27 junho 2007

A PERGUNTA QUE DESPERTA

 A Pergunta que Desperta

 

A suave interrogação,

um fio de voz no ar,

desatou em mim a torrente

de um querer que não recua.

Irreversível, contundente,

nosso olhar se alonga,

já na paisagem do amanhã.

 

Ela viu em mim o mapa inteiro:

o timbre que falava,

o brilho que observava,

os gestos, ensaiados ou não,

o rastro do cheiro que fica,

o cabelo em seu desarranjo.

 

Essa pergunta,

tão leve e tão cheia de intenção,

confirmava a percepção.

Sim, ela havia sentido,

havia reconhecido,

que em nossa história,

um novo tempo, sim, já amanhecia.

 


26 junho 2007

O PESO LEVE DA NOSTALGIA

 

O Peso Leve da Nostalgia


Eu sento no banco da praça,

o sol da tarde pintando as folhas das árvores

com um dourado suave e melancólico.

Vejo as crianças correndo,

suas risadas leves e soltas

como as folhas que o vento carrega.

E em mim, uma sensação familiar se instala,

um peso leve,

quase etéreo,

que reconheço como nostalgia.

 

Não é a tristeza cortante da perda,

nem a angústia do que não foi.

É algo mais sutil,

como a poeira dourada que dança nos raios de luz.

É a lembrança de verões distantes,

de abraços que hoje só existem na memória,

de conversas que se perderam no tempo,

mas que ainda ecoam em meu peito.

 

Eu sinto o cheiro de grama molhada após a chuva,

e sou transportado para a infância,

para os joelhos ralados,

para o gosto de terra e aventura.

Escuto o latido de um cão no quarteirão vizinho,

e me vem à mente o meu primeiro amigo de quatro patas,

sua lealdade incondicional,

seu olhar doce.

 

É um paradoxo, essa nostalgia.

Um fardo que, de alguma forma, me eleva.

Ela me lembra do que já vivi,

da riqueza das experiências que me moldaram.

É a âncora do passado que me mantém conectado

às raízes do meu ser,

às versões de mim mesmo que já não existem,

mas que deixaram suas pegadas no caminho.

 

Eu fecho os olhos,

e por um instante, estou lá,

naqueles dias que já se foram.

Quando os abro,

o sol ainda brilha, as crianças ainda correm,

e o mundo continua em seu fluxo constante.

Mas eu sinto uma doce melancolia no peito,

uma gratidão silenciosa

por todas as memórias que carrego,

tornando o presente mais denso,

mais significativo.

15 junho 2007

REMARIA (PEDRO MONTEIRO)

Conforme combinado com o poeta e amigo Pedro Monteiro, vou reiniciar a fase de publicar poemas, poesias e textos dos amigos aqui em meu blog.
Quem me acompanha desde 2005 sabe que já passei pela desagradável experiência de refazer meu blog devido a alguns contratempos provocados por alguns anônimos invejosos.
Com mais cautela pretendo inaugurar um novo tempo e para isso desejo a colaboração de vocês.
Quem for contrário à publicação de seus trabalhos (juntos com os meus) em meu blog, com todos os créditos, etc... etc..., manifeste-se, por favor.
O início vai ser esse excelente "Remaria" do Pedro, que eu considero um dos melhores.
Na caixinha de comentários, manifestem-se quanto ao conteúdo da poesia do Pedro e, por favor, se são contra, afirmem que não querem ver seus trabalhos publicados aqui, e que o atual esquema de apenas pequenas citações, como tenho feito, já é suficiente, ou digam se são contrários também a esse esquema.
OK? Conto com vocês.
Doces.
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Vicente
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Remaria


Remaria no mar é o passar do dia

Remaria é re-ser a mãe da poesia

Ver por cima das ondas o sol nascer

Uma onda atrás da outra, uma manhã atrás da outra

Remaria noite e dia.



Ver no fundo após as ondas, onde o mar é calmaria

É ser o mar dentro e a areia fora

Onde a vida partiria



E às vezes ver a praia como partida

Na maré salgada e tarde ardida



É ter de chão a areia

E ter de lar a maresia

Remaria, remaria.
.

Pedro Monteiro
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COMEÇAR CHORARE

do que vivemos
sobraram o que começamos:
o carinho
o cuidado
a pouca vontade de deixar
tudo de lado.
sobraram atos e fatos
consumados
conversas esquecidas e
não retomadas
devidamente não esclarecidas.
sobraram a censura
a falta do bom senso
a falta de enredo
de opiniões
de desapego ao antigo.
faltaram
a coragem para recomeçar
o carinho que devia continuar
e sobretudo
a vergonha por deixar
tudo acabar.
.
Vicente
.
.
.
"El Baile
Meus olhos se desencontram na paisagem interrompida. Não há continuidade, em nada, em lugar nenhum, senão no perfume que o ar transporta. Na íris que se desdobra sobre o dia. Estremeço, torpor e prazer impelindo-me a dançar entre os instantes fragmentados. E danço, porque isso faz levantar a poeira dourada das horas, e descobre movimento onde reinava a quietude inteira..."
.
.

