18 março 2004

NADA MESMO

sem cautela
sem eira
(nem beira).

sem caneta
sem segundas intenções
sem careta
sem nada
que me escorra pelas mãos

nada na boca
nos ouvidos
ou vindos
ou idos
perdidos
paridos
achados
parados
perdição

sem causa
sem pressa
sem casa
sem razão

só assim
sim
simplesmente
sem sangue no coração

só a sorrir
só acho
só a chorar
só ir somente
sem mente
sem direção

sem alma
sem calma
sem corpo
sem gorjeio de pássaros
sem letra
sem canção

sem fome
sem apetite
sem prato
sem alface
nem feijão

sem carro
areia a mancheia
desktop
palmtop
pensamento
reflexão.

sem calendário
sem nada
nada mesmo
mas não tem NADA não.
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Vicente
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"Desconfia da tristeza de certos poetas. É uma tristeza profissional e tão suspeita como a exuberante alegria das coristas."
(Mario Quintana)