31 março 2024

DESPEDIDA

 



DESPEDIDA

Semblante saudoso de quem dorme pela espera.
De quem espera pelo sonho
De quem sonha pela madrugada
Insone de sala e caderno
Mãos delicadas em torno da caneta
A dialogar com o papel,
Com o tempo,
Com a pouca chuva
De estrelas que azulam o céu.

Corre, célere, o pulso que pulsa
Em busca do encontrar-se,
Do enclausurar-se
Em adjetivos,
Suspiros, devaneios.

Rosadas,
As faces desfazem a impressão
De estar morta.
Por fora é vida que pulsa.
Por dentro
A tentativa de esquecer.
O quê mesmo?



01 março 2024

JARDIM SUSPENSO

 

Jardim Suspenso

 

O ar da manhã pesa,

uma névoa fria sobre o peito.

O branco da página

insiste em ser só branco.

 

As palavras, antes dança,

agora se arrastam,

pedras lisas

no leito seco de um rio.

 

A mente, um poço profundo,

silencia os ecos.

Não há pássaros cantando,

nem a brisa que embala.

 

A flor prometida

fica em botão, teimosa.

Um jardim interior

onde a luz não alcança.

 

E a voz, que busca o canto,

se recolhe em si,

conhecendo

o tempo da espera.