28 junho 2025

TALVEZ EU ME DÊ UMA IMPORTÂNCIA

  

Talvez eu me dê Uma Importância

talvez
eu me dê uma importância na sua área afetiva
que você nunca me deu.

talvez
eu more em um cômodo do seu coração
que nem existe.
talvez eu tenha inventado a chave,
a porta,
e até a planta da casa.

talvez
eu tenha lido sorrisos como sinais,
mensagens como promessas,
silêncios como espaço reservado.

no fundo,
talvez você só tenha me deixado passar,
como quem segura o elevador pra alguém estranho —
educado, mas sem destino comum.

talvez eu tenha feito altar
onde você só estendeu a toalha do café.
talvez eu tenha sonhado à beça
num campo onde você só encostou pra descansar.

e tudo bem.
não é erro seu.
não é maldade minha.
é só desencontro de sintonia —
a velha arte de supor reciprocidade
em ondas diferentes.

talvez eu me dê uma importância
que não tenho.
mas olha:
a minha parte foi sincera.
e às vezes, isso basta
pra seguir em paz.



14 junho 2025

DISTÂNCIA NÃO APAGA


 

Distância Não Apaga

dizem por aí
que a distância apaga sentimento,
que o tempo arrasta tudo
pro fundo do mar da memória.

mas olha —
essa é uma das maiores mentiras da história.

porque a distância não apaga.
ela limpa.
ela decanta.
ela tira o barulho em volta
e deixa só o que é mesmo sentimento de verdade.

e aí, quando tudo silencia,
eu percebo:
o que já parecia grande
é maior que um gigante.

é presença que não precisa de presença.
é nome que ecoa mesmo quando ninguém chama.
é carinho que não precisa de motivo novo.
é amor que não entende de geografia.

o tempo passa,
a cidade muda,
a gente finge que esqueceu —
mas o coração tem jeito próprio
de guardar o que foi puro.

e por mais que o mundo repita
que a distância esfriou,
a verdade é que ela só me mostrou
que o teu lugar em mim
não era provisório.

era raiz.



01 junho 2025

A MEMÓRIA DO FUTURO NÃO VIVIDO

  

A Memória do Futuro Não Vivido

 

Entendo perfeitamente essa sensação. É como se esse eco silente fosse a própria voz de um futuro que se desenhou na minha juventude, uma promessa que, por algum motivo, não se concretizou. É a melancolia doce de um caminho que esteve ali, quase palpável, e que hoje habita minhas lembranças como uma paisagem ancestral, visitada apenas pelo pensamento.

 

Essa juventude, tão distante agora, guarda os vestígios daquele "eu" que sonhava e planejava, e cujos desejos ecoam ainda hoje, mesmo que de forma discreta. É uma parte da minha história, rica e complexa, que continua a existir nesse espaço íntimo entre o passado e o presente.

 

 

 

 

QUANDO TUDO AFASTA

 

Quando Tudo afasta

não é a ausência que leva embora,
é a clareza que chega com o tempo quieto.

quando os dias se alongam
e ninguém chama,
quando a agenda se esvazia
e ninguém aparece,
algo se ajeita por dentro.

não some,
só muda de tom.
e aquilo que parecia distante
cresce em nitidez,
feito estrela que só se nota
quando a cidade dorme.

não é o sumiço que apaga,
é o silêncio que traduz.

e aí percebo:
algumas ligações não quebram,
só se reinventam no eco.
ficam em mim
feito mapa que só se lê
quando o mundo desacelera.

talvez eu tenha sido parte de algo maior
do que imaginei,
e só percebi
agora —
com tudo em pausa,
e o coração
acordado.


 Quando tudo afasta - (Narrativa Poética) 

No começo achei que estava perdendo.
As mensagens rarearam,
os convites cessaram,
as rotinas se fecharam sem mim.
Senti o chão recuar
como se alguém tivesse puxado o tapete
enquanto eu ainda falava.

Mas aos poucos,
os dias esticaram sem ruído.
O telefone permaneceu mudo,
as horas se tornaram vastas
e eu me vi no centro de um espaço
antes coberto de vozes.

E então veio a clareza.
Não do tipo que grita ou ilumina.
Veio sutil, como um lençol de bruma
levantando aos poucos da paisagem.
De repente, vi nitidamente
o que antes era confusão.

Não era o afastamento que doía,
era o que ele revelava.
Porque a distância não leva embora.
Ela mostra.
Ela tira o excesso,
e o que fica… é verdade.

O que parecia longe ganhou contorno.
Como uma estrela que só brilha
quando a cidade apaga os barulhos,
quando a gente enfim olha pro alto.

Com o silêncio,
vieram outras compreensões.
Laços não quebram — não os reais.
Eles apenas mudam de voz.
Saem do grito, entram no sopro.
E às vezes ecoam mais no vazio
do que quando estavam por perto.

Eu percebi.
Sem ter pra onde correr,
sem agenda cheia pra disfarçar.
Percebi que fui parte de algo bonito.
Talvez maior do que pude notar na pressa.
E só agora,
com tudo em suspensão,
meu coração entendeu.

Ele não estava sozinho.
Só estava… acordando.