam de voz.
Saem do grito, entram no sopro.
E às vezes ecoam mais no vazio
do que quando estavam por perto.

Eu percebi.
Sem ter pra onde correr,
sem agenda cheia pra disfarçar.
Percebi que fui parte de algo bonito.
Talvez maior do que pude notar na pressa.
E só agora,
com tudo em suspensão,
meu coração entendeu.

Ele não estava sozinho.
Só estava… acordando.



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