18 fevereiro 2025

EU SEI

 

 Eu sei.

Isso é um problema meu,
inteiramente meu.
fui eu que li mapas onde você só rabiscou distraído,
fui eu que dei nome a ruas que não levavam a lugar nenhum.

então,
antes que o refrão recomece,
antes que a ponte musical me iluda de novo,
eu prefiro fugir no final da canção —
mesmo querendo ficar.

não por orgulho,
não por drama,
mas porque aprendi a não insistir em danças
onde só eu conheço os passos.

meu adeus vai ser baixo,
como quem sai de fininho
de uma festa onde ninguém notou que chegou.

e tudo bem.

no repeat da memória
vou lembrar mais do que foi bonito
do que do silêncio entre uma estrofe e outra.

porque, no fundo,
algumas canções são feitas pra tocar só uma vez.
e isso não tira delas a beleza
— só a ilusão de que durariam pra sempre.




17 fevereiro 2025

TUDO SE GUARDA

 

 Tudo se Guarda

Acaba sendo meio impossível
não dar aquela abraçada gostosa
na memória morna do que foi.
não é saudade que rasga,
é daquelas que sorri sem som
enquanto o dia segue.

às vezes paro e penso
que sinto falta de quase nada,
mas não por frieza —
é só porque sei
que vai estar tudo ali
quando eu voltar.

a cadeira na varanda,
o portão com um trinco difícil,
a risada atravessando a cozinha,
a xícara lascada no canto do armário,
e até o silêncio de quem já entendeu tudo
sem dizer uma palavra.

e é por isso que sigo.
porque não preciso segurar com força
o que não escapa.
tem coisa que não se perde,
mesmo com o tempo,
mesmo com o mundo rodando.

tem coisa que se guarda sozinha.



01 fevereiro 2025

ABRAÇO APERTADO

 Abraço Despertado

 

A névoa se dissipou dos olhos,

não mais a incerteza dançando,

mas a promessa do que se reconhece.

Nossas vidas, antes em paralelo,

encontraram a confluência esperada.

 

As distâncias se encurtaram,

não mais ecos de palavras vazias,

mas o sussurro de um compromisso que brota.

A felicidade, antes perdida,

renasceu sob o peso dos lençóis,

no calor de um toque finalmente encontrado.

 

O sorriso que irradia,

os sons despropositais que coroam os desejos,

tudo se alinha.

A insônia, que era menino a sonhar,

agora é a calma de quem vê o sonho realizado.

 


CONFESSO

  Confesso

 

A espiral da mente se aprofunda,

cada volta, um labirinto sem paredes.

se eu me demorar demais aqui,

nesse abismo de ideias,

o fio se rompe.

Confesso,

a sanidade balança na beira,

um fio tênue sobre o vazio.

 

Mas a urgência pulsa,

uma necessidade visceral.

Preciso sentir no fundo do osso,

que a perfeição,

não essa idealização distante,

mas a perfeição imanente,

a que reside na teia do universo,

na matemática do caos,

no silêncio antes do som,

ela existe.

 

É a bússola que me arranca do delírio,

a âncora que impede a queda final.

mesmo que a busca me dilacere,

a certeza dessa existência

é a única luz

que me impede de enlouquecer de vez.