"Porque são doces poesias encontradas aqui por poetas, poetisas e simpatizantes. Venha, faça dessa doceria a sua casa preferida. Lugar de sonhos e belezas da alma. Este é o blog do Vicente, onde posta suas poesias desde o ano de 2003. E o blog continua ativo em 2025
02 dezembro 2019
PARECIA
Mas ansiava descobertas.
Trazia em si um coração
Que habitava em olhos.
E olhava longe, estando perto.
E por estar perto podia ser tocada.
Se era flor haveria de ser domesticada
E habitava em cheiros
E destilava polens
Todas as noites em que lançava
Suas raízes e caules
E se percebia seiva
E se alastrava galhos.
Se estava perto havia a liberdade
De ir e vir,
De se fazer sorrir
De decorar gestos
De se fazer em protestos
De desmanchar atitudes errantes
De se perder em questões de amantes.
Se era flor
Por que esse espinho
A ferir,
Se não era rosa?
Vicente Siqueira...
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"Liberdade é uma possibilidade de ser melhor, enquanto que escravidão é a certeza de ser pior... "
( Albert Camus)
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11 outubro 2019
ROCHA INTOCADA
Rocha Intocada
Eu sou rocha que ninguém
pisou.
Nem musgo, nem lodo,
nem a marca de um pé
errante.
Nenhuma bandeira fincada,
nenhuma história escrita
em mim.
Sou a dureza de um tempo
que não teve testemunhas.
A aspereza original,
o silêncio geológico
antes mesmo do eco.
Minha solitude não é
falta,
é essência.
Uma integridade de pedra,
onde a erosão
é só o tempo que se olha.
E mesmo assim,
sinto em mim o peso da
chuva que nunca caiu,
e a promessa de um sol
que me fará brilhar,
mesmo que para olhos
que nunca virão.
02 setembro 2019
PÁGINA EM BRANCO
Página em Branco
Não escrevi nenhuma
história.
Minha vida é um livro
de páginas lisas,
intocadas.
Nenhum enredo de aventura,
nem drama, nem riso alto.
As canetas secaram,
as palavras calaram
antes de virar tinta.
Sou o começo que não
explodiu,
o meio que não teceu,
o fim que nem chegou a ser
ponto.
Um rascunho de alma
sem linhas para preencher.
Mas talvez na ausência,
na tela vazia,
esteja a minha verdade.
A quietude de quem vive
sem precisar contar.
Onde a história é só o
sopro,
o ar que se respira,
e se dissipa sem deixar
vestígios.
11 julho 2019
A ETERNA SEDE DO VIAJANTE
A Eterna Sede do Viajante
Desde o orvalho na folha do campo até a fumaça densa nos bares da madrugada. Pelos becos estreitos onde a sombra se esconde, nas avenidas largas que engolem o horizonte. Nas praias onde a onda desfaz e refaz promessas.
Em todas as casas de paredes finas ou fortes, nas cavernas que guardam segredos primevos, nas palhoças frágeis erguidas contra o vento.
Por todo o tempo que foi, pelo tempo que é, e pelo tempo que virá, existirão, como sempre existiram, os seres.
Com a sede inextinguível nos olhos, com as mãos estendidas no vazio ou na pressa, com o coração batendo no ritmo de um anseio. Em busca de algo cujo nome escapa, uma verdade talvez, um refúgio, um sentido. Ou em busca de alguém, um olhar que compreenda, um toque que acalme, uma presença que preencha o espaço vasto da solidão.
Essa busca é a respiração secreta do mundo dentro de mim, o murmúrio constante sob o ruído dos dias. Ela atravessa paisagens e épocas, veste diferentes roupagens, mas a essência é a mesma: o ser eterno a procurar, a esperar, a estender-se rumo a algo ou alguém.
09 julho 2019
MUDEZ INTERIOR
Mudez Interior
Minhas palavras não têm
som.
Elas nascem e morrem
no avesso da garganta,
um grito mudo que só eu
entendo.
Não há eco,
nem melodia.
Apenas o silêncio denso
do que não se diz,
do que se desintegra antes
de tocar o ar.
São como ondas sem praia,
chuva que não atinge o
chão,
um sussurro que se perde
no próprio abismo.
E talvez seja melhor
assim.
Que elas habitem o
não-dito,
esse espaço secreto
onde a verdade não precisa
de voz para existir.
01 julho 2019
SEM SINAL, MAS SEM ESTRESSE
Sem sinal, mas sem estresse
O silêncio do chip, a tela escura,
Nenhuma barra, nada de frescura.
O mundo lá fora, um burburinho distante,
Aqui dentro, a paz, um instante constante.
Sem pings, sem likes, sem notificações,
A mente livre de mil tentações.
O ar puro entra, a brisa me toca,
A vida real, que a tela sufoca.
O passarinho canta, a flor se abre,
Detalhes que o online quase não sabe.
O livro na mão, a conversa sem pressa,
Sem sinal, sim, mas sem nenhum estresse.
Desconectar é preciso, é vital,
Para o coração, um sinal especial.
