04 fevereiro 2005

CAFÉ E LÁGRIMAS

e gira os olhos
em busca do pensamento.
vê ruas
repletas de sonhos
passando em companhia de pessoas.
outros olhos
visões
clarões.

peregrino
peregrina seu olhar
que se depara com o chão
que lhe foge.

calçadas e degraus
adentrando algum bar
algum café.
fumaças trafegam
em volta das narinas
como num qualquer ritual.

há fogo e água
cheiro e sabores.
ouvidos ao bar
atentam para as novidades.
ao lado se discute política
fala-se das últimas do futebol.

outras vozes
gestos
vidas.

Sente-se em falta consigo
ao derramar na xícara
algumas colheres de açúcar.
sorvendo em pequenos goles
o aroma inconfundível.
percebe pequenas mesas
repletas de pessoas.

suas mãos exalam
o cheiro fétido da nicotina.
olheiras percebem
o coração em desalinho.

outros amores
sonhos
tempos.
vai-se o tempo.
esvaindo-se
em palavras
e frases
mal escutadas
desconexas
sem alma
sem pó nem dó.

engole o café
às pressas.
ensaia um adeus
para a moça do caixa
e de novo o tráfego
de transeuntes
de pés
de gente
de coração.

em seus olhos trafegam
algumas lágrimas
prontamente reprimidas.
vai-se
pedestre obrigatório
pensamento no momento
no amor e na desilusão.
.
.
Vicente
.
.
.
"Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização"
(Martin Luther King).