28 setembro 2008

CAVALEIRO ADIANTE

sou um ser solitário
e sem utilidade aparente
mergulhado
(armadura
escudo
espada)
no caos nosso
da modernidade.

minha lança ajaezada
flutua em busca
das minhas mãos
encharcadas de derrotas.
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Vicente
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02 setembro 2008

NAQUELE ESPELHO

ouvi um choro longínquo
refletido
naquele espelho que me encarava.

era o choro de alguém
que não estava ali
e não se identicava.
olhei um longo olhar de emoção fracionada
e os segundos se atropelavam aos milésimos
chegando às suas improváveis frações

quis sentir o descompasso daquele coração
as letras que sairiam daquelas mãos
as armaduras das palavras
o desfocar dos pensamentos.

tentei decifrar aquele eu
tão refletido
e me peguei introspectivo
sem entender a matéria
que preencheria aquela imagem
distorcida.

não havia frustração nem dor
nem tristeza
nem alegria

ocupei-me novamente
com o reflexo de choro
e percebi o espaço vazio
que havia em meu peito
desde que outro espelho trincou.
na verdade eu me transbordei
de um espelho
para conhecer outros reflexos.

agora
quem me conhece?

Vicente
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"Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens? "
(Guimarães Rosa)