Ainda que o mundo corra em disparada,
A minha calma aqui não é alterada.
28 junho 2019
PÁGINA EM BRANCO
Página em Branco
Não escrevi nenhuma
história.
Minha vida é um livro
de páginas lisas,
intocadas.
Nenhum enredo de aventura,
nem drama, nem riso alto.
As canetas secaram,
as palavras calaram
antes de virar tinta.
Sou o começo que não
explodiu,
o meio que não teceu,
o fim que nem chegou a ser
ponto.
Um rascunho de alma
sem linhas para preencher.
Mas talvez na ausência,
na tela vazia,
esteja a minha verdade.
A quietude de quem vive
sem precisar contar.
Onde a história é só o
sopro,
o ar que se respira,
e se dissipa sem deixar
vestígios.
23 maio 2019
RUAS EM SILÊNCIO
Ruas em Silêncio
Quando a
cidade dorme
as ruas se fazem silêncio
um silêncio que fala
em vozes mansas e pausadas
não há
pressa nem barulho
apenas o sussurro do vazio
e o eco das lembranças
que ficaram no asfalto
essas
ruas silenciosas
guardam os segredos do dia
os passos que não ouvimos
e os sonhos que ainda vêm
é no
silêncio da rua
que encontro a paz oculta
a promessa de um novo
amanhecer
12 maio 2019
INFLAÇÃO - MONSTRO VORAZ
Inflação - Monstro Voraz
O pão na prateleira
Olha pra mim
Com um preço que era de ontem
Mas hoje
É o dobro
Ou mais.
O carrinho do mercado
Encolhe.
As marcas preferidas
Viraram luxo.
A gente faz conta
No corredor
Com a calculadora do celular
E a esperança minguando.
O salário?
Ah, o salário...
Um papel que derrete
Nas mãos.
Compra menos,
Vale menos,
A cada dia que passa.
O futuro fica turvo.
Os planos,
Aqueles pequenos sonhos
De uma viagem,
De uma reforma,
De um conforto a mais,
Adormecem.
Ou fogem.
A gente aperta o cinto.
De novo.
E de novo.
Até sentir o osso.
O dinheiro que não dá
É a conversa da esquina,
Do almoço,
Do fim do dia.
Inflação alta.
Não é só um número
Na notícia.
É a vida que encolhe
No prato,
No bolso,
Na alma da gente.
MONSTRO VORAZ
(Soneto sem fim)
E o troco some, vira pó no ar,
O que era certo, hoje é incerto assim,
O quilo do queijo, triste de pagar.
A feira murcha antes de chegar em casa,
O sonho de ter algo vai morrendo,
A cada novo dia, a vida escassa,
O bolso chora, a gente vai sofrendo.
A conta chega cruel, sem ter piedade,
O plano de poupar, vira miragem,
E o futuro incerto, sem claridade,
A vida aperta em cada nova passagem.
Assim a inflação, monstro voraz,
Consome a esperança, rouba a paz.
09 maio 2019
CENSORED
Censored
tanta batalha de ser contrário ao cérebro,
que insistia em afirmar:
não,
que o momento não se fazia preparado.
quedaram-se, então,
lábios e pensamentos
apressados em ânsias
de tanto se entregar
à procura dos arrepios,
dos movimentos desconexos,
dos prazeres da pele
— e do corpo mais profundo.
refeitos do susto causado
pelo encontro com o instante
de encantamento
e de louvor ao prazer,
quem passou a dar ordens
ao cérebro, antes tímido,
foram, a um só tempo,
lábios e mãos
que, despudorados,
não se permitiam censuras.
01 maio 2019
INSÔNIAS
INSÔNIAS
Escancarou-se
a boca da noite,
a engolir-me em seus
deprimentes silêncios,
estilhaçando cristais.
Seus
tentáculos sustentados
em minha garganta,
tirando-me a calma
e a alma.
Lá,
não-sei-onde,
o badalar de não-sei-quantas
horas a avisar-me
que se avizinhava a manhã,
doentia,
grávida de sol.
Não é o
tempo que não passa,
são os cães que não ladram,
as corujas que não piam,
o aquário que não borbulha,
(e os scotchs que não são mais
os mesmos,
definitivamente não são).
A cama se faz imensa,
mas o abandono me reclama,
enquanto o buscar solitário
da saciedade
ainda se refestela em mim,
em gotas que,
cristalinas,
despencam do chuveiro
reparador.
02 janeiro 2019
PERDAS E DANOS
PERDAS E DANOS
Ali há o sofá.
a sala é de espera
e o médico não chega.
sentados.
e você me olha
nos olhos
e meus olhos não querem perder
o seu olhar.
você me pergunta
qualquer coisa.
ou não?
e eu não identifico a pergunta
e peço que repita.
então desvio-me das suas retinas
e espero uma boa conversa,
um papo amigo.
mas:
“perdeu alguém parecida comigo?”.
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Vicente Siqueira
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"Só os poetas podem condensar a experiência humana, e isso não passa pelo intelectual.
(Fayga Ostrower)
