06 dezembro 2022

RESISTÊNCIA NO LIMITE

  

 Resistência no Limite

 

E a resistência no limite,

uma batalha silenciosa e inglória.

Não é força que impulsiona,

é a última reserva, o fôlego arranhado

que se nega a ceder, a desabar.

 

Os músculos tremem, a mente vacila,

mas algo insiste, algo persiste.

É a teimosia da sobrevivência,

a recusa em aceitar a derrota,

mesmo quando a vitória é apenas a não-queda.

 

Nesse ponto extremo, a dor se confunde com a inércia,

e o desejo de parar é tão forte quanto a ânsia de continuar.

É a dignidade do fio esticado,

que se recusa a se romper,

ainda que cada fibra clame por alívio.

 

 

 


30 novembro 2022

A PROMESSA DO VAZIO

  

A Promessa do Vazio

 

E a promessa do vazio, uma melodia suave

que sussurra alívio onde antes só havia caos.

Não é uma ameaça, mas um convite,

a certeza de que, ao fim, tudo se dissolve,

e a pressão cessa, e o ruído se cala.

 

É o vislumbre de um descanso absoluto,

onde as perguntas se apagam sem respostas,

e os problemas se desfazem em nada.

O vazio, então, não é mais um abismo a ser temido,

mas um horizonte sereno,

onde a paz finalmente se instala,

uma calmaria sem fim para a alma exausta.

 

 

 

01 novembro 2022

A ÂNSIA DO VAZIO

 

 A Ânsia do Vazio

 

E a ânsia do vazio, uma sede estranha

por aquilo que não tem forma, não tem som.

Não é medo do nada, é o acolhimento que se busca,

a promessa de um espaço onde a dor não ecoa,

onde a intensidade se dilui em silêncio puro.

 

É o chamado da ausência,

um convite para desaparecer,

para que o fio se desfaça de vez,

e a pressão ceda, e o peso se esvai.

O vazio, então, não é mais ameaça,

mas um refúgio, um ponto de fuga,

onde a existência se apaga

e finalmente se encontra a paz que a vida nega.

 


19 outubro 2022

TRANSBORDO

 

TRANSBORDO

escorri um pouco de mim
na curva do teu colo
não como quem entrega
mas como quem escapa

eram só gotas —
mas continham mapas antigos
de quando meu nome
ainda era sede

nos tocamos
como se o tempo tivesse
ficado preso na garganta

e quando pensei ter ido embora
vi que parte de mim
ficara ali
pulsando em ti

feito nascente esquecida
no meio da tua enchente.



15 setembro 2022

ENCONTRO SEM CONTRATO

 Encontro Sem Contrato

 

Não te pedi nada,

Nem tampouco prometi

o que não sabia

e nem sei.

Minha presença foi sempre

um rio

que corria livre ao teu lado,

sem margens definidas pelo desejo.

 

Havia em cada riso,

um eco de nós.

Em cada silêncio,

uma paz

de ser quem se é,

(sem edições).

Houve roteiro para as horas?

Nãããoo!

Apenas o fluir de duas almas

que se encontraram e se reconheceram.

 

Dar-me a ti foi o único retorno a mim,

à alegria simples de compartilhar:

o ar, a vista, o pensamento incerto.

Esse é o dom

que se renova a cada instante,

feito de transparência

e leveza.

 

Somos o que resta

quando

as expectativas se dissolvem,

quando

a verdade faz parte,

é companhia e companheira,

é a única moeda que vale.

 

E nessa doação pura,

encontro o meu mais vasto mar.

18 julho 2022

MELODIA INACABADA EM MIM

 

Melodia Inacabada em Mim

 

Em meu canto, tecia palavras,

fios soltos de um destino que sonhava.

Cada verso, um espelho partido,

refletindo a ausência da tua forma

que em mim não encontrava eco.

 

Cantei silêncios,

e de cada nota vazia

fui esculpindo o que resta:

o contorno de um eu

moldado pela falta do teu ritmo.

