08 novembro 2007

PELAS CALÇADAS

sozinhos.
alguns poucos momentos
de olhos nos olhos.
certamente muitas perguntas
caladas
esperando.
algumas perguntas exatas
com receio de explodirem.
mas nada
nada além de encontro.
exceto o encontro.

caminhando sem cobrança de ligar.
sem intenção de escrever.
sem números.
sem endereços.
é possível que seja sábado.
mas ninguém liga para datas.
.
.
Vicente
.
.

02 novembro 2007

TAMBÉM VOU SER POETA

também queria viajar
ir e ficar
em pasárgada (sei lá)
e pelo estatuto do poeta
tenho direito a pagar meia passagem
e o pagamento será feito em gramas de sonho.

rompendo as ânsias e lá chegando
tenho direito ainda
a fixar residência
onde bem me aprouver
desde que haja cachoeiras por perto
e libélulas gritem cantos
como cotovias
e sabiás saibam seus ninhos nas palmeiras
e que explodam girassóis
desde o mais tenro início de inverno
que não poderá ser
nem muito frio
nem muito distante.

não quero que haja reis
e sim princesas
e rainhas brotem aos cachos
como pingo-de-ouro
e se deixem ser amadas
por seus cavaleiros errantes
assim como eu.

e quando eu voltar às realidades daqui
quero ser reconhecido
pela minha eloquência embandeirada
e pela alcunha de
“poeta, o audaz”.
.
.
.
Vicente
.
.
"...No incessante trabalho da escuridão
remove quantidades cósmicas
de nada
para que tudo
seja revelado."

Marlos Drumond Villalba

.
.