13 junho 2007

DESCULPE, FOI ENGANO

o tempo rompido e cicatrizado
imprime louca cadência
em minha vida

e quando menos espero
já é tempo

de outro dia

já é aquele lugar
de desassossego
e lençóis amassados.

dalgum lugar repentino
a campainha rouca
abre espaços em meu sobressalto

de acordado sonambúlico
que tateia

em busca de um telefone mal instalado
à cabeceira.

após o “alô” de praxe
teimando em entender o que está acontecendo
do outro lado a voz

sobressaltada: “quem fala?”
após irresoluta indecisão afirmo
meio sem convicção:
“é o vicente...”

“desculpe
foi engano”

tumtumtum...

.

Vicente

.
Hoje não quero um texto bonito.Nem quero me preocupar com rimas ou concordâncias, só quero dizer que estou sentindo a sua falta.Horas já não são suficientes e a despedida se tornou insuportável.

.

Rosângela.

11 junho 2007

LENCINHO

era um lencinho branco
de algodãozinho vagabundo

irrisoriamente vagabundo
e barato
acrescentaria eu.

pois foi com ele que acenei
esfuziantemente
e ela me percebeu
no meio da multidão

retribuindo o aceno.

daí a importância
emprestada ao meu rico lencinho
que guardo qual tesouro
numa caixa
com naftalina.
.
.
Vicente
.
.

10 junho 2007

TARJA PRETA

minha trajetória
(acidentalmente)
acidentada
não me deixa esquecer
da falta que a sua (grave) voz
faz
aos meus ouvidos
já entediados
de tanta ausência
a pedir em mim
um remédio
controlado:
você.
.
.
Vicente
.
.
.
"E como em um passe de mágica suas palavras tomaram o lugar dos beijos e das carícias dele..."
.
Nanda
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06 junho 2007

CADÊ ALESSANDRO?!?

(BARILOCHE II)

não tem
horário de verão
por essas latitudes temperadas
a nos acusar
que daqui a pouco desaba a noite
(pelas cachoeiras do tempo.

parado à beira do nada
que antecede
a semi-escuridão vulgar
já me precavia dos efeitos do etílico
que (com certeza) viriam
quando
à queima-roupa me perguntam
em belíssimo espanhol se:
“usted es Alejandro?”.

ainda assustado
pela aparição de beleza
tão esguia
arrisco
meu envergonhado portunhol
e digo que “no”
e
tantas besteiras “más”.

...só quando rompia a manhã
estrangulando a madrugada decadente
demo-nos conta da incoerência do encontro
que nos levou a esquecer diferenças
de idiomas
para conferirmos
nossas línguas
simplesmente...
.
Vicente
.
.
.
"Sintonia
o poeta às vezes deixa o Poema escrever-se. o Poema às vezes deixa o poeta escreve-lo."
.
Wilson Guanais
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04 junho 2007

SONHO DA PELE

minha pele

sonha

seus toques morenos

repletos da imaginação

de

chuva

em dia de sol

de verão.

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Vicente

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" O futuro depende de muitas coisas, mas de apenas uma pessoa: você.

Não importa que se esconda, ou renegue sua face, em algum momento, a capa cairá.
A verdade, sempre surgirá!"

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Esyath Barret

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03 junho 2007

DEMORAS

demoro para entender palavras

intenções

eloqüências

que prenunciam conquistas

viagens para descobrir mundos

que estão em minhas mãos

... Cheias.

demoro para perceber olhares

e trocas

de gente que chega

e quer ficar

e espalha poesia

e que se sair

tem vontade de voltar

e se realmente vai

não demoro

a chorar.

.

.

.

Vicente

.

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02 junho 2007

EFEITO ESTUFA



que poente alaranjado
é esse
?
que se mostra em namoro
de enlaçar
vermelho com amarelo
?

são raios de sol

colorindo o fim do dia
?

são viagem
nos segredos
da prenhez
das noites de verão
?
ou

são reflexos de histórias
e desperdício
da poluição
?
.
.
Vicente
.
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Divido esse espectro
Em pigmentos
Do prisma o arco-íris
Preso num pedaço de velcro.
Vestígios
Que refletem na terceira margem
Minhas cores em harmonia
Extraindo no fundo os cristais
Que compoem a minha vida."
.
Rafaela Silva Santos
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