 

Busquei a rima,

não nas sílabas que se abraçam,

mas na batida do teu coração

que eu queria sincronizar ao meu.

Em vão.

 

Assim me fiz,

enquanto a poesia me inventava

e ao mesmo tempo

me desnudava

da ilusão de um dueto.

Sou agora a canção sem compasso,

mas inteira na sua própria dissonância.

27 junho 2022

O SENTIDO DESCONHECIDO

 O Sentido Desconhecido

 

Dentro de mim, no profundo do "eu",

um sentido me habita e eu não o conheço.

É como uma melodia sem nome,

um tom que ressoa, mas não se revela.

Eu, o homem que busca,

sinto a presença,

a pulsação de algo maior,

mas a chave para decifrar

ainda me escapa.

 

É um eco de verdades antigas,

uma intuição que guia

sem mostrar o mapa.

Há uma sabedoria silenciosa,

plantada em algum jardim secreto

da minha alma,

que floresce sem que eu veja

suas cores ou sinta seu perfume.

 

Tento alcançá-lo,

com as mãos da mente,

com os olhos da alma,

mas ele se esconde

na fresta entre o consciente e o sonho.

É a bússola que aponta para o invisível,

o farol que ilumina o que não se compreende.

 

E nessa dança entre o que sou

e o que ainda não sei,

persistência é a única resposta.

Porque mesmo desconhecido,

esse sentido me habita,

e em sua presença misteriosa,

encontro a promessa

de uma descoberta que ainda virá.

 

 

25 junho 2022

SEM PAR

 SEM PAR

 

agora é em casa

no chão

no quarto

com ana carolina

com chico buarque.

irritado sem razão

consciente

das possibilidades

repleto

das vontades.

sinto-me gente

como sempre

como pele a saber onde me dói.

são olhos pesados

passando páginas de álbuns

amarelecidos.

aqueles que deixei guardados

crescendo a amizade e o carinho

por trazer as suas fotos (dela)

enquanto aumento o som

e ensaio

solitário

alguns passos de

uma dança

que atormenta a lembrança.

21 junho 2022

SEMENTE AFOGADA

 Semente Afogada

 

Há um eco no peito,

um grito sem garganta,

abafado antes do som,

engolido pela própria sede.

 

Ele se enrosca nas costelas,

pesa na respiração,

um lamento mudo

por tudo o que queria ser voz.

 

E ao lado, no mesmo solo árido,

jazem as sementes:

desejos sem sol, sem orvalho,

que jamais encontram a luz.

 

Permanecem submersos,

promessas de flor que não vingam,

destinados ao esquecimento

na escuridão de um "se fosse".

 

 

 

17 junho 2022

CORRENDO EM CÍRCULOS

 Correndo em Círculos

 

O caminho se repete,

o mesmo passo, a mesma pedra,

embora o cenário mude

no labirinto da cabeça.

 

As ideias voltam,

ecos de ecos,

perguntas antigas

sempre à tona,

uma fita rebobinando

o que nunca teve fim.

 

É o tic-tac da dúvida

que não se cala,

o compasso do ser

preso em sua própria jaula

de vidro transparente,

onde a saída é sempre a entrada.

 

Canso de girar em torno do mesmo,

de buscar o nó

que desata a alma,

mas encontro apenas o começo

de um novo e idêntico amanhecer.

 

E neste eterno retorno,

a única certeza

é o movimento circular,

a infinita dança

que me leva de volta

ao ponto exato

onde nunca estive.

 

 

01 junho 2022

CADERNO DA MISERICÓRDIA II

 




Caderno da Misericórdia II

Epígrafe
"Senhor, tende piedade, e fazei brilhar a vossa luz em nossas sombras."

Sumário

Parte I — Kyrie Eleison
Parte II — Christe
Parte III — Nocturnus
Parte IV — Glória do Perdão
Parte V — Lumina
Parte VI — Misericórdia
Parte VII — Cântico dos Perdoados
Parte VIII — O Refúgio
Parte IX — Horizonte de Esperança
Parte X — Chama Viva
Parte XI — Abraço de Fogo
Parte XII — Confiança Renovada
Parte XIII — Presença Divina
Parte XIV — Rio de Misericórdia
Parte XV — Esperança Viva
Parte XVI — Chama de Fé
Parte XVII — Caminho da Paz
Parte XVIII — Abraço Consolador
Parte XIX — Refúgio da Alma
Parte XX — Reino da Misericórdia
Parte XXI — Cântico da Esperança


Parte I — Kyrie Eleison

Senhor, tende piedade,
Mesmo quando o coração falha,
Tua misericórdia é abrigo,
Sopro que acalma a alma cansada.


Parte II — Christe

Ó Cristo, luz em meio à dor,
Confiança que nunca esmorece,
Mesmo nas noites mais escuras,
Tua graça renova e aquece.


Parte III — Nocturnus

Nas sombras, teu rosto busco,
Silêncio que sussurra esperança,
Mesmo em pranto e solidão,
Teu amor é presença constante.


Parte IV — Glória do Perdão

Na entrega, encontro alívio,
No perdão, renasce a vida,
Tua glória, Deus misericordioso,
Transcende toda a ferida.


Parte V — Lumina

Luz que rompe a escuridão,
Clareia o caminho sofrido,
Em cada passo, tua mão,
Guia o espírito rendido.


Parte VI — Misericórdia

Fonte viva que não seca,
Rio que lava o pecado,
Teu amor, eterna promessa,
Abraça o ser fragilizado.


Parte VII — Cântico dos Perdoados

Cantam os corações libertos,
Em notas de pura gratidão,
Pois quem é tocado por tua paz,
Floresce em plena renovação.


Parte VIII — O Refúgio

Abrigo seguro na tormenta,
Fortaleza onde posso descansar,
Em ti, encontro calmaria,
Paz que ninguém pode tirar.


Parte IX — Horizonte de Esperança

Além da dor, há um amanhecer,
Cores que pintam a promessa,
Tua misericórdia me sustenta,
Firmando minha leveza.


Parte X — Chama Viva

Fogo que arde sem consumir,
Luz que aquece o coração,
Em teu abraço, chama viva,
Renovo e redenção.


Parte XI — Abraço de Fogo

Teu amor que incendeia a alma,
Purifica o que há de velho,
No abraço que tudo transforma,
Descanso e zelo.


Parte XII — Confiança Renovada

Mesmo quando o céu desaba,
Firmo os pés na tua palavra,
Confiança que se renova,
No abraço que nunca se acaba.


Parte XIII — Presença Divina

Tua luz brilha no silêncio,
Companhia que não se ausenta,
No íntimo do meu ser,
Tua paz é a maior semente.


Parte XIV — Rio de Misericórdia

Águas puras que descem suaves,
Lavando as marcas da dor,
Neste rio encontro vida,
Fonte eterna de amor.


Parte XV — Esperança Viva

No horizonte que desponta,
Surgem cores de novo dia,
Tua promessa me sustenta,
Vive em mim a alegria.


Parte XVI — Chama de Fé

Fogo que aquece e ilumina,
Sem jamais se apagar,
A fé que em meu peito habita,
Me ensina a caminhar.


Parte XVII — Caminho da Paz

Passo a passo, em tua luz,
Vou trilhando sem temer,
No caminho que conduz,
O descanso a florescer.


Parte XVIII — Abraço Consolador

Quando o pranto quer vencer,
Teu abraço me envolve, enfim,
Sopro suave que me traz,
Calma, vida e jardim.


Parte XIX — Refúgio da Alma

Em ti encontro morada,
Lugar seguro e sagrado,
És porto e calmaria,
Meu descanso abençoado.


Parte XX — Reino da Misericórdia

Em teu reino sem fim,
Reina amor e compaixão,
Sou filho e herdeiro,
Da eterna redenção.


Parte XXI — Cântico da Esperança

Canto que não se cala,
Mesmo na dor e na prova,
Esperança que avança,
Na alma que se renova.





 



23 maio 2022

ECOS DO PASSADO

 

Ecos do Passado

ouvem-se passos distantes
no corredor do tempo
vozes que ainda sussurram
entre paredes esquecidas

o passado é um eco
que nunca se cala
uma sombra que dança
nas luzes do presente

às vezes dói ouvir
às vezes acalma
mas sempre lembra
quem somos e de onde viemos

carrego esses ecos
como um livro aberto
onde cada página
fala de luta e de amor

e mesmo que o tempo
tente apagar a voz,
o passado ressoa
na alma que escuta

19 maio 2022

ENTRE SILÊNCIO E VERBO

 Entre Silêncio e Verbo

Quase desconfortável
eu preciso escolher
entre silêncio e verbo.

o silêncio —
esse véu pesado
que me protege e me prende,
me deixa inteiro
e invisível.

o verbo —
esse risco.
ao ser dito,
não volta.
ao ser gritado,
marca.
ao ser sussurrado,
se arrisca a ser mal interpretado.

há dias em que sou o silêncio,
por medo.
outros, o verbo,
por urgência.

mas sempre
há esse instante entre os dois,
um limiar
onde sou só
pele e escolha.

e ali,
quase desconfortável,
respiro fundo
e salto:

palavra.

28 abril 2022

CIDADE EM LIMIAR

 

Cidade em Limiar

Entre o claro e o escuro
a cidade suspira
num fôlego contido
entre a noite e o dia

as luzes hesitam,
os passos desaceleram
e tudo parece esperar
algo que ainda não veio

é um espaço invisível,
um limiar silencioso
onde o tempo se dobra
e o impossível se faz possível

a cidade em limiar
é ponte e margem,
é caminho e parada,
é sonho que desperta

ali, entre sombras e luz,
encontro pedaços meus
escondidos na espera
prontos para renascer

20 abril 2022

TAMBÉM VOU SER POETA

 

TAMBÉM VOU SER POETA 

também queria viajar,
ir e ficar
em pasárgada (sei lá).
e, pelo estatuto do poeta,
tenho direito a pagar meia passagem —
e o pagamento será feito em gramas de sonho.

rompendo as ânsias e lá chegando,
tenho direito ainda
a fixar residência
onde bem me aprouver,
desde que haja cachoeiras por perto
e libélulas gritem cantos
como cotovias,
e sabiás saibam seus ninhos nas palmeiras,
e que explodam girassóis
desde o mais tenro início de inverno,
que não poderá ser
nem muito frio
nem muito distante.

não quero que haja reis,
e sim princesas,
e rainhas brotem aos cachos
como pingo-de-ouro,
e se deixem ser amadas
por seus cavaleiros errantes
assim como eu.

e, quando eu voltar às realidades daqui,
quero ser reconhecido
pela minha eloquência embandeirada
e pela alcunha de:
“poeta, o audaz”.

19 abril 2022

LABIRINTO SEM MAPA

 

LABIRINTO SEM MAPA

não sei dizer quando começou
talvez numa tarde qualquer
quando a luz do quarto parecia errada
ou quando o silêncio das coisas
ficou mais alto que o meu fôlego

senti um não-sentir
uma vontade vaga
de sumir
mas deixando recados nos espelhos

tudo parecia um gesto inacabado
entre querer e não querer
entre ir e ficar
como se meu corpo vacilasse
numa fronteira invisível

nenhuma palavra era suficientemente funda
nenhuma ausência, suficientemente ruidosa
para explicar esse vácuo que
não cabe em poema

apenas sigo
com esse pressentimento
de estar sempre
numa espécie de labirinto sem mapa
onde até o erro parece familiar.

31 março 2022

LUGAR DE VOLTAR

 

LUGAR DE VOLTAR

a dor não latejava
ela pairava
como uma poeira miúda
depois de um desmoronamento

na pausa entre um suspiro e outro
enxerguei as pessoas
como se fossem partes de um mesmo enjoo
passando rápidas
como quem evita perguntas

eu, ali,
num carro quieto
sem rumo
com os olhos encostados no tempo

queria que a cidade soubesse
que eu estava cansado
e que alguém me dissesse
sem pressa,
“vem, aqui é casa.”

mas o semáforo mudou
e a vida seguiu sua marcha automática
eu apenas fiquei
no desejo de recomeço
que ainda não sei como se faz.

06 março 2022

O PULSAR DA PROMESSA

 

O Pulsar da Promessa

Um rubro intenso, não de sangue ou fúria, mas da cereja madura, do sol que se derrama no horizonte.

Essa promessa pulsa, quase palpável, na quietude que precede o trovão, no brilho úmido da terra molhada.

Não são palavras emolduradas, nem juramentos ao vento. É a vibração sutil que emana do encontro de olhares, do toque breve que acende a pele.

Um instante... apenas uma fração do tempo, onde as defesas se desfazem, onde o medo se curva à certeza.

A entrega é total, um mergulho sem reservas, no agora que se expande, abolindo passados e futuros.

Nesse núcleo incandescente, onde a promessa se cumpre sem ser dita, onde a entrega floresce sem amarras, existe apenas o ser, vibrando em uníssono com a pulsação do universo.

E a lembrança desse instante, esse rubro na memória, torna-se a bússola silenciosa, guiando os passos em direção a outras entregas vibrantes.

07 fevereiro 2022

PULSAÇÃO INTERIOR

 

Pulsação Interior

Sinto em mim um compasso demorado, não a pressa da superfície, mas a batida funda da terra.

Um ritmo lento, como as ondas quebrando na praia distante, um vai e vem constante, que escapa à pressa dos ponteiros.

Uma contração do eu, o recolhimento da energia, o silêncio que precede a palavra, o instante denso antes do florescer.

E então, a expansão sutil, o desabrochar lento da consciência, o preenchimento do espaço interno, a suave irradiação do ser.

Este pulsar íntimo, essa maré interna, não se apressa, não se força, apenas acontece, em sua cadência própria.

É o respirar da alma, o bater do coração da identidade, um ciclo constante de interiorização e manifestação.

Sinto este ritmo em cada célula, na quietude dos pensamentos, na profundidade das emoções, uma dança ancestral do ser que sou.

E nesta lenta pulsação, nesta sutil contração e expansão do eu, encontro a melodia fundamental da minha própria existência.

31 janeiro 2022

RECOMEÇO EM TRÂNSITO

 

RECOMEÇO EM TRÂNSITO

fiquei ali
entre o motor desligado
e a vontade de desaparecer

a cidade não me esperava
as pessoas
atravessavam a rua como se soubessem
pra onde iam

eu, não.

havia uma pausa em mim
um semáforo interno piscando amarelo
há dias
me pedindo cautela
me impedindo o passo

pensei em você
e no tempo que pediu
como quem pede troco
e vai embora antes de receber

quis voltar pra casa
mas onde é isso
se a casa era você?

meus olhos seguiram a pressa dos outros
mas meus ombros afundaram no banco
como quem sabe
que certas dores
só aliviam quando
alguém volta.

e você não voltou.

01 janeiro 2022

VERÍDICO

 

VERÍDICO

 Ruínas Íntimas

 

Pontes desabam sob meus pés,

como cadafalsos da alma.

A travessia interrompida,

o abismo escancarado,

onde a esperança se espatifa

em destroços e silêncio.

 

Cada passo tentado,

uma nova ruína a surgir.

Os pilares da fé, corroídos,

cedem ao peso invisível

da angústia e da incerteza.

 

O corpo cambaleia na borda,

o olhar perdido no vão.

As promessas de outrora,

agora fantasmas pálidos,

pairam sobre a cratera.

 

E no lugar da passagem segura,

apenas a memória da travessia,

um eco distante de um tempo

em que os caminhos se abriam

sem a ameaça constante da queda,

sem a fria constatação

de que o chão pode sumir

sob o peso dos próprios